Do sono a dormitar saem sonhos e pesadelos
De becos e tortas veredas, negros sonhos.
Cruel inferno em abismo a golpes de martelos?
A nadar em gritos vis, cavernosos e medonhos?
Sorte quando pavor passa a sonhos de visão
De surpresa, luz, gozo e feliz descoberta
Labor de arte, ação mental e coração
Porta de transcender para a cena aberta:
Mar de sonhos mil de além tempo voador
Para lá da fria tecno, massas leves e pesadas,
A nadar em subtis energias e brisa indolor
De Espírito sublime a soprar manhãs aladas
Não é mar abissal ou alta serra enevoada
De sonhos ensonados e êxtases dormidos
Que acordam para o mesmo instante do nada:
É gozo de realidade singular sem gemidos
De não se sabe de quem ao ser-eu oferecida
Em instante que se faz memória sem fim;
E de aragem suave eternidade apetecida.
Quem dera que tais sonhos subam mais, enfim!
Espirituais e reais, aqui e fora deste mundo
Sonhos que batem à porta de todos os Orfeus
Em universo sem medida de alcance profundo
A pedir para ser sonhados por todos os Eus.
Mais que sonhos ansiados, de alto azul e desilusão,
São sonhos de luz, real plenitude e sublime paga
Criam sede de descanso e paz ao humano coração
Que o Hiponense afirma que só o Criador apaga.
Poema inserido na «Antologia de Poesia Portuguesa», “Entre o Sono e o Sonho – Vol. XVI” da Chiado Books, a lançar em breve.