Nalgumas ruas da cidade do Funchal notava-se um rebuliço insólito. Os turistas, extasiados, puxavam do telemóvel para registar aquelas obras de arte a céu aberto. Todos queriam o melhor ângulo para as fotografias e as selfies junto ao tapete de flores. Porque estas flores no meio da estrada? – perguntou um senhor em inglês. Depois de várias tentativas falhadas de explicação, alguém pensou nas palavras latinas: “Corpus Christi”.
Os grupos paroquiais apressavam-se para concluir a tempo a sua parte do trajeto. Porto da Cruz, Campanário, Canhas, Calheta, Atouguia e São Francisco Xavier davam os últimos retoques, enquanto os grupos da Camacha e Rochão aceleravam o andamento. Os sacos com verduras e os caixotes com flores eram puxados para acompanharem o ritmo dos “artistas”.
Primeiro, era riscado no chão a giz o formato do tapete e os desenhos a serem feitos. Depois, com a ajuda de estruturas de madeira, várias pessoas de um lado e de outro iam compondo com arte e harmonia os diferentes padrões. Cada flor é colocada de acordo com a sua espécie e cor num chão de verdura previamente formado. Assim, pouco a pouco, era elaborado o tapete de flores da procissão do Corpo de Deus. Finalizava a obra a passagem de uma vassoura para retirar os vestígios florais das margens do tapete e a rega feita com um pulverizador ou máquina de sulfatar.
Na Avenida Zarco, junto aos Correios, o pároco do Porto da Cruz, concentrado, preenchia o tapete com pequenas margaridas, juntamente com os seus paroquianos. Mais à frente, na Avenida do Mar, em frente ao Palácio de São Lourenço, os grupos da Camacha e Rochão não tinham mãos a medir, “Amarelo, onde andam as flores amarelas?”, perguntava um dos responsáveis, percorrendo vários metros até encontrar a caixa das flores pretendidas.
A festa do Corpo de Deus foi celebrada pela primeira vez na Bélgica, em 1246. Alguns anos depois, em 1264, o Papa Urbano IV estendeu-a a toda a Igreja. A procissão com o Santíssimo pelas ruas foi autorizada somente no século XV.
Na Madeira, um documento da Câmara do Funchal, de 1483, “ordenança do dia de Corpo de Deus, da maneira que hão-de ir os ofícios…”, comprova a importância dessa procissão desde os primeiros tempos da colonização.


















