Paróquia de Machico: “Fachos são uma forma de louvor muito bonita à Eucaristia” – D. Nuno Brás 

De acordo com o prelado, esta é “uma forma muito singular de através de algo que servia para a salvação das pessoas [as tochas eram usadas para alertar a população dos ataques de piratas], mostrar que a Eucaristia é hoje a salvação”. 

Foto: Duarte Gomes

O bispo do Funchal presidiu na tarde de sábado, dia 26 de Agosto, à missa vespertina da Festa do Santíssimo Sacramento, em Machico.  

 Uma celebração que “acontece não só por ser tradição, mas porque é qualquer coisa de essencial na nossa vida cristã: Deus connosco, a alimentar-nos, a alimentar a nossa fé, alimentar o nosso dia a dia”, disse D. Nuno Brás, logo no início. 

Depois de saudar as entidades presentes e de agradecer aos sacerdotes que com ele concelebravam, nomeadamente ao monsenhor Saturino Gomes e ao cónego Manuel Ramos, o prelado apelou à assembleia que vivesse este momento “com toda a fé, procurando deixar que Deus venha ao nosso encontro.  

Já na homilia, D. Nuno Brás, falou do convite que nos é feito todos os dias, de “vivermos centrados nesta realidade: Tu és o Cristo, filho de Deus vivo”. Isto é, “que Tu és o Cristo, és O salvador, que a minha salvação não está em mim, a minha salvação não está naquilo que eu sou capaz de fazer, a minha salvação não está naquilo que eu consigo, mas vem do próprio Deus”. 

É isso, vincou, que devemos responder quando nos perguntarem, como Jesus fez aos discípulos, quem diziam que Ele era. Devemos responder “Ele é Deus no meio de nós, Deus connosco, Deus em Machico, Deus na Madeira, o filho de Deus vivo”, de quem aprendemos a ser bons discípulos, que querem bem uns aos outros, que são capazes de olhar por aqueles que mais precisam, de mudar e de mudar o mundo. 

“Nesta festa do Santíssimo façamos, também nós, esta Profissão de Fé de Pedro, da Igreja, do Papa Francisco, dizendo Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo”, apelou o prelado para logo concluir “desejando que em cada momento da nossa vida procuremos que as nossas atitudes, as nossas palavras e os nossos pensamentos sejam concordes com esta nossa Profissão de Fé”, nessa altura veremos verdadeiramente o mundo a mudar, a transformar-se, a ser melhor. 

Fachos iluminaram as encostas

Em Machico, esta festa do Santíssimo Sacramento está intimamente ligada a uma prática comunitária que faz parte da cultura popular das gentes da Freguesia: os Fachos.  

Tradição única na Madeira, é na véspera da Festa do Santíssimo que os Fachos se acendem e iluminam as encostas do Vale de Machico, num espectáculo que contém um misto de emotividade e profundo sentido de religiosidade.  

De resto, os Fachos materializam ícones religiosos como a custódia, as cruzes, o cálice, os peixes, os barcos (caravelas e a traineira) e outros objectos ligados à vida do povo.  

São o resultado de muitos dias de trabalho voluntário, que se transformam num são convívio, apesar de existir uma certa rivalidadezinha saudável entre quem lhes dá forma, a ponto de cada ‘projeto’ ser mantido em segredo, até ao momento em que é aceso. 

Milhares de pessoas – este ano não foi excepção – invadiram os espaços públicos do centro e periferia da cidade, para assistirem a uma tradição cuja origem se perde no tempo.

Ao soar dos búzios, eram cerca das 21.30 horas, os 10 Fachos voltaram a acender-se para júbilo do povo, que teima em manter viva esta tradição que, conforme disse D. Nuno Brás ao Jornal da Madeira, “é uma forma muito singular de, através de algo que servia para a salvação das pessoas [as tochas eram usadas para alertar a população dos ataques de piratas], mostrar que a Eucaristia é hoje a salvação das pessoas”. 

É, acrescentou, “uma forma de louvor muito bonita à Eucaristia, ao Santíssimo Sacramento, assim como os tapetes, que são feitos para o Senhor passar por cima aqui os Fachos são feitos para que todos possam louvar o Senhor desta forma única”. 

Diante da possibilidade de candidatar os Fachos a Património Cultural Imaterial da Humanidade, o prelado lembrou que “a religião não é qualquer coisa ao lado das outras, mas qualquer coisa de essencial na vida do ser humano”. Assim sendo, “todas estas manifestações religiosas, estas manifestações de fé mantêm-se e devem ajudar a enriquecer a vida dos cristãos” e a manter a singularidade da ilha.   

A terminar, uma nota para o facto da Banda Municipal de Machico ter tocado, pela primeira vez, um hino aos Fachos de Machico. Com letra do Pe. Martins Júnior, este hino já era interpretado pelo grupo de folclore, mas não havia partitura para a banda, tendo Manuel Spínola feito os arranjos necessários para que também a banda o pudesse interpretar.