Rios de informações sobrecarregam as pessoas com fatores ansiógenos que acabam por criar a atual sociedade de ansiosos, por vezes, em pânico. Estudiosos de saúde mental alertam para esta pandemia. É difícil enumerar todos os seus fatores associados de ansiedade, depressão e solidão. A enchente de informação tóxica afeta a saúde geral e mental. Nunca na História terá havido tanta informação, pessoal e impessoal, carregada de pressas por relógios escravizadores, subtis. Nas crises do “25 de abril”, há cinquenta anos, o slogan era “tudo e já´” daquilo que Salazar teria tirado. Agora é “tudo e já à velocidade da Internet”. Muitas redes sociais fornecem informações e pseudoinformações instantâneas, sem intermediários, à distância, e sem possibilidade de verificação. Não se conhece de onde vêm e não se podem esclarecer as dúvidas com relações empáticas. E, pior ainda, muitos ninguéns querem impingir compras inúteis e roubar tempo e bens. Todos estes fatores geram insegurança e medo. As mensagens, verdadeiras ou falsas, pressionam os recetores a agir de pressa para não perder supostos prémios e tesouros fugazes se outros chegarem primeiro. O marxismo e os fascismos prometiam, e continua a prometer em versões extremistas de rótulos religiosos falsos, o céu na terra, à custa da morte dos que a fantasia considera que se apoderaram dele e o estão a gozar sem dar nada. “Comem tudo, comem tudo e não deixam nada”, como nos “vampiros” cantava Zeca Afonso. As guerras difusas, marxisto-jiadista-populistas e as invasões migratórias de fugitivos clamam: queremos o vosso paraíso para nós, já. Alguns dos paraísos prometidos nos países de suposta abundância paga-se a preço de tudo o que se tem. Esse desejo de agarrar a felicidade, à custa de tudo, leva milhares a sofrer de mais medos, ansiedade e a perder a vida. Os paraísos ansiados misturam-se, como sempre se misturaram, com muitas injustiças, mentiras, subornos e extorsões à velocidade da luz.
Mais dramático ainda: as promessas tornam-se fatores em que a ansiedade se associa a obsessões de dependência e frustrações infernais. Aumenta a ansiedade obsessiva que desregula e desliga os sistemas cerebrais inerentes à defesa da saúde mental. Basta pensar que muitas pessoas deixam de dormir para estar ligadas ansiosamente a conteúdos de que não conseguem desprender-se. Entram em stresse e multiplicam o mal-estar e o esgotamento que procuram acalmar com sedativos, tóxicos, drogas, álcool e jogos de azar. Numa palavra, os excessos não curam a ansiedade, a depressão e solidão; não acalmam, nem dão paz. Mesmo os alimentos, modas, cursos, tornam-se tóxicos pelas ânsias de comprar, consumir em excesso e agitação ativista. As pessoas preocupam-se imenso, mas não se ocupam com agrado. Param para descansar, mas não repousam. E as que ainda funcionam com algum equilíbrio esgotam-se em burnout e espicaçam os infelizes para conseguir tudo mais depressa. Uma sociedade de mentes e corações cansados! Tudo explorado pelo mercado ultra liberalista.
Haverá padrões de pessoas ansiosas? Pessoas depressivas? Pessoas afetadas de medos e fobias sociais? Haverá, mas enquanto há uns anos os manuais de personalidade, caracterologia e de psicopatologia se inclinavam mais para aplicar rótulos patológicos, sem apelo, a desvios comportamentais, atualmente a complexidade de fatores cerebrais e sociais leva os investigadores a mais cautela e a focar mais os aspetos positivos das pessoas e a nivelá-las com a população mainstream (a da norma do maior número), talvez, reduzindo o rigor científico. Consideram-se os comportamentos desviados imputáveis (com mais culpa), sem se aceitar tanto as atenuantes das patologias como antes. Não se estará a deslizar para atitudes mais impiedosas e wokistas (vingativas) em relação a alguns padrões? De toda a maneira, os livros que vendem mais são os de rótulos patológicos, como por exemplo, os de “sociedade ansiosa”, do “homem light”, “sociedade do cansaço”, “sociedade depressiva”, “os dependentes e aditos”, “os abusadores”, etc. Rótulos que assumem generalizações incorretas, a grande falácia do pensar atual: alguns são assim, logo todos são assim, e aplica-se a todos os de cada religião, a começar pelos católicos, a todos os ricos, a todos os pobres, etc., numa lógica de caça às bruxas e alvos ideológicos.
E que outros fatores determinantes em campo? As relações e a empatia entre pessoas significativas limitam-se a encontros de meias palavras, frios, mecânicos, medrosos de grande solidão. Estas relações afetam a saúde como estado de harmonia relacional do dentro com o fora das pessoas e suas relações. Não estaremos a começar a viver numa sociedade de engrenagens em desertos de fria solidão com ruídos persecutórios à volta?
A preparação para os Jubileus da Incarnação e Redenção (2025 e 2033) pede que se caminhe em Esperança, mas como é possível viver na esperança num mundo em que as pessoas são bombardeadas por notícias de tantas calamidades, inundações, calores escaldantes, guerras, fomes, milhões de deslocados em fuga de tantas ameaças e perseguições? Como construir oásis de paz, oração, confiança e esperança duradoira para além da morte?
S. Francisco de Assis patrono do respeito pela natureza, do alerta contra a artificialidade efémera dos paraísos imediatos, exemplo de fé, confiança e esperança no Pai celeste e não no paraíso da riqueza do pai terreno, pode ensinar a caminhar na verdadeira esperança, rumo à Redenção ressuscitadora de Jesus nosso Irmão, e não apenas a chamar “irmãos” aos animais.