O Elucidário Madeirense (1921) dá nota da realização da chamada Procissão da Cinza “na vila de Câmara de Lobos, aonde acodem muitas pessoas do Funchal para a ver”. Originalmente, essa procissão feita na Quarta-Feira de Cinzas, saía do convento de São Francisco no Funchal. Após a extinção do convento, continuou a realizar-se por mais umas décadas, na igreja do Colégio até ao momento em que algumas imagens foram levadas para a matriz da vila de Câmara de Lobos e para a casa das famílias locais.
Nas descrições antigas é referido que o pendão da Ordem Terceira de São Francisco abria a procissão. Em seguida, surgia a “árvore da penitência, em que se viam um crucifixo guarnecido de ramos de espinheiro”. Depois ia a cruz da Ordem e o andor do Senhor dos Passos. Seguiam-se cerca de vinte andores de santos relacionados com a Ordem Franciscana. Encerrava a procissão o andor de São Francisco abraçado a Cristo, o relicário com o Santo Lenho transportado por um eclesiástico, e o bispo diocesano.
Depois de alguns anos de interrupção, entre 1977 e 2001, a Procissão das Cinzas continua a mobilizar muitos fiéis como aconteceu, nesta Quarta-Feira de Cinzas.
Atualmente a procissão sai do convento de São Bernardino e dirige-se à igreja de Santa Cecília onde é celebrada a Eucaristia com a imposição das cinzas. É composta, pela imagem do Senhor dos Passos e por mais 9 imagens de santos franciscanos: S. Francisco de Assis levando a cruz, São Salvador, Santo Ivo, São Benedito, São Roque, Santa Rosa Viterbo, Santa Margarida Maria de Cortona, Rainha Santa Isabel de Portugal e S. Francisco abraçado a Cristo.
Uma particularidade desta procissão consiste no facto da maior parte destas imagens estarem na casa dos paroquianos e serem preparadas por eles para seguirem na procissão. A família “guardadora” veste a imagem de roca, ornamenta o andor com flores e arranja as pessoas para o levarem na procissão.
No mês de agosto do ano passado, foi apresentada pelo Governo Regional, a candidatura da Procissão das Cinzas em Câmara de Lobos ao Inventário Nacional de Património Cultural Imaterial.
