O profeta Malaquias designa o dia da vinda do Senhor como o dia da purificação e da reconciliação. O mensageiro que o Senhor vai enviar para abrir o seu caminho anunciará ao mesmo tempo esta purificação e esta reconciliação. Duas imagens são empregadas pelo profeta para simbolizar esta purificação: o fogo do fundidor e a lixívia dos lavandeiros. Ambas significam a acção do próprio Deus no seio da humanidade pecadora. Ele afasta o pecado e transforma o pecador para que encontre vida nova na fidelidade à Aliança e seja justo. Os tempos não caminham finalmente para o declínio da morte mas para a grande transformação de Deus. Por isso, o anúncio do dia do Senhor é sempre sinal de passagem para a vida, sinal de esperança. Deus nunca deixa, através dos seus profetas, e na figura emblemática de Elias, de chamar à reconciliação porque, se o seu dia é «grande e terrível» como afirma Malaquias, isso não se deve a uma acção divina devastadora mas à instauração dos tempos novos da reconciliação e da paz. Este é aliás o anúncio do novo Elias que há-de vir: reconduzir o coração dos pais a seus filhos e o coração dos filhos a seus pais. Tal é a missão de João Batista no limiar dos tempos novos, assim como dos Apóstolos depois da Páscoa. A Igreja, transformada pelo perdão pascal, é chamada a ser anunciadora do perdão, condição para a paz. A glória de Deus e a paz na terra passam pela reconciliação.

O silêncio de Zacarias, resultante da sua falta de fé no anúncio do Anjo sobre o nascimento do filho, é um caminho de purificação e de conversão. Há silêncios que fecham em si e afastam dos outros, mas não é esta a atitude de Zacarias. O seu silêncio é o da meditação da Palavra de Deus, do confronto interior consigo mesmo, da abertura progressiva à fé na acção de Deus. No momento decisivo, ele soube reconhecer a verdade do anúncio do anjo. O tempo do silêncio foi o da sua conversão. Ele confirma, como sua esposa Isabel, que o nome do filho será João. Rompe assim a tradição de escolher o nome do filho entre os nomes de família, evocando a novidade da missão que lhe fora anunciada para este filho. Ele é o novo Elias a quem o Senhor incumbe de «converter os corações dos pais aos filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos» Lc 1, 17. Zacarias percorre o itinerário do silêncio e da meditação, oportunidade para a conversão, até à efusão da palavra de louvor a Deus, sinal da capacidade de comunicação que Deus dá a quem se converte.
-É nossa missão na Igreja e no mundo viver a re-
conciliação e o perdão de Deus, para sermos missionários desse perdão.
-Nunca devemos desistir de esperar, rezar e agir para a reconciliação com todos e em especial no interior da família.
-Estamos conscientes de que o tempo do Advento e Natal é para nós um tempo para a reconciliação nas famílias, sem a qual não há verdadeira festa?
– A conversão a que somos chamados precisa do silêncio da oração para poder abrir-nos a uma comunicação sã e verdadeira entre nós.
(In “Maria, Mãe da Vida” – Guião para as Missas do Parto 2022, Diocese do Funchal, pp. 33-35).