Pe. Luís Leal: Diretor do Serviço Nacional diz que acólitos devem ter coerência no altar e na vida

Foto: Duarte Gomes

O padre Luís Leal é o diretor do Serviço Nacional de Acólitos. Em entrevista ao Jornal da Madeira, por ocasião do Dia Diocesano do Acólito, que se realizou no dia 25 de Abril, este responsável fala da coerência que os acólitos devem ter na vida e no altar. Garante que a divulgação do número de casos de abusos na igreja, em Portugal, “não motivou uma debandada dos acólitos”, embora admita que pode ter havido um afastamento ou outro. Aproveita ainda o momento para elogiar o Serviço Diocesano de Acólitos do Funchal e o trabalho que o mesmo tem feito.

Jornal da Madeira – Já não é a primeira vez que está no Funchal a acompanhar iniciativas dos nossos acólitos?

Pe. Luís Leal – De facto, não é a primeira vez que venho aqui à Madeira a convite do Serviço Diocesano do Funchal, quer para este dia, quer de modo especial para outros encontros diocesanos, quer também uma vez ou outra na formação específica dos acólitos ou para a Festa de São Francisco Marto que este ano teve lugar na freguesia da Ilha.

“a Diocese do Funchal celebra a festa de São Francisco Marto, que creio é uma coisa única em todo o país. É muito bonita de se ver, pelo que gostaria de felicitar o Serviço Diocesano por este esforço que faz todos os anos”

Jornal da Madeira – Essas vindas permitem-lhe saber mais ou menos como é que está o acolitado na Madeira…

Pe. Luís Leal – O acolitado na Madeira varia de paróquia para paróquia, de zona para zona, como em todo o lado. Depende muito do empenho dos párocos, mas também de cada comunidade. Isto para dizer que às vezes há párocos que têm muito boa vontade, mas não conseguem formar um grupinho porque também não têm gente, porque são comunidades pequeninas. Depois a Diocese do Funchal celebra a festa de São Francisco Marto, que creio é uma coisa única em todo o país. É muito bonita de se ver, pelo que gostaria de felicitar o Serviço Diocesano por este esforço que faz todos os anos, de no fundo ter dois encontros, um o Dia Diocesano, com uma logística mais complicada outro uma logística mais simples, mas que permitem a participação de todos os acólitos da diocese. Dos exemplos que tenho tido de outros encontros diocesanos pelo país, o do Funchal acaba por ser, se não o mais participado, um dos mais participados, pelo menos percentualmente”. Claro que há anos com mais acólitos, outros com menos, tudo depende de várias circunstâncias. No tempo de pandemia aconteceu aquilo que aconteceu com outras estruturas não apenas da Igreja, mas da sociedade e que foi um pequeno decréscimo de elementos.

Jornal da Madeira – Nas celebrações, os acólitos têm grande evidência por estarem no presbitério, junto ao sacerdote. Qual é a missão de um acólito? 

Pe. Luís Leal – A missão de um acólito é, basicamente, servir o altar. Ou seja, ajudar o sacerdote e o diácono no serviço do altar. E auxiliar em tudo o que for necessário, seja na Eucaristia ou nos outros sacramentos. O nome mais correto para este serviço é ministrante, já que acólito a nível oficial e litúrgico é alguém que está já noutro estágio. Mas na liturgia estão explícitos os vários serviços da igreja e passe a redundância, o serviço de estar ao serviço dos outros, dos irmãos, na caridade e em tudo o que é necessário e então temos a imagem dos acólitos que ajudam a pôr a mesa, no servir os que precisam e no serviço ao acolhimento, e no serviço da palavra. Por outras palavras, os acólitos não são figuras de aparato, mas têm uma missão concreta de, através da sua forma de estar, das suas túnicas ser também um sinal da beleza da liturgia e do batismo, porque a alva do acólito é a imagem do batismo, tem o mesmo significado, é a mesma veste que o menino pequenino ou o Papa usam para celebrar. Isto implica haver coerência entre o que se faz na igreja e o que se faz no dia a dia, isto é o acólito não pode agir de uma forma no altar e depois na sua vida não pôr em prática os ensinamentos que recebeu.

