«Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado». Com este versículo extraído do 9° Capítulo do Livro do Profeta Isaías, o Papa Francisco iniciou sua homilia na missa por ele celebrada na Esplanada de Taçi Tolu, em Díli, Timor-Leste, nesta terça-feira (10/09), no âmbito de sua 45ª Viagem Apostólica Internacional.
Com essas palavras, “o profeta Isaías se dirige aos habitantes de Jerusalém, numa época próspera para a cidade, mas infelizmente caracterizada por uma grande decadência moral”.
“Há muita riqueza, porém o bem-estar cega os poderosos, iludindo-os com a ideia de serem autossuficientes, de não precisarem do Senhor, e a sua presunção leva-os a ser egoístas e injustos.”
É por isso que, apesar de haver tantos bens, os pobres são abandonados e passam fome, a infidelidade alastra e a prática religiosa se reduz, cada vez mais, a mera formalidade. A fachada enganadora de um mundo, à primeira vista perfeito, esconde assim uma realidade mais sombria, mais dura e cruel, com necessidade de conversão, misericórdia e cura.
“Por isso, o profeta anuncia aos seus concidadãos que Deus abrirá diante deles um novo horizonte: um futuro de esperança e alegria, do qual serão banidas para sempre a opressão e a guerra. Fará brilhar para eles uma grande luz que os libertará das trevas do pecado que oprime; e não o fará com a força de exércitos, armas e riquezas, mas com o dom de um filho”, disse ainda o Papa, refletindo sobre esta imagem: Deus faz brilhar a sua luz salvadora através do dom de um filho.
A proximidade de Deus se manifesta através de uma criança
“Em todas as partes do mundo, o nascimento de uma criança é um momento luminoso de alegria e festa, que infunde em todos bons desejos de renovação no bem, de regresso à pureza e à simplicidade. Diante de um recém-nascido, até o coração mais duro se acalenta e enche de ternura. A fragilidade de uma criança traz consigo uma mensagem tão forte que toca até as almas mais endurecidas, trazendo de volta propósitos de harmonia e serenidade. É maravilhoso o que acontece com o nascimento de uma criança”, sublinhou.
Segundo o Papa, “a proximidade de Deus se manifesta através de uma criança. Deus se torna uma criança não apenas para nos maravilharmos e comovermos, mas é também para nos abrirmos ao amor do Pai e nos deixarmos moldar por Ele, para que possa curar as nossas feridas, recompor os nossos desentendimentos, pôr ordem na nossa existência”.
Timor-Leste é bonito porque tem muitas crianças: sois um país jovem onde por todo o lado se sente a vida a pulsar, a desabrochar. E isso é um grande dom: a presença de tantos jovens e crianças renova constantemente a nossa energia e nossa vida.
“Mas, mais ainda, trata-se de um sinal, porque dar espaço aos mais pequenos, acolhê-los, cuidar deles, e fazermo-nos pequenos diante de Deus e diante uns dos outros, são precisamente as atitudes que nos abrem à ação do Senhor.”
Não ter medo de redimensionar os nossos projetos
De acordo com Francisco, “fazendo-nos crianças, permitimos a ação de Deus em nós. Hoje, veneramos Nossa Senhora como Rainha, isto é, a mãe de um Rei, Jesus, que quis nascer pequeno, se fazer nosso irmão, pedindo o “sim” de uma jovem humilde e frágil”.
“Por isso, queridos irmãos e irmãs, não tenhamos medo de nos tornarmos pequenos diante de Deus e uns dos outros, não tenhamos medo de perder a nossa vida, de dar o nosso tempo, de rever os nossos programas e redimensionar os nossos projetos quando for necessário, não para os diminuir, mas para os tornar ainda mais belos através do dom de nós mesmos e do acolhimento dos outros.”
Segundo o Papa, “a verdadeira realeza é a de quem dá a vida por amor: como Maria, e como Jesus, que na cruz deu tudo, fazendo-se pequeno, indefeso, fraco, para dar lugar a cada um de nós no Reino do Pai. Tudo isto é simbolizado muito bem por dois belíssimos adornos tradicionais desta terra: o Kaibauk e o Belak, força e ternura do Pai e da Mãe. Assim o Senhor manifesta a sua realeza, feita de caridade e misericórdia”.
Francisco concluiu, convidando cada um enquanto homem e mulher, enquanto Igreja e sociedade, a pedir “a sabedoria de refletir no mundo a luz forte e terna do Deus de amor, daquele Deus que, como rezamos no Salmo responsorial, «levanta do pó o indigente e tira o pobre da miséria, para o fazer sentar entre os grandes»”.
Mariangela Jaguraba – Vatican News