O círio pascal

D.R.

Quando, na vigília pascal, a luz do círio pascal entra na Igreja às escuras e começa a espalhar a sua luz pelas velas dos fiéis, em poucos minutos os rostos até então mergulhados na noite iluminam-se e a tristeza dá lugar à alegria. Escutamos por três vezes a aclamação: “A luz de Cristo” à qual respondemos: “Graças a Deus”. O círio pascal evoca assim Cristo Ressuscitado, Luz do mundo.

A preparação do círio pascal sempre me chamou a atenção. As palavras, os gestos, todo o ritual está cheio de significado.

Com um estilete, o celebrante grava no círio uma cruz e as letras gregas Alfa e Ómega, em cima e em baixo da cruz, respetivamente. Entre os braços da cruz, são escritos os quatro algarismos do ano corrente: dois, zero, dois, quatro. Conforme estes elementos são marcados no círio, o celebrante acompanha com as palavras: “Cristo, ontem e hoje / Princípio e fim / Alfa / e Ómega / a Ele pertence o tempo e a eternidade. / A Ele a glória e o poder / para sempre. Amen”.

Depois, introduzindo cinco grãos de incenso, o celebrante forma uma cruz dizendo: “1. Pelas suas chagas / 2. Santas e gloriosas, / 3. Nos proteja / 4. E nos guarde / 5. Cristo Senhor. Amen”. Após esse momento, o círio pascal é aceso com o lume novo enquanto o sacerdote diz: “A luz de Cristo gloriosamente ressuscitado nos dissipe as trevas do coração e do espírito”.

O Círio pascal aceso percorre a Igreja até ao altar como já referimos. Depois é colocado no candelabro e inicia-se a proclamação do precónio pascal, no ambão ou no púlpito, texto também conhecido como o “Exsultet”, que corresponde à primeira palavra do original latino que começa assim: “Exulte de alegria a multidão dos anjos”. Este texto, cujas origens remontam ao séc. IV, só foi definido pelo Papa Inocêncio III no séc. XIII.

Um dos candelabros pascais mais famosos da Igreja, encontra-se em Roma, na Basílica de São Paulo fora dos Muros. Uma obra imponente de 5,60 metros de altura, em mármore branco, esculpido por Pietro Vassalletto e Nicolò d’Angelo em 1170. Nele está inscrito em latim a afirmação: “Assim como a árvore dá frutos, eu trago luz e concedo dons, pois Cristo ressuscitou, eu anuncio a alegria e ofereço estes dons”. Entre as várias referências presentes nesse candelabro, destacam-se as cenas da paixão e ressurreição de Cristo.