Melhor política

Sermão de Santo António aos peixes (1536-1538), Gregório Lopes, Charola do convento de Cristo de Tomar | D.R.

Nos últimos dias, diante dos noticiários portugueses, vieram-me à mente três referências espaçadas no tempo:

1. O capítulo V da Fratelli Tutti (2020), do Papa Francisco, com o título: “A política melhor” que diz: “Atualmente muitos possuem uma má noção da política, e não se pode ignorar que frequentemente, por trás deste facto, estão os erros, a corrupção e a ineficiência de alguns políticos. A isto vêm juntar-se as estratégias que visam enfraquecê-la, substituí-la pela economia ou dominá-la por alguma ideologia. E contudo poderá o mundo funcionar sem política? Poderá encontrar um caminho eficaz para a fraternidade universal e a paz social sem uma boa política?” (nº 176) 

2. O início do sermão de Santo António aos peixes do Padre António Vieira (séc. XVII): “Vos estis sal terrae. Vós, diz Cristo, senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra; e chama-lhe sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar”.

3. Um diálogo de Alexandre Magno, contado por Santo Agostinho na obra Cidade de Deus (séc. V), no capítulo intitulado “Os reinos sem justiça assemelham-se a uma quadrilha de ladrões”: “Com finura e verdade respondeu a Alexandre Magno certo pirata que tinha sido aprisionado. De facto, quando o rei perguntou ao homem que lhe parecia isso de infestar os mares, respondeu ele com franca audácia: «O mesmo que a ti parece isso de infestar todo o mundo; mas a mim, porque o faço com um pequeno navio, chamam-me ladrão; e a ti porque o fazes com uma grande armada, chamam-te imperador»”.