Ao longo das últimas semanas, muito se tem falado do 25 de abril de 1974, “a data mais importante da história de Portugal”, segundo um estudo divulgado pelo jornal Expresso (19.4.2024).
Em relação à Diocese do Funchal, o 25 de abril coincidiu com a chegada de um novo bispo: D. Francisco Santana, nomeado pelo Papa Paulo VI a 18 de março de 1974. A ordenação episcopal realizou-se no mês seguinte em Lisboa e a sua entrada na diocese ocorreu a 12 de maio de 1974, na Sé do Funchal.
Os jornais regionais da época dão conta da ação pastoral do novo bispo, mas também das tensões sociais próprias de um tempo revolucionário.
Em junho de 74, participou no Encontro Diocesano de Leigos. Estes pediam transformações nas paróquias para que pudessem ser “comunidades vivas”, ao invés de “instituições tradicionais sem significado”. Sugeriam também que os párocos fossem nomeados com a consulta aos cristãos e que se modificasse o estilo das homilias pois “a doutrina cristã estava divorciada da vida”. Nesse encontro afirmou-se a luta contra as injustiças socias, a criação de um centro para estudos dos problemas sociais, assim como a necessidade de analisar “a influência negativa do tipo de fé tradicionalista, apoiada por muitos padres”.
Para defender a diocese das interpelações suscitadas pela revolução de abril, D. Francisco Santana procurou congregar os jovens, criando dois movimentos juvenis: os Jovens Cristãos da Madeira (JCM), fundado a 19 de outubro de 74 e o Movimento dos Estudantes Católicos Madeirenses (MECM), nascido a 6 de novembro de 74.
Por parte da sociedade civil, uma das situações mais conflituosas deu-se com a ocupação do Seminário Menor do Funchal (Seminário da Encarnação), no dia 30 de outubro de 1974, por um grupo de estudantes que procurava solução para a falta de salas que impedia o início das aulas no Liceu, argumentando que o edifício da diocese estava vago.
São também de assinalar alguns confrontos internos com sacerdotes e paróquias: “Também Francisco Santana liderou a oposição a novas ideias, no interior da Igreja, quer de padres, como Agostinho Jardim Gonçalves e Martins Júnior, quer de paróquias, como a Ribeira Seca”, regista Bernardo Martins na sua obra apresentada sábado passado, “O ‘25 de abril’ na Madeira. Tensões sociais e políticas em 1974-75 à luz da imprensa regional”.
[atualizado a 21.04.2024 às 13:30h]