Palmitos

Foto: Câmara Municipal do Porto Santo

Os palmitos apresentados pelos fiéis para serem benzidos no Domingo de Ramos, ritual que celebra a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, são expressão de fé e manifestação de arte e cultura. 

Em Itália, essas obras são chamadas de “parmureli” e remontam ao ano de 1586, quando o Papa Sisto V decidiu colocar no centro da Praça de São Pedro o obelisco egípcio de 25 metros e 350 toneladas, trazido a Roma pelo imperador Calígula em 39 d.C. O monumento, após séculos esquecido nos jardins do Vaticano, exigiu um esforço monumental para ser movido. Durante a operação, o marinheiro Benedetto Bresca, de San Remo, gritou “água nas cordas!” para evitar que as cordas se rompessem. Agradecido, o Papa concedeu ao marinheiro o privilégio de fornecer folhas de palmeiras da Ligúria para as celebrações do Domingo de Ramos. Até aos dias de hoje, artesãos de Bordighera e San Remo mantêm viva a tradição, enviando “parmureli” ao Vaticano. 

Na cidade de Elche, em Espanha, encontra-se o maior bosque de palmeiras da Europa, declarado em 2000, Património da Humanidade pela UNESCO. Nessa localidade a tradição de entrelaçar folhas de palmeiras está registada desde o século XIV. As palmas brancas, elaboradas com técnicas artesanais, transmitidas de geração em geração, formam uma das procissões mais emblemáticas a nível mundial. 

Em Portugal, destaca-se Viana do Castelo, onde existe a tradição dos afilhados oferecerem às madrinhas um palmito de palma no Domingo de Ramos. Já os mordomos da cruz, responsáveis pelo compasso pascal, oferecem um palmito às autoridades civis, religiosas e sociais. 

Entre nós, cumprido o rito religioso, o palmito é guardado em casa para proteção divina. No Porto Santo, em dias de ventania e tempestade, as pessoas costumavam queimar um palmito e lançar as suas cinzas ao vento, acompanhadas de orações a Santa Bárbara. A prática abrandava o vento e afastava os trovões. Outra crença popular refere que “as cinzas do palmito juntamente com um pouco de azeite da lâmpada do Santíssimo Sacramento, deitadas ao mar, fá-lo acalmar” (Revista Folclore,  julho 1996) 

Práticas semelhantes são descritas na ilha italiana de Sardenha, onde os ramos de palma e de oliveira protegem contra males físicos e espirituais, particularmente usadas em antigas embarcações de pesca contruídas com canas. 

Em diversas localidades, as cinzas utilizadas na celebração de Quarta-Feira de Cinzas são feitas a partir dos palmitos do ano anterior.