O Cardeal D. Américo Aguiar, bispo de Setúbal, diz que as empresas devem apostar mais na realização pessoal dos seus trabalhadores e no bem-comum se quiserem ser empresas de sucesso.
A afirmação foi feita esta sexta-feira, dia 14 de junho na conferência sobre “Colunas da Doutrina Social da Igreja, Faróis para Gestão Feliz… e com Lucro”, realizada no Salão Nobre da Assembleia Legislativa da Madeira.
Na iniciativa, promovida pela Diocese do Funchal e pela Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE), o cardeal explicou como a doutrina social da Igreja pode ser um pilar para o sucesso empresarial, social, económico e ambiental.
Como primeira coluna, apontou a dignidade humana, reforçando a importância do reconhecimento do trabalho não apenas pelo ordenado justo, mas, também, através da valorização da vocação pessoal. O Cardeal D. Américo Aguiar mostrou-se preocupado, nomeadamente com as expetativas dos jovens, que com cada vez mais formação, anseiam por patamares “materiais altos” que as empresas e a sociedade não conseguem garantir.
“Nunca tivemos uma geração tão preparada, mas, também, nunca tivemos uma geração tão defraudada nas suas expectativas”, disse o cardeal para logo acrescentar que muitos jovens têm um choque quando chegam ao mundo do trabalho. Primeiro, porque não vão receber o que esperavam. Depois, porque há coisas que não correspondem ao que esperavam na vida do trabalho”, sublinhou.
O bem-comum foi outros dos aspetos aflorados na conferência. “Parece muito fácil, mas às vezes é difícil tomar decisões que sejam boas para todos”, afirmou o cardeal apelando ao bom senso dos empresários e dirigentes nas orientações que devem beneficiar o máximo de pessoas.
A subsidiariedade, como terceira coluna da doutrina social da igreja, foi outra das medidas apontadas para o sucesso. É muito importante que cada um, na simplicidade da sua tarefa, possa sentir como seu o produto da empresa. Por isso D. Américo Aguiar relevou ser de extrema importância apostar na concretização e na realização profissional e pessoal dos colaboradores. “O segredo é conseguir com que os trabalhadores se identifiquem com projeto empresarial”.
Como quarto pilar, o bispo de Setúbal apontou a solidariedade/caridade. “As empresas devem ter a capacidade de ajudar aqueles que por alguma razão foram excluídos ou estão em condições de fragilidade”.
Referindo-se aos lucros, o Cardeal é defensor de que “se o resultado do empenho de todos resultou numa mais-valia, então essa mais-valia deve ser colocada ao serviço de cada um”, desafiando os empresários que se identificam como cristãos a “terem presentes as referências das 4 colunas da doutrina social da igreja” (dignidade, bem-comum, subsidiariedade e caridade).
Antes de D. Américo usaram da palavra o bispo do Funchal e o presidente da Assembleia Legislativa da Madeira. O primeiro fê-lo para agradecer à ACEGE a realização da iniciativa e à Assembleia por ter aberto as portas à mesma, sublinhando que faz todo o sentido “esta relação entre política e vida cristã”, relativamente à qual ainda existem alguns preconceitos”. Por fim, um agradecimento ao orador a quem aproveitou para deixar uma questão tendo em conta que doutrina social da Igreja e lucro não é propriamente uma relação evidente.
Já o Presidente da Assembleia legislativa da Madeira, também, disse “ser cada vez mais importante que os políticos possam dar testemunho e praticar, nos cargos que exercem, os ensinamentos da doutrina que os formou e incorporar nas suas decisões essa condição de cristãos, sem tibiezas nem medos”.
“Obrigado, D. américo Aguiar, por tudo o que tem feito pela Igreja, nos últimos tempos, pela nossa juventude e sinta-se em casa, nesta casa da democracia e da autonomia da Madeira”, rematou no arranque da conferência.






Visita ao MASF
Antes da ALM, D. Américo Aguiar visitou o Museu de Arte Sacra do Funchal, mais precisamente o Núcleo de Ícones do museu, uma visita conduzida por D. Teodoro de Faria e onde decorreu também uma conferência de imprensa.
Já então, em declarações ao Jornal da Madeira e ao JM, aquele que foi o responsável pela organização da Jornada Mundial da Juventude, que aconteceu em Lisboa, no último ano, falara precisamente doS jovens, com quem se disse preocupado dada a frustração desta faixa. “Nunca tivemos uma geração tão preparada, é verdade. Mas também nunca tivemos uma geração tão defraudada nas suas expectativas. Muitos jovens têm um choque quando chegam ao mundo do trabalho. Primeiro, porque não vão receber o que esperavam. Depois, porque há coisas que não correspondem ao que esperavam na vida do trabalho”, sublinhou.
Haverá mesmo, acrescentou, “uma fatia dos jovens, que se vão sentir frustrados e que gerarão uma fratura”, disse.
O cardeal disse ainda que Portugal e o mundo vivem um tempo muito exigente. Lembrou a guerra à porta da Europa, outra na terra de Jesus e os problemas graves que estão pela frente.
A propósito, D. Américo Aguiar afirmou ainda que a sociedade se está a habituar aos bocadinhos a esta III Guerra Mundial e referiu que estamos mais ou menos todos descansados, até que um dia as coisas possam afetar, mais diretamente, as nossas vidas.
Lembrou ainda o desafio descoberto com o confinamento resultante da pandemia de covid-19, em que a Europa foi vendo que não produzia nada. “Descobriu que não era autónoma em quase mais nada”. Os órgãos europeus decidiram-se pela re-industrialização, que o cardeal espera seja ecológica e sustentável, mas que responda também ao respeito dos empresários e dos trabalhadores.


















