“Graças a Deus que a Imaculada Conceição voltou ao seu cantinho”

Na homilia, D. Nuno Brás frisou que o povo madeirense não se deixa nunca desanimar diante das adversidades e continua sempre a lutar, tenazmente e esta reconstrução é uma prova disso.

Foto: Duarte Gomes

“Graças a Deus que a imaculada Conceição volta ao seu cantinho”. Esta foi talvez uma das frases que mais se ouviu no Largo das Babosas, no Dia da Imaculada Conceição deste ano de 2022.

Doze anos depois da aluvião do 20 de fevereiro ter destruído a pequena capela, a mesma foi reconstruída e a imagem pôde “regressar a casa”, como diziam outros tantos.

A “mudança” começou ainda na igreja do Monte, onde a imagem tem permanecido todos estes anos, juntamente com um cruxifixo. Aos ombros dos carreiros, num andor oferecido pelos próprios, foi levada até ao Largo das Babosas, acompanhada por centenas de fiéis e de representantes de várias entidades civis, militares e religiosas.

Aí começou a cerimónia de consagração do pequeno templo. Um momento com ritos próprios, carregados de simbolismo e espiritualidade que começa com o bispo da Diocese a receber a chave, desta feita das mãos do arquiteto Cunha Paredes, que esteve à frente do Projeto de reconstrução da capela, a abrir as portas do Santuário e a entrar.

Atrás dele seguiram os sacerdotes que com ele concelebraram, autoridades regionais e locais e fiéis, os tais que esperaram tanto por este momento e cuja resiliência D. Nuno Brás fez questão de sublinhar.

Lá dentro havia luz apenas na zona do altar, ainda desnudo. Não havia flores, nem velas acesas. Sempre com a ajuda dos carreiros, a imagem foi colocada no seu de devido lugar. O momento gerou muita emoção e alguns não conseguiram mesmo conter as lágrimas.

  1. Nuno Brás continuou procedendo à bênção da água, com que aspergiu o altar, a assembleia e as paredes.

Não desanimar

Na homilia, D. Nuno Brás sublinhou a resiliência do povo madeirense e a sua vontade de ver a capela reconstruída, o que aconteceu com luta e muito trabalho e a necessidade ultrapassar alguns entraves que foram surgindo pelo caminho.

“É assim o povo madeirense, que não se deixa