Comunidades cristãs

D.R.

Ao longo desta semana, durante as Jornadas de Atualização do Clero, fui confrontado com dois modelos de comunidade: uma que pode ser chamada de comunidade sacralizada, e outra, comunidade missionária.

A comunidade sacralizada é uma comunidade fechada. Encerra em si um conjunto de propriedades que todos os membros assumem e partilham. São comunidades-espelho, em que os membros se refletem uns nos outros. Não há diferentes. Nesta totalidade autossuficiente, é formada uma linha bem definida entre o nós e os outros, entre os amigos e os inimigos, os iguais e os diferentes. Os que estão no exterior do grupo, os diferentes, constituem uma ameaça, e por isso são vistos como inimigos. Os “outros”, os estrangeiros, os pobres, os diferentes, colocam em questão o paradigma da totalidade fechada e excludente. Provocam medo. Essas comunidades são incapazes de dar lugar ao outro e de o acolher tal como é. O outro diferente só é integrado na medida em que perder a sua alteridade e tornar-se igual, numa fusão uniformizadora. 

Este modelo de comunidade rege-se por princípios tribais, formando uma bolha social. Estas são as comunidades que muitas vezes encontramos nas Redes Sociais, criadas por algoritmos que formam grupos de pessoas com a mesma visão do mundo. Partilham as mesmas crenças e os mesmos princípios. Formam monoculturas de pensamento único. Sem contato com os outros, a bolha desenvolve-se, originando em alguns casos, fanatismos, intolerâncias e extremismos. Os membros destas comunidades não procuram conhecer a realidade, mas apenas a confirmação do que já pensam ou informações que suportem o que já acreditam. A observação do mundo é feita somente através de filtros, de maneira unilateral e repetitiva que conduz a uma fixação do pensamento que encegueira. Nestas comunidades, torna-se impossível o diálogo e a argumentação, pois as opiniões diferentes são retidas nas peneiras dos preconceitos.

Outro modelo de comunidade, totalmente diferente, é o que podemos chamar de comunidade missionária. É uma comunidade aberta, em “saída”, orientada para fora de si. Não tem medo do outro diferente, pelo contrário, vai ao seu encontro pois esta é a sua vocação. Não pretende criar um sistema imune, “puro”, mas expõe-se ao outro, trazendo-o da periferia para o centro. A razão constituinte desta comunidade não é a confirmação dos seus membros, mas a procura pela ovelha perdida. O que alimenta a comunidade missionária é quem falta. “O que origina o comum não é, portanto, um conjunto de qualidades partilhadas, mas precisamente o reconhecimento de uma insuficiência fundamental (In João Duque, O próximo e a comunidade, 2021, p. 20). A comunidade missionária orienta-se pelo princípio da responsabilidade, em assumir uma exigência universal, concretizada na capacidade de reconhecer o outro diferente como irmão, ao estilo de Jesus.