Kinshasa: Papa convida os congoleses à paz

Francisco presidiu a Missa para mais de um milhão de pessoas

“Jesus conhece as tuas feridas, conhece as feridas do teu país, do teu povo, da tua terra! São feridas que ardem, continuamente infetadas pelo ódio e a violência, enquanto o remédio da justiça e o bálsamo da esperança parecem nunca mais chegar”, disse, na homilia da celebração.

Francisco é o segundo Papa a visitar a RDC – São João Paulo II esteve no antigo Zaire, em 1980 e 1985 -, país com 105 milhões de habitantes, onde os católicos representam 49,6% da população, segundo dados do Vaticano.

“Irmãos, irmãs, somos chamados a ser missionários de paz, e isto nos encherá de paz. Trata-se duma opção: é dar espaço a todos no coração, é acreditar que as diferenças étnicas, regionais, sociais e religiosas vêm em segundo lugar e não são obstáculo”, apelou.

Numa intervenção em italiano – e lida em francês, por um sacerdote, para a multidão – o Papa convidou a contrariar os sentimentos de um “mundo desanimado com a violência e a guerra”.

“Hoje, juntos, acreditamos que, com Jesus, sempre temos a possibilidade de ser perdoados e de recomeçar, bem como a força de nos perdoarmos a nós mesmos, aos outros e à história”, apontou.

Francisco visita o país num momento de tensão no leste da RD Congo, sobretudo na fronteira com o Ruanda, zona rica em minérios onde existem mais de 100 grupos armados ativos, nomeadamente o Movimento 23 de Março (M23) e as Forças Democráticas de Libertação do Ruanda (FDLR).

A viagem, inicialmente programada para julho de 2022, foi adiada devido aos problemas no joelho que afetam o Papa; a passagem por Goma, no leste do país, foi retirada do programa, devido a questões de segurança para a população.

Que seja o momento propício para ti, que, neste país, te dizes cristão e todavia praticas a violência; a ti diz o Senhor: ‘Depõe as armas, abraça a misericórdia’. E a todos os feridos e oprimidos deste povo, diz: ‘Não tenhais medo de colocar as vossas feridas nas minhas, as vossas chagas nas minhas chagas’!

O Papa convidou todos os participantes a promover uma “grande amnistia do coração”, para promover o perdão e a paz.

“Como é bom abrir à sua paz as portas do coração e as de casa! E por que não escrever no vosso quarto, na vossa roupa, no exterior da vossa casa as suas palavras: A paz esteja convosco?”, recomendou.

Francisco deixou votos de que o testemunho dos católicos seja uma “profecia para o país”, sublinhando que “não há cristianismo sem comunidade, tal como não há paz sem fraternidade”.

A homilia alertou para os perigos “do poder e do dinheiro”, defendendo comunidades atentas aos mais pobres e sem divisões.

“A paz esteja convosco: diz Jesus hoje a cada família, comunidade, etnia, bairro e cidade deste grande país. A paz esteja convosco: deixemos que ressoem no coração, em silêncio, estas palavras de nosso Senhor. Ouçamo-las dirigidas a nós e escolhamos ser testemunhas de perdão, protagonistas na comunidade, pessoas em missão de paz no mundo”, concluiu.

A Eucaristia, segundo o rito zairense, teve como intenções a paz e a justiça, contando com orações em francês, lingala, tshiluba, swahili e kikongo.

No final da Missa, o Papa foi saudado pelo arcebispo de Kinshasa, o cardeal Fridolin Ambongo Besungu, que falou num país em crise, vítima de uma “agressão injusta”, apelando a eleições livres e pacíficas.

OC