Jornal da Madeira – Há alguma idade específica para se iniciar o acolitado?
Pe. Luís Leal – Não há nenhuma data definida para uma criança começar a ser acólito. Tendo em conta que o acólito se aproxima do altar e tem esta presença para toda a comunidade da participação da Eucaristia, é importante que eles já possam participar na plenitude da Eucaristia através da Comunhão. É por isso que recomendamos, embora não seja força de lei, que já tenham feito a Primeira Comunhão. Embora sendo essa a situação ideal. Há comunidades que têm meninos mais pequeninos, o que já lhes garante uma formação e uma preparação para o altar.

Jornal da Madeira – E normalmente ficam até que idades?

Pe. Luís Leal – Depende. Mas normalmente a determinada altura da adolescência isso costuma acontecer. E se na comunidade não há esta escola de continuarem, mais facilmente eles saem porque pensam que já não é para mim. E depois entram na idade da vergonha e ficam mais acanhados por estar à frente, serem mais visíveis. Muitas vezes também isto implica com as suas vidas na escola e com os vizinhos, onde os fazem sentir diferentes o que os leva a desistir”. Caro que o ideal é prepará-los para conviverem com esses momentos menos bons e enfrentá-los não com sofrimento, mas com alegria e espírito de entrega.

Jornal da Madeira – Que influência o acolitado pode ter na caminhada cristã, destas crianças e adolescentes? 

Pe. Luís Leal – Esperamos que tenha muita importância! O acólito sendo aquele que acompanha, que acompanha Jesus Cristo, ao aproximar-se de uma forma muito especial do altar e do seu serviço, a sua vida interior deve também espelhar isso. Interior e também exterior, seja na escola ou, no caso dos mais velhos, no trabalho, com a família e amigos. Deve mostrar essa sua proximidade que acontece fisicamente em cada celebração, mas que depois também deve acontecer no seu coração e no seu dia-a-dia. Isso deve ajudá-lo a que também olhe para a sua vida de uma forma mais vocacional. Esse não é o primeiro objectivo do ser acólito; mas obviamente, como qualquer cristão – e neste caso um pouco mais – deve ser um aspecto muito importante a ter em conta. Seja qual for a forma vocacional!

“os acólitos não são figuras de aparato, mas têm uma missão concreta de, através da sua forma de estar, das suas túnicas ser também um sinal da beleza da liturgia e do batismo, porque a alva do acólito é a imagem do batismo”

Os recentes números sobre os abusos na Igreja afastaram acólitos do Altar?

Pe. Luís Leal – Que eu tenha conhecimento não. Não digo que não possa ter acontecido algum caso, mas de facto que eu tenha conhecimento não. De resto aqui como Igreja, como cristãos, todos temos de ter maturidade para discernir as várias circunstâncias. Claro que temos de estar atentos, vigilantes na Igreja, na escola, nos clubes desportivos, no bairro na família. Isto não desresponsabiliza a própria Igreja e os vários grupos de acólitos a estarem atentos a todas as circunstâncias. Agora, como já referi não tive conhecimento de qualquer saída por esse motivo e uma debandada muito menos.

Jornal da Madeira – Para terminar quantos acólitos existem em Portugal?

Pe. Luís Leal – Não tenho um número assim global. Posso dizer que varia de diocese para diocese, que algumas podem ter, sei lá três ou quatro mil acólitos, outras se calhar não chegam aos mil, ou aos 500. De qualquer forma, na Peregrinação Nacional de acólitos a média que temos tido anda à volta de 4 mil, 5 mil acólitos. O que não é nem metade dos acólitos que existem no país. Seja como for a verdade é que são todos bem-vindos e todos importantes, nomeadamente nas comunidades mais pequeninas, que os vê como uma esperança de alguma juventude que ainda vai tendo.