Dez dias a viver história espiritual pelo Minho

Padre Aires Gameiro | Foto: Duarte Gomes

Quase diria que em 10 dias pelo Minho as experiências de respirar história profunda global, em contraponto  das comemorações do 25 de Abril, foram bastante vivificantes. O primeiro pretexto foi apresentar uma comunicação no Congresso Internacional de Espiritualidade e Mística de 24 a 27; o segundo foi a apresentação do meu livro «50 dias por Timor-Leste» pelo Prof. Manuel Curado da Universidade do Minho, no Auditório Bento Menni em Barcelos. Estes dois eventos abriram ramos e folhas de mil verdes de história globalizada por marcos cristãos em vales, colinas e montanhas do Minho primaveril e solarengo. O acolhimento partiu da hospitaleira comunidade de S. João de Deus na Casa de Saúde S. João de Deus em Barcelos. Nela, além das mais de três centenas de utentes, assistidos por cerca de duas centenas de profissionais e cuidadores da saúde, entre os quais, quatro Irmãos portugueses e três timorenses em missão hospitaleira de evangelização. O peregrino geronte recebeu de todos gestos cordiais de hospitalidade e encorajamento. Na apresentação do livro, organizada pela Direção da Casa de Saúde com apoio de amigos locais, sobre Timor, ficou bem patente e iluminada pela sagacidade do apresentador a libertação de Timor-Leste, país condenado à não existência e subjugação colonialista da Indonésia durante duas dezenas de anos; e a afirmação da sua identidade e sentido global da sua cultura marcada pelos valores cristãos católicos e pela lusofonia emergente nos espaços oceânicos Indo-pacíficos. O mandato do «ide por todo o mundo» de Cristo antes da Ascensão continuará a realizar-se por novos discípulos.

Nas reflexões do Congresso de espiritualidade e mística, de 24 a 27, sobressaíram as contemplações do peregrinar dos investigadores, quais “ratinhos” de bibliotecas e de arquivos, na colheita de frutos de espiritualidade e mística das sementes da cultura cristã que Cristo entregou à terra. A Colunada de Eventos do Bom Jesus foi centro do sentido da espiritualidade, não sem religião cristã, mas como religião da fé cristã que recebe a sua identidade de Cristo, morto e ressuscitado, para os dois lados da linha da vida, no tempo-espaço e no Além. Foi ainda dali, de tanto dizeres de sabedoria, que partiu o desejo de grupinho visitar Balasar e o santuário de Alexandrina, ao lado do qual se ergue outro santuário monumental com o nome do (único) Santuário Eucarístico do mundo, como foi apresentado no congresso. Porquê este nome? Porque Alexandrina de Balasar, viveu vários anos, unicamente, da Comunhão. Não foi a única. Haverá dezenas de místicos e místicas, entre os quais, Teresa Neumann, Luisa Piccarreta, Marthe Robin, Catarina Emmerich e vários outros que foram místicos sem alimento humano.

A festa de S. Bento Menni  na Casa de Saúde do Bom Jesus do Nogueiró, no dia 24, com a igreja cheia  a vibrar em cânticos, hinos e vulnerabilidades confortadas com o capítulo 25 de S. Mateus, que me pediram para proclamar  e comentar, foi outro centro a jorrar espiritualidade. O «vinde benditos do meu Pai» não se dirige só aos que fazem o bem “aos meus mais pequeninos”, mas também a esses mesmos pequenos e vulneráveis que ouvem o mesmo “vinde benditos do meu Pai” e entram no mesmo cortejo e, certamente, à frente, porque os últimos são os primeiros. Bento Menni foi duplamente bendito pela hospitalidade e pelos muitos sofrimentos por Cristo em quem sempre confiou. Ao almoço da festa seguiu-se uma subida do pequeno grupo ao Sameiro, ao encontro da Mãe.

Antes e depois, sucederam-se as paisagens do Monte do Facho, com os seus miradoiros dos quatro pontos cardeais, o Mosteiro-Pousada de Amares, Santuário de Nossa Senhora da Abadia a lembrar os primeiros séculos cristãos, a ocupação do Islão, Os monges Beneditinos e Cistercienses, e a sua colaboração a fundar Portugal, o Portugal cristão. Seguiu-se a subida ao Gerês por entre barragens, vestígios romanos, até à Portela do Homem e, mais além, pelas colinas da Galiza e regresso por Arcos de Vale de Vez e rio Lima. E, ainda, a visita ao Mosteiro de Tibães, agora restaurado, em que em 1969 acompanhei um Irmão de S. João de Deus da Silésia, que na visita pelo coro da igreja e corredores esburacados do mosteiro se comoveu e chorou com aquele espetáculo de abandono. Agora vivemos a alegria do seu esplendor de talhas douradas e corredores impecáveis, quais braços abertos a acolher-nos na recordação dos tempos do nascimento da nacionalidade portuguesa.  

 O Congresso Internacional de Espiritualidade e Mística como que deixou um desejo de mais sentido e unidade harmoniosa, espiritual e mística para este país tão prometedor e tão rasgado por conflitos devidos à vulnerabilidade da falta da essencial união com Deus.

 Os organizadores e os coordenadores prometem mais investigações e congressos para realizarem o projeto grandioso da história e do dicionário sobre o tema. E a peregrinação ao Santuário de S. Bento da Porta Aberta, no qual o encerramento do congresso se realizou, deixa esperanças na procura “do não-limite” do espiritual e da mística.