O rei David anuncia ao profeta Natã a sua vontade de construir um templo para honrar e adorar a Deus que o fez chefe de Israel. Não é justo, diz David, que a arca de Deus se encontre numa tenda, como no tempo do deserto, enquanto o rei já possui uma casa de cedro. Natã não tem nada a opor a este desejo que é sinal de gratidão mas Deus faz-lhe saber que ninguém pode circunscrever a sua presença e a sua acção a um lugar. O lugar da sua presença é o mundo que ele criou e o povo que ele escolheu como sinal de salvação para os outros povos. Não são os homens que constroem uma casa para Deus, mas antes Deus que edifica a sua casa para os homens. Deus não se deixa fixar num lugar nem numa imagem. Ele é o Deus da Páscoa, da passagem, do Êxodo, da peregrinação. O verdadeiro templo de Deus é a sua presença na história pessoal de David e do seu povo: «Tirei-te das pastagens», «Estive contigo», «Dar-te-ei um nome» ilustre, «prepararei um lugar para o meu povo», «farei que vivas seguro». Todas as dimensões do tempo são transformadas pela Palavra de Deus: o passado leva à gratidão, o presente ao louvor, o futuro à esperança. O Senhor constrói a sua casa. «Se o Senhor não edificar a sua casa, em vão trabalham os que a constroem», diz o salmo 126.
O cântico de Zacarias, após ter recuperado a fala, é uma vasta acção de graças pelas obras de Deus. Ele «visitou e redimiu o seu povo». A visita de Deus é a sua Palavra dirigida ao homem desde a criação. É uma visita salvadora e constante ao longo da história. Deus envia um «salvador poderoso» e cumpre assim a promessa feita a Abraão e à sua descendência. A fidelidade de Deus e a sua misericórdia ao longo das gerações andam sempre unidas. A sua vinda é como «o sol nascente» que ilumina e vence a noite do mundo. A luz que brilha na aurora é a do nascimento de Jesus, luz que atravessa os séculos e continua a trazer a salvação. É assim que Deus constrói a sua casa e partilha connosco o seu amor.
– A Igreja é a construção de Deus. É a conformidade de vida ao Evangelho que faz crescer a Igreja. Isso liberta-nos do pessimismo e de querer construir apenas com as nossas forças e aptidões. Livra-nos também da tristeza que poderiam provocar as desilusões e os fracassos, unindo a nossa vida à cruz de Jesus.
-A luz de Cristo continua a nascer na Igreja vencendo a noite do pecado, da divisão e das pretensões humanas. Ela nasce em nós quando o recebemos na nossa vida, deixando-nos transformar por Ele.
– O facto de Deus construir a sua casa – a Igreja -, em nada diminui o nosso empenho. Pelo contrário, somos chamados a agir com o melhor de nós mesmos, pondo ao serviço de todos os dons que recebemos na Paróquia, no movimento a que pertencemos, na vida diocesana.
(In “Maria, Mãe da Vida” – Guião para as Missas do Parto 2022, Diocese do Funchal, pp. 37-38).