Cristo Rei: Bispo do Funchal exorta cristãos a construir sociedade que “assegure uma relação de proximidade, de unidade e de respeito”

O prelado felicitou as Conferências de São Vicente de Paulo pelo trabalho que fazem em várias paróquias, especialmente junto daqueles a quem chamou os pobres “ocultos”.

D. António Carrilho presidiu à Eucaristia junto ao monumento de Cristo Rei (Garajau) | Foto: Duarte Gomes

No dia litúrgico próprio, o Conselho Central do Funchal da Sociedade de São Vicente de Paulo voltou a organizar, em colaboração com a Conferência Vicentina de Santo Antão e com a Paróquia do Caniço, a habitual peregrinação ao monumento a Cristo Rei, no Garajau.

No final da jornada teve lugar a celebração eucarística, que foi presidida pelo bispo do Funchal e concelebrada por vários sacerdotes e na qual participaram inúmeros peregrinos, vindos das mais diversas paróquias da Diocese. Peregrinos a quem D. António Carrilho saudou “com muita alegria, amizade e fé”, lembrando que aquele era um momento de reencontro de fiéis que ali vão celebrar o Dia de Cristo Rei, o qual “ganhou uma tradição muito forte junto das Conferências Vicentinas da nossa Diocese” e não só. Saudou também os sacerdotes presentes, que “representam os que não puderam vir”, já que são muitos os que têm “um contato direto com as Conferências Vicentinas” nas suas paróquias.

Na homilia, o bispo do Funchal começou por referir que a mensagem do dia de Cristo Rei, celebrado em toda a Igreja, é sempre a mesma. O que muda, frisou, é a forma como “pomos em prática” essa mensagem, ou seja, “aquilo que o Evangelho nos propõe”.

Lembrando São João Evangelista quando este, “já velhinho e sem poder comunicar”, repetia “filhinhos, amai-vos uns aos outros”, o prelado explicou que uma das formas de passar da mensagem à prática é assumir “uma atitude de fraternidade” e reconhecer que “o essencial, na nossa vida de Cristãos, está, efetivamente, no amor com que nos relacionamos, no amor caridade que somos capazes de assumir e de transmitir”.

Referindo-se à palavra proclamada, D. António diz que ela traduz “um convite a pôr os olhos em Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei e Senhor do universo, de tudo e de todos”. Ele que, sem palácios nem grandes riquezas, “se apresenta com a grande missão de, pelo seu sangue e como se dizia na Leitura do Apocalipse, nos libertar do pecado, fazendo de nós esta grande família”. Uma família que deve “estar unida” e sobretudo “empenhada na construção de uma sociedade que seja mais humana, mais fraterna e que assegure uma relação de proximidade, de unidade e de respeito”, em vez de fomentar atitudes individualistas, “desrespeitando, por vezes em violência, em destruição e em guerra, aquele que é valor da pessoa humana”.

D. António lembrou ainda que, tal como refere tantas vezes o Santo Padre, os pobres de hoje já não são apenas aqueles que têm falta de pão ou de abrigo, mas são também os refugiados e todos “aqueles que de  alguma maneira se vêem em aflição”. É junto desses, disse, que temos de atuar, sem esquecer aqueles que continuam a existir, mas que estão “ocultos nas suas próprias casas e no seu estilo de vida”.

É aqui que as Conferências de São Vicente de Paulo, cujo trabalho o bispo diocesano felicitou, têm um papel fundamental. “Por essa diocese fora, em 40 paróquias, os seus grupos não só rezam, mas preocupam-se em visitar, em comunicar e em transmitir alguma coisa, assim na simplicidade e alegria aos ocultos”. Um trabalho que é feito, também ele, “sem dar nas vistas”, procurando ser “presença de amor, presença de ajuda, mas sem bandeira e sem vir para a comunicação social para que todos saibam o que se faz aqui, ali ou acolá”.

“O amor fraterno, o amor serviço, o amor atento, o ir ao encontro daquilo que são necessidades reais e concretas, faça-se de que modo se  fizer, têm sempre esta marca de um amor disponível e serviçal”, que não se faz “para dar nas vistas ou para recolher louvores ou para sermos realmente apreciados”, reforçou D. António.

E é assim que os Vicentinos atuam. ”Numa relação de proximidade que se vai construindo”, sem dar nas vistas, até porque “o amor está no coração, está no íntimo”. E “a relação de uns com os outros, quando é assim, não se vê mas existe e é mais profunda”.

De resto, neste Ano Pastoral com o lema “Ser Cristão, Viver em Missão”, esta missão do amor é “a grande expressão do ser cristão”, disse D. António, para logo acrescentar que “temos de fazer esforços para que a nossa vida se torne aquilo que marca o Reino de Cristo”, um reino “eterno e universal”, de “verdade e de vida” de “justiça, de amor e de paz”. Apesar de ser o primeiro a reconhecer que estas são “palavras fáceis de dizer, mas difíceis de pôr em prática”, o prelado adiantou que “não é uma questão de dar uma ajudinha ou uma esmola, nesta ou naquela circunstância”. Na verdade, temos de “ir mais além e na linha do que nos é exigido, porque o amor é a coroa de tudo o que são as virtudes a praticar e expressar”, até porque queremos “santidade”, que tem “uma dupla marca: uma relação de profunda comunhão e de amor a Deus, de profunda comunhão e de amor aos nossos irmãos”.

No final da celebração coube ao Pe. Gil agradecer, em nome das Conferências de São Vicente de Paulo, “a todos quantos partilharam desta reunião fraterna, no amor, na esperança e na caridade”. Agradeceu também ao grupo de jovens que animou a Eucaristia, aos sacerdotes presentes e ao Bispo do Funchal, que com a sua presença mostra “a sua solicitude pastoral pela caridade diocesana”.

O Pe. Rui Pontes, pároco do Caniço, por sua vez, agradeceu às várias instituições públicas que colaboraram para que esta celebração fosse possível, nomeadamente à Câmara e à Junta que cederam o palco e trataram do som.