Ao terminar o ano pastoral, penso nas palavras do Evangelho de Marcos: “Os Apóstolos reuniram-se a Jesus e contaram-lhe tudo o que tinham feito e ensinado. Disse-lhes, então: ‘Vinde, retiremo-nos para um lugar deserto e descansai um pouco’. Porque eram tantos os que iam e vinham, que nem tinham tempo para comer. Foram, pois, no barco, para um lugar isolado, sem mais ninguém” (Mc 6, 30-32).
O tempo de férias é um tempo de descanso.
No sétimo dia da criação, Deus descansou. “Deus abençoou o sétimo dia e santificou-o, visto ter sido nesse dia que Ele repousou de toda a obra da criação” (Génesis 2, 3). O descanso não aparece no relato da criação como elemento marginal, mas faz parte da criação. É o elemento que a completa. É o tempo que Deus cria para si, repousando do trabalho para contemplar a sua obra.
Para o povo bíblico, o repouso sabático não era apenas a pausa dos trabalhos, mas o acolhimento da bênção do Criador, sinal da aliança com Deus. “O Senhor falou assim a Moisés: ‘Diz aos filhos de Israel: Guardai o meu sábado, porque é um sinal perpétuo entre mim e vós, em todas as vossas gerações, para que se saiba que sou Eu, o Senhor, quem vos santifica. Guardai, então, o sábado, porque é para vós uma coisa santa”. (Êxodo 31, 12-14).
O descanso introduz um tempo novo, sagrado. Tempo de contemplação e de reconhecimento dos dons de Deus. Tempo de paragem e libertação de uma cultura que sobrevaloriza a produtividade. O descanso remete para a tranquilidade interior e exterior no acolhimento da beleza da criação que se manifesta numa paisagem verdejante, no movimento das ondas do mar, no pôr do sol. Assim, o descanso é também remédio para a inquietação que nos acompanha no dia a dia, fruto das expetativas impostas pelo ritmo acelerado da sociedade.
O convite de Jesus, “Vinde … descansai um pouco”, indica-nos que o descanso não significa inatividade, mas tempo para si mesmo, para fortalecer os laços com os familiares e amigos e para estar a sós com o Senhor. Recordo-me que ao terminar o ano letivo, antes dos seminaristas regressarem às suas casas para as férias do verão, o formador alertava para não deixar de rezar a liturgia das horas e não deixar de ir à Missa diária. Dizia que as férias não é ficar em casa sem fazer nada, mas oportunidade para fazer coisas diferentes.