Misericórdia da Calheta celebrou 490 anos sob o símbolo do amparo e da união

Foto: Duarte Gomes

A Santa Casa da Misericórdia da Calheta assinalou esta terça-feira, dia 7 de outubro, os 490 anos da sua fundação. As comemorações lembraram o início da instituição em 1535, com a integração do antigo Hospital de Santo André, localizado na Vila Nova da Calheta, no património da então recém-criada Misericórdia. Desde então, a instituição tem desempenhado um papel fundamental na saúde e na ação social da região.

A cerimónia evocativa da data contou com a presença de várias entidades regionais e locais, entre elas a Presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, Rubina Leal, o Bispo do Funchal, D. Nuno Brás, a Secretária Regional da Inclusão e Juventude, Paula Margarido, o Provedor da Santa Casa, Mário Nunes, e o Presidente da Câmara Municipal da Calheta, Carlos Teles.

Durante a sessão, o Bispo do Funchal recordou a origem espiritual das Misericórdias, instituídas sob a invocação de Nossa Senhora das Misericórdias, símbolo que representa a proteção e o acolhimento de toda a sociedade sob o seu manto.

“A imagem de Nossa Senhora das Misericórdias é profundamente significativa: debaixo do seu manto estão Papas e Bispos, Imperadores e Reis, Fidalgos, Comerciantes, Pobres e os mais pobres — todos unidos”, afirmou D. Nuno Brás, sublinhando o carácter universal e inclusivo da missão das Santas Casas.

O prelado lembrou que a missão das Misericórdias vai além do apoio aos necessitados: “As Santas Casas fazem o bem a quem precisa, mas também a quem dá. Porque fazer o bem, faz bem.”

D. Nuno Brás encerrou desejando que “daqui a dez anos estejamos juntos a celebrar os 500 anos da Misericórdia da Calheta, sempre como esta imagem viva de Nossa Senhora que acolhe e entusiasma todos, isto é, aqueles que fazem o bem e aqueles a quem o bem é feito.”

Foto: Duarte Gomes

Instituição aberta

O provedor Mário Nunes destacou, por seu lado, a evolução histórica da Santa Casa e o contributo da população para o seu crescimento. Recordou a reconstrução do edifício nos anos 50 do século XX, a inauguração do Hospital Regional da Calheta no final da década de 60 — hoje Centro de Saúde da Calheta, requalificado em 2020 — e as mais recentes obras de remodelação e ampliação do Lar Nossa Senhora da Estrela, concluídas em maio de 2024.

“A Santa Casa sempre esteve atenta e em ligação direta com a população, respondendo às suas necessidades na saúde e na área social”, afirmou.

Atualmente, a instituição apoia cerca de 300 idosos através do apoio domiciliário, fornece refeições diárias a 100 pessoas e acolhe 100 residentes nos seus lares.

O provedor destacou ainda o acordo de cooperação com a Segurança Social, celebrado em setembro, que permitiu o preenchimento de 12 novas vagas no Lar Nossa Senhora da Estrela, recebendo utentes em alta clínica.

“As comparticipações recebidas do Instituto de Segurança Social da Madeira não são subsídios, mas compensações pelos serviços prestados à população mais desprotegida da Calheta”, esclareceu.

Mário Nunes apontou ainda os desafios do futuro, como o aumento da lista de espera para vagas em lares — que passou de 50 para mais de 60 pedidos — e a necessidade de novos projetos que mantenham a sustentabilidade de uma instituição com 180 trabalhadores.

A cerimónia encerrou com um convite à comunidade para um concerto promovido pela Associação de Bandolins da Madeira, no auditório da instituição.

“A Santa Casa não é uma instituição fechada. Está sempre disponível para colaborar com iniciativas que promovam o bem-estar da população e o desenvolvimento da Calheta”, concluiu.

Foto: Duarte Gomes

Instituições sustentáveis

A presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, Rubina Leal, sublinhou a importância de refletir sobre o futuro das instituições sociais e o papel decisivo da coesão comunitária.

“Se celebramos hoje 490 anos de história, devemos sobretudo refletir no futuro”, afirmou, lembrando que a qualidade dos cuidados “não pode ser dada como adquirida”.

Defendeu que a sustentabilidade é um desafio “não apenas financeiro, mas também organizacional”, exigindo atração de recursos humanos qualificados, inovação tecnológica e metodologias de gestão modernas.

“Só com instituições sustentáveis e inovadoras conseguiremos assegurar que o modelo de solidariedade que herdámos não apenas se mantém, mas se projeta no futuro.”

A presidente do Parlamento madeirense lembrou ainda os desafios do envelhecimento populacional:

“Na Madeira temos atualmente 179 idosos por cada 100 jovens. São 55,3 mil pessoas com 65 ou mais anos e mais de 12 mil que vivem sozinhas.”

E concluiu defendendo “uma articulação perfeita entre o setor solidário e o setor da saúde” para enfrentar os desafios do envelhecimento e da solidão.

Foto: Duarte Gomes

Pilar de solidariedade

A Secretária Regional da Inclusão e Juventude, Paula Margarido, enalteceu o papel essencial da instituição, considerando a Misericórdia da Calheta “um pilar de solidariedade que há quase meio milénio marca a história social, cultural e comunitária da Calheta”.

“A Misericórdia é um farol de esperança para quem mais precisa e continua viva e próxima, com respostas que dignificam vidas.”

A governante destacou as várias estruturas da instituição — lares Nossa Senhora da Estrela (58 camas) e Nossa Senhora da Conceição (26 camas), centro de convívio com 35 utentes, centro comunitário de Lameiros e serviço de apoio domiciliário com 120 refeições diárias.

Referiu ainda a parceria com o Centro de Saúde da Calheta, instalado no mesmo edifício, “um verdadeiro mini-hospital funcional”, e elogiou a coragem da instituição ao investir, com recursos próprios, na remodelação do Lar Nossa Senhora da Estrela.

“Foi um momento difícil, mas encontrámos aqui o parceiro certo”, afirmou, referindo-se à colaboração com a Segurança Social para acolher utentes em alta clínica.

Foto: Duarte Gomes

Parceiro fundamental da autarquia

O Presidente da Câmara da Calheta, Carlos Teles, destacou a importância da Santa Casa na área social e a cooperação exemplar com o município.

“É uma honra poder deixar algumas palavras de agradecimento à Santa Casa, pela colaboração com a Câmara Municipal da Calheta. Essa colaboração tem sido recíproca e exemplar, num trabalho conjunto que muito tem contribuído para a valorização da área social do concelho.”

O autarca felicitou a instituição pela sua capacidade de modernização e evolução, sublinhando que a Misericórdia é “um parceiro fundamental e um motivo de orgulho para todos os calhetenses”.

“A grandeza social desta Casa deve-se também a todos aqueles que, diariamente, dão o seu melhor ao serviço da comunidade”, concluiu.