As mulheres do meu país

Jovens trabalhadoras das Minas de S. Pedro da Cova. Começam a trabalhar aos 14 anos e fazem a remoção, ou seja, o transportar do carvão ou da pedra, à cabeça, em gigos. O pó do carvão dá-lhes um ar precocemente endurecido - Exposição "As Mulheres de Maria Lamas", Fundação Calouste Gulbenkian | Foto: Pe. Giselo Andrade, fevereiro 2024.

As Mulheres do Meu País é o título de uma obra monumental de Maria Lamas, publicada em 15 fascículos entre 1948 e 1950 (reeditada em 2002). 

Ao longo de dois anos, Maria Lamas percorreu o país, incluindo as ilhas, para encontrar-se diretamente com as mulheres. “Andei dois anos sozinha, de comboio, de camioneta, de carro de bois, a pé, de burro”, disse a uma amiga. O primeiro fascículo, de nome “A camponesa”, começa assim: “As mulheres que labutam sol a sol na terra portuguesa costumam definir o seu destino com esta frase concisa e trágica: A nossa vida é muito escrava”. 

Além da qualidade das descrições, surpreendeu-me a riqueza das fotografias e sobretudo das suas legendas.

Segundo o testemunho de uma neta, o objetivo principal da autora era “conhecer diretamente a realidade das mulheres do seu país, que algumas instituições governamentais dissimulavam e poetizavam um pouco à maneira de Júlio Dinis” (Maria Sousa). 

“Fez do seu trabalho uma bandeira humanista contra a ditadura do Estado Novo e um gesto de cidadania fraterna em favor das mulheres do seu país”, escreveu Maria Monteiro.

As suas atividades renderam-lhe prisões e períodos de exílio, em Paris, mas também na Madeira onde se auto-exilou em 1955. No ano que passou na nossa ilha, escreveu a obra “Arquipélago da Madeira – Maravilha Atlântica” (Editorial Eco do Funchal, 1956), considerada como “o maior louvor à beleza da ilha, com as suas paisagens, as suas lendas e tradições, os seus costumes, as suas riquezas” (Maria Sousa). 

“A palavra que orientou a sua vida foi Paz, a liberdade básica que permite o exercício de todos os direitos” (Maria Sousa, Islenha, nº 49, 2011).

O Museu Calouste Gulbenkian em Lisboa tem patente até ao dia 28 de maio, a exposição “As mulheres de Maria Lamas” que mostra pela primeira vez a obra fotográfica de Maria Lamas que “foi porventura a mais notável mulher portuguesa no século XX”. Na exposição também são mostrados objetos pessoais e exemplares de primeiras edições de várias obras, incluindo o livro sobre o Arquipélago da Madeira.