Papua-Nova Guiné: Papa despede-se do país com festa juvenil

Nesta segunda-feira, 9 de setembro, Francisco se reuniu com os jovens de Papua Nova Guiné no Estádio Sir John Guise, em Port Moresby. No último encontro oficial no país, o Pontífice incentivou mais de 10 mil jovens a praticarem "a linguagem do amor e do serviço" e destacou que "o mais importante não é cair, mas não permanecer caído".

“Vocês, que em Papua têm mais de 800 línguas, têm uma linguagem comum, que é o idioma do amor, o idioma do serviço”. Com estas palavras, o Papa Francisco se dirigiu aos jovens reunidos no Estádio Sir John Guise, em Port Moresby, durante sua 45ª Viagem Apostólica à Ásia e Oceania. O Papa deixou de lado o discurso que tinha preparado para o encontro, preferindo falar diretamente com os jovens presentes.

Encontro com os jovens no Estádio Sir John Guise, em Port Moresby

Encontro com os jovens no Estádio Sir John Guise, em Port Moresby

Dom John Bosco e os desafios dos jovens no país

Após uma dança de boas-vindas realizada por um grupo de jovens vestidos com trajes tradicionais, dom John Bosco Auram, bispo de Kimbe e delegado para os jovens, saudou o Pontífice, e lembrou que o maior desafio para os jovens é “descobrir Cristo em meio a realidade” que os leva a enfrentar questões profundas, como a vivência dos valores cristãos na família e na sociedade, as oportunidades limitadas de crescimento e desenvolvimento, e as frustrações derivadas das expectativas não atendidas pela sociedade, pelo governo e até pela Igreja.

“Ilhas de Esperança”

Em seguinda, o encontro  contou com a apresentação musical “Ilhas de Esperança”, na qual quatro jovens de Papua Nova Guiné e das Ilhas Salomão demonstraram seu compromisso com a construção de um futuro “com sorrisos de esperança”. Cada um deles focou em um aspecto da vida: a importância da família, a proteção do meio ambiente, a valorização da cultura local e o apoio à educação. No final da apresentação, um forte apelo: “os jovens não são apenas os líderes de amanhã, mas os criadores da mudança de hoje”.

Apresentação musical “Ilhas de Esperança”

Apresentação musical “Ilhas de Esperança”

Os testemunhos dos representantes juvenis

Após a apresentação, três jovens deram seus testemunhos. Patricia Harricknen-Korpok, da Associação de Profissionais Católicos, falou sobre as dificuldades de testemunhar a fé e a moral católica em uma sociedade influenciada pelas indústrias do esporte, do entretenimento, das redes sociais e da tecnologia, que competem com muitos valores e crenças religiosas. Apesar disso, Patricia destacou que os jovens profissionais de Papua Nova Guiné lutam “pelo bem comum e pelo bem-estar do nosso povo, especialmente daqueles que não têm voz ou estão à margem da sociedade”. 

Em seguida, Ryan Vulum relatou sua experiência de infância em uma família dividida, afirmando que a Igreja “se tornou um refúgio”. Ele destacou a dificuldade que muitos jovens enfrentam para se comunicar com pais separados, o que frequentemente os leva ao uso de substâncias nocivas, a atividades ilegais e à perda de esperança. Ryan incentivou os casais católicos a perseverarem no sacramento do matrimônio para criar famílias fortes e garantir que os jovens se sintam seguros. 

A jovem Bernadette Turmoni saúda o Papa após seu testemunho

A jovem Bernadette Turmoni saúda o Papa após seu testemunho

Por fim, Bernadette Turmoni, jovem membro da Legião de Maria, falou sobre o drama dos abusos familiares que destroem a vida de muitos jovens, levando-os a perder a esperança e, em alguns casos, ao suicídio. A jovem também abordou o problema da pobreza crescente, que impede muitos jovens de concluírem seus estudos e os leva a atividades ilegais para sobreviver. Ela encontrou na Exortação Apostólica Christus Vivit uma resposta: “Deus está sempre vivo e, por isso, nós também devemos estar vivos”. Bernadette concluiu com uma mensagem de esperança, pois, apesar das dificuldades, “eu não tenho nada: Deus é tudo.”

“Enfrentar o futuro com sorrisos de esperança”

Em seu discurso, durante o encontro com os jovens, o Santo Padre expressou sua alegria pelos dias que passou no país, onde convivem o mar, as montanhas e as florestas tropicais. Um país jovem, habitado por muitos jovens, que trazem uma grande aspiração: “enfrentar o futuro com sorrisos de esperança”.

“Obrigado! Obrigado pela sua alegria, pela forma como narraram a beleza de Papua, onde o oceano se encontra com o céu, onde nascem os sonhos e surgem os desafios”.

Francisco interage com os jovens durante seu discurso

Francisco interage com os jovens durante seu discurso

Esperança no futuro

Aos mais de 10 mil jovens presentes no encontro, o Papa Francisco explicou que não queria deixar Papua sem encontrá-los, pois os jovens são a esperança do futuro. Para falar sobre o futuro, o Pontífice usou o relato bíblico da Torre de Babel, no qual se contrapõem duas formas opostas de viver e de construir a sociedade: “Uma leva à confusão e à dispersão, enquanto a outra, à harmonia do encontro com Deus e com os irmãos”.

Ao concluir, o ensinamento do Santo Padre aos jovens foi sobre a importância de, diante de uma queda, não permanecer caído.  Francisco enfatizou que todos, independentemente da idade, podem cometer erros, mas o essencial é reconhecer o erro e se levantar. O Papa então compartilhou uma canção cantada pelos jovens nas montanhas dos Alpes: “Na arte de subir, o que importa não é não cair, mas não permanecer caído”,  e reforçou que, ao ver um amigo caído, não se deve rir ou desprezar, mas sim estender a mão e ajudar a levantar:

“Na vida, só devemos olhar para o outro de cima para baixo quando for para ajudá-lo a se levantar”.