O padre José Henrique Pedrosa é diretor do Serviço de Catequese de Leiria-Fátima. Em entrevista ao Jornal da Madeira, por ocasião do Dia Diocesano do Catequista, em Santa Cruz, este responsável falou-nos dos temas abordados durante o encontro, nomeadamente, a “Catequese catecumenal: os tempos e o itinerário” e ainda sobre “A Catequese com adolescentes num modelo catecumenal”. Membro da equipa de redação do novo ‘Itinerário de iniciação à vida cristã das crianças e dos adolescentes com as famílias’, explicou aos catequistas que este Itinerário “vai procurar ajudar não só a transmitir conteúdos”, mas sobretudo a “fazer um caminho”.
Jornal da Madeira – Já não é a primeira vez que é convidado para encontros com catequistas. Desta vez veio explicar um pouco do que é a catequese de inspiração catecumenal…
Pe. José Henrique Pedrosa – Sim, primeiro procurou-se perceber o que é a catequese de inspiração catecumenal e inserir esta catequese com os adolescentes, num caminho, num itinerário que começa muito antes e tem todas as fases que fazem parte de uma caminhada catecumenal.
Jornal da Madeira – Que caminhada é essa?
Pe. José Henrique Pedrosa – É uma caminhada que procura, no fundo, deixar que este primeiro encontro com Jesus Cristo possa acontecer, que haja um aprofundamento da fé, que haja depois um tempo mais de experimentar a fé e de se inserirem na própria comunidade cristã, e poderem também ter toda a fase de viverem como discípulos missionários e continuarem a sua formação a vários níveis. Basicamente o que eu procurei apresentar aqui foi a perspetiva do itinerário no seu conjunto, no seu todo, e depois parar um bocadinho mais na catequese com os adolescentes, uma vez que é essa a fase que vai agora começar a ser editada. Ou seja, estão a ser preparados os primeiros catecismos para saírem ainda neste ano pastoral, próximo ano civil.
“a catequese deve ser um espaço que oferece a oportunidade das pessoas se deixarem enamorar, mas para isso é preciso liberdade”.
Jornal da Madeira – Esta é uma catequese que procura um maior acompanhamento pessoal, de levar os adolescentes a percorrer um caminho em que a própria vivência é tida em conta?
Pe. José Henrique Pedrosa – Sim, nesta fase, a catequese procura adotar uma metodologia mais projectual, de envolvimento, no sentido dos adolescentes puderem também fazer um caminho em que a sua própria experiência, a sua própria vivência, é tida em conta, com o envolvimento das famílias, das comunidades; de procurarem experimentar as várias dimensões da fé e poderem fazer todo um caminho em que a expressão de fé acaba por ser uma consequência do que refletiram, do que rezaram, do que aprofundaram em conjunto, e que isso se possa expressar também no envolvimento nas comunidades e no crescimento do próprio grupo.
Jornal da Madeira – Se bem entendi quando se fala de dimensão catecumenal fala-se do aprender para além das simples orações e de certos conhecimentos da fé.
Pe. José Henrique Pedrosa – Exatamente. Claro que esse conhecimento de que falou é importante, mas quando nós falamos desta dimensão catecumenal falamos nessa perspetiva de passar além disso, de ir para além dos conhecimentos apenas cerebrais, neste sentido de saberem algumas coisas, mas de um conhecimento que possa ser também experiencial, que envolva a pessoa no seu todo. Que a pessoa não só saiba, mas que esse saber se possa traduzir no saber estar, no saber viver, no conhecimento e no ser, que é a parte primeira e fundamental. Por isso mesmo, o que se pretende é que esta inspiração catecumenal se reflita numa dinâmica de envolvimento da pessoa no seu todo.
“o que se pretende é que esta inspiração catecumenal se reflita numa dinâmica de envolvimento da pessoa no seu todo”.
Jornal da Madeira – Para isso a pessoa também tem necessidade de querer fazer esse caminho?
Pe. José Henrique Pedrosa – Sim, claro. Mas também precisa depois de todo o envolvimento de que já falamos e que a vai ajudar nesta perspetiva. Precisa de toda a dinâmica familiar, comunitária, o intercâmbio com a realidade social. Tudo isso necessita também de estar presente para que se possa envolver a pessoa no seu todo. Como o Papa diz, de forma simples, com a cabeça coração e mãos, ou seja, com todo o ser.
Jornal da Madeira – Será que vai ser fácil construir esse caminho?
Pe. José Henrique Pedrosa – Nós sabemos que estas coisas não são imediatas, nem há soluções que sejam iguais para todos. Muito deste itinerário nasce daquela que é a leitura que se faz da realidade atual e da necessidade de se fazer alguma coisa. À luz da reflexão e da prática dos últimos anos, pensou-se, de facto, num itinerário que desse mais uma oportunidade das pessoas puderem fazer o caminho. É claro que aquilo que se pretende é oferecer-se uma oportunidade das pessoas fazerem caminho. Mas ninguém faz o caminho pelos outros, nem o faz só. Podemos mesmo levar as pessoas ao colo e ajudar, mas se não houver um envolvimento da própria pessoa é claro que não é fácil fazer esse caminho constante que é o caminho da conversão. E nós podemos perguntar em relação aos adolescentes, como em relação a toda a gente, o que é que vamos fazer para a nossa própria conversão, o nosso envolvimento comunitário, a progressividade neste encontro com Jesus Cristo, e de fazer aquilo que o Papa Francisco nos convida a todos que é de termos um encontro pessoal com Jesus Cristo. A partir desse encontro, dessa relação, deste estar com, é que as coisas acabam por acontecer. Digamos que, se nós quiséssemos fazer uma comparação, podemos dizer que a catequese deve ser um espaço que oferece a oportunidade das pessoas se deixarem enamorar, mas para isso é preciso liberdade. E a Igreja não pode deixar de dar oportunidade a “Todos, todos, todos” de fazerem o caminho. Claro que vai continuar a haver gente a querer fazer o Crisma para se “despachar”, mas quem quiser fazer um caminho de fé, um caminho de encontro tem essa possibilidade também.
“À luz da reflexão e da prática dos últimos anos, pensou-se, de facto, num itinerário que desse mais uma oportunidade das pessoas puderem fazer o caminho”.
Jornal da Madeira – Neste encontro participaram quase 600 catequistas. Um bom grupo para falar destas questões…
Pe. José Henrique Pedrosa – Eu fiquei impressionado. Além disso, neste dia, para além de aprofundarmos um tema, a visão de quem vem de fora é que este é também um dia de festa, de encontro em que os catequistas participam no início do ano e se deixam entusiasmar em conjunto. Isso é uma coisa muito boa, eu diria mesmo excecional.