O Departamento da Pastoral do Ensino Superior da Madeira (DPES) realizou na sexta-feira, dia 22 de março, no Museu de Arte Sacra do Funchal (MASF), uma conferência com o tema “Sinais dos tempos e a tradução do Evangelho nos nossos dias”.
A iniciativa, teve como objetivo descobrir “os sinais sempre novos que Jesus nos aponta”. A mesma foi proferida pelo Pe. José Frazão, sacerdote jesuíta que, em declarações ao Jornal da Madeira, disse ser sua intenção pegar precisamente na expressão ‘sinais dos tempos’, que “entrou no pensamento cristão e no modo da Igreja compreender a sua relação com o tempo João XXIII, o Papa que convocou o concílio e é uma expressão que acabou depois por ser trabalhada profundamente pelo Concílio Vaticano II”.
Esta expressão, vincou, “tem a ver com sinais que o Espírito dá no tempo, através dos quais o próprio Deus fala à Igreja sobre si mesma e permite que a Igreja leia o Evangelho de uma maneira mais larga, mais funda”.
Por outras palavras, “o mundo é um lugar através do qual Deus fala à própria Igreja e não apenas um destinatário daquilo que a Igreja tem a dizer”.
João XXIII, adiantou ainda o teólogo, “identificava na Encíclica sobre a Paz, três grandes sinais dos tempos: a emancipação dos povos que tinham sido colonizados; o mundo do trabalho e a presença da mulher no espaço público”.
Hoje, passados 60 anos do concílio, “continuamos a cultivar esta atenção espiritual ao tempo que vivemos”. Como os tempos atuais “são complexos difíceis de interpretar, há muitas alterações e todas muito rápidas, talvez a primeira tentação fosse de acusar, dizer que as coisas não estão bem, que temos de as corrigir, alterar e voltar a ser como eramos há uns anos atrás, ora esta categoria ‘sinais dos tempos’ pede-nos uma leitura ligeiramente diferente”.
Assim sendo, vinca o Pe. José Frazão, “por um lado pede-nos atenção e paciência dar tempo ao tempo, para que o tempo amadureça os seus frutos e não, como diz a parábola, arrancar o joio correndo o risco de arrancar também o trigo, porque não sabemos exatamente o que é trigo e o que é joio”.
Mas esta paciência e atenção, “não significa uma aceitação acrítica do tempo presente”, até porque nós “percebemos que há muitas coisas que não estão bem, como a guerra, a pobreza, as desigualdades entre as pessoas, a falta de cultivo de uma atenção especial às coisas”.
“Esta atenção aos sinais que o Espírito Santo possa querer dar-nos como cristãos através do tempo, pede esta atenção crítica, discernida, atenta, mas ainda assim uma atenção ao tempo para acreditar que o Espírito Santo nos diz coisas boas sobre nós próprios como cristãos e sobre o modo de nós lermos o evangelho, que vêm através do contexto por vezes complexo, difícil de compreender, ambíguo e ambivalente”, sublinhou.
Sintetizando, o Pe. José Frazão, acredita que “esta categoria, que nós herdamos dos anos 60 do século passado, continua a ser para nós uma categoria muito fecunda para o modo como a Igreja pode estar em relação com o tempo em que vive, não para o condenar imediatamente, mas para tentar reconhecer como o Espírito, e por isso a vida de Deus, os valores que recebemos pelo evangelho nos são reentregues de uma maneira nova por essa relação viva, disponível, atenta com o próprio tempo”.