“Vocês, que em Papua têm mais de 800 línguas, têm uma linguagem comum, que é o idioma do amor, o idioma do serviço”. Com estas palavras, o Papa Francisco se dirigiu aos jovens reunidos no Estádio Sir John Guise, em Port Moresby, durante sua 45ª Viagem Apostólica à Ásia e Oceania. O Papa deixou de lado o discurso que tinha preparado para o encontro, preferindo falar diretamente com os jovens presentes.
Encontro com os jovens no Estádio Sir John Guise, em Port Moresby
Dom John Bosco e os desafios dos jovens no país
Após uma dança de boas-vindas realizada por um grupo de jovens vestidos com trajes tradicionais, dom John Bosco Auram, bispo de Kimbe e delegado para os jovens, saudou o Pontífice, e lembrou que o maior desafio para os jovens é “descobrir Cristo em meio a realidade” que os leva a enfrentar questões profundas, como a vivência dos valores cristãos na família e na sociedade, as oportunidades limitadas de crescimento e desenvolvimento, e as frustrações derivadas das expectativas não atendidas pela sociedade, pelo governo e até pela Igreja.
“Ilhas de Esperança”
Em seguinda, o encontro contou com a apresentação musical “Ilhas de Esperança”, na qual quatro jovens de Papua Nova Guiné e das Ilhas Salomão demonstraram seu compromisso com a construção de um futuro “com sorrisos de esperança”. Cada um deles focou em um aspecto da vida: a importância da família, a proteção do meio ambiente, a valorização da cultura local e o apoio à educação. No final da apresentação, um forte apelo: “os jovens não são apenas os líderes de amanhã, mas os criadores da mudança de hoje”.
Apresentação musical “Ilhas de Esperança”
Os testemunhos dos representantes juvenis
Após a apresentação, três jovens deram seus testemunhos. Patricia Harricknen-Korpok, da Associação de Profissionais Católicos, falou sobre as dificuldades de testemunhar a fé e a moral católica em uma sociedade influenciada pelas indústrias do esporte, do entretenimento, das redes sociais e da tecnologia, que competem com muitos valores e crenças religiosas. Apesar disso, Patricia destacou que os jovens profissionais de Papua Nova Guiné lutam “pelo bem comum e pelo bem-estar do nosso povo, especialmente daqueles que não têm voz ou estão à margem da sociedade”.
Em seguida, Ryan Vulum relatou sua experiência de infância em uma família dividida, afirmando que a Igreja “se tornou um refúgio”. Ele destacou a dificuldade que muitos jovens enfrentam para se comunicar com pais separados, o que frequentemente os leva ao uso de substâncias nocivas, a atividades ilegais e à perda de esperança. Ryan incentivou os casais católicos a perseverarem no sacramento do matrimônio para criar famílias fortes e garantir que os jovens se sintam seguros.
A jovem Bernadette Turmoni saúda o Papa após seu testemunho
Por fim, Bernadette Turmoni, jovem membro da Legião de Maria, falou sobre o drama dos abusos familiares que destroem a vida de muitos jovens, levando-os a perder a esperança e, em alguns casos, ao suicídio. A jovem também abordou o problema da pobreza crescente, que impede muitos jovens de concluírem seus estudos e os leva a atividades ilegais para sobreviver. Ela encontrou na Exortação Apostólica Christus Vivit uma resposta: “Deus está sempre vivo e, por isso, nós também devemos estar vivos”. Bernadette concluiu com uma mensagem de esperança, pois, apesar das dificuldades, “eu não tenho nada: Deus é tudo.”
“Enfrentar o futuro com sorrisos de esperança”
Em seu discurso, durante o encontro com os jovens, o Santo Padre expressou sua alegria pelos dias que passou no país, onde convivem o mar, as montanhas e as florestas tropicais. Um país jovem, habitado por muitos jovens, que trazem uma grande aspiração: “enfrentar o futuro com sorrisos de esperança”.
“Obrigado! Obrigado pela sua alegria, pela forma como narraram a beleza de Papua, onde o oceano se encontra com o céu, onde nascem os sonhos e surgem os desafios”.
Francisco interage com os jovens durante seu discurso
Esperança no futuro
Aos mais de 10 mil jovens presentes no encontro, o Papa Francisco explicou que não queria deixar Papua sem encontrá-los, pois os jovens são a esperança do futuro. Para falar sobre o futuro, o Pontífice usou o relato bíblico da Torre de Babel, no qual se contrapõem duas formas opostas de viver e de construir a sociedade: “Uma leva à confusão e à dispersão, enquanto a outra, à harmonia do encontro com Deus e com os irmãos”.
Ao concluir, o ensinamento do Santo Padre aos jovens foi sobre a importância de, diante de uma queda, não permanecer caído. Francisco enfatizou que todos, independentemente da idade, podem cometer erros, mas o essencial é reconhecer o erro e se levantar. O Papa então compartilhou uma canção cantada pelos jovens nas montanhas dos Alpes: “Na arte de subir, o que importa não é não cair, mas não permanecer caído”, e reforçou que, ao ver um amigo caído, não se deve rir ou desprezar, mas sim estender a mão e ajudar a levantar:
“Na vida, só devemos olhar para o outro de cima para baixo quando for para ajudá-lo a se levantar”.