Porque não sou ateia

Da esquerda para a direita, Nietzsche, Marx e Sartre, três ateus por razões pessoais, não por uma rigorosa reflexão filosófica ou por qualquer conhecimento acerca de Deus. | D.R.

Na segunda metade do século XIX, em consequência das ideias de alguns pensadores mais relevantes da Europa, como Hegel, o conceito do Deus foi sendo esvaziado do seu conteúdo ou essência divina, superior e absoluta, sendo considerado como um ser vazio que é “nada”.

A ideia do “deus hegeliano ou filosófico”, contrasta em absoluto com as religiões monoteístas: o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo.

Esta abstração vazia e absoluta, defendida por um filósofo considerado de excelência, viria a influenciar muitos pensadores, nomeadamente Nietzsche, Marx e Sartre, entre outros.

Nietzsche filiado na tradição filosófica de outros pensadores alemães, não suportava a ideia da existência de Deus e, sem uma profunda reflexão como o tema exigiria, declara-Lhe a morte, pois não queria admitir a possibilidade de existir Alguém que lhe fosse superior. Talvez influenciado por Baruch Spinoza, nascido na Holanda no século XVII, judeu sem fé, que escreveu muito sobre “deus”, apresentando-o como um deus panteísta, não pessoal, sem vontade e sem entendimento, sendo apenas uma força ou ordem eterna.

Karl Marx foi, todavia, quem mais influência teve na expansão do ateísmo no mundo, tomando como certa a tese de Feuerbach, de que Deus não existe, nada fez para o demonstrar, por entender ser desnecessário. Para o ateísmo marxista, Deus impedia o desenvolvimento da sociedade e do homem, estando assim aberto o caminho para se poder atingir o famoso “futuro luminoso”, tão apregoado pelo partido revolucionário. Sem a religião, o “ópio do povo”, Marx podia passar à “praxis” na revolução e construção do comunismo.

Tal como Marx e Nietzsche, necessitaram negar a existência de Deus, para proclamar a “liberdade” do homem, também Sartre não dedicou nenhum tempo a pensar em tal, passando de imediato a proclamar o ateísmo. No seu livro “O Ser e o Nada” defende que Deus não pode existir porque é uma ideia contraditória. O seu existencialismo ateu teve muita influência nos anos sessenta e setenta do século passado, na revolução sexual de maio 68 e na negação da moral dos costumes e valores.

Sendo uma moral laica, o relativismo e as suas consequências éticas, ainda hoje se fazem sentir.

Viver sem Deus permite concluir: que, “Todos os meios são bons quando são eficazes”. O Homem fica desprotegido, despojado de toda a sua espiritualidade, sendo reduzido a uma simples porção de matéria, pelo que facilmente se poderá usar como coisa, para os fins mais perversos, como guerras, experiências ou manipulações.

O ateísmo moderno, consequência da especulação filosófica e dum exacerbado racionalismo, que negou a ideia da existência de Deus, fomentou na sociedade uma atitude de descrença, perante a inerente religiosidade humana, que foi a base da nossa civilização, cultura e humanidade.