Questões de lógica

D.R.

Não existe ninguém que não viva segundo uma determinada lógica, quer dizer: sem um conjunto de razões que orientem as suas escolhas, as suas atitudes e reações diante de toda a realidade — até porque viver “sem lógica”, de um modo anárquico, é também uma “escolha de lógica”.

Habitualmente, os evangelhos apresentam em confronto duas grandes lógicas: a lógica do mundo e a lógica de Deus. Fomos confrontados com elas nas leituras dos dois últimos domingos. 

Há duas semanas, era Pedro: tinha acabado de realizar a melhor, mais exacta e, ao mesmo tempo, mais curta e profunda profissão de fé sobre Jesus (“Tu és o Messias”); mas foi incapaz de perceber a “lógica da cruz” — para ele, o Messias tinha que ser vitorioso como são vitoriosos os homens que se impõem pelo seu poder, a sua força, a sua sabedoria. A resposta de Jesus foi dura: “Afasta-te de mim, Satanás; não queres os interesses de Deus mas dos homens”.

Na semana passada foram todos os discípulos. Jesus tinha acabado de realizar mais um anúncio da Sua Paixão e Ressurreição. E logo os discípulos se puseram a discutir acerca de quem era o maior entre eles. Não tinham percebido nada. Então, Jesus colocou uma criança — um ser frágil e sem direitos — no meio do círculo dos discípulos, e identificou-se com ela, abraçando-a: “O maior seja o servo”.

São lógicas bem diferentes, a lógica de Deus e a lógica habitual com que o mundo vive. 

A lógica de Deus é bem mais exigente. Mas sabemos onde vai terminar a lógica do mundo — aí estão as guerras para o mostrar. E sabemos igualmente como termina aquele que abraça a lógica de Jesus: crucificado no primeiro momento — se não num madeiro, ao menos nas palavras da praça pública (que hoje se chamam blogs, redes sociais, ou outros media teoricamente mais respeitáveis)… Para, finalmente, ser ressuscitado com Cristo. Como nos é difícil abraçar a lógica de Deus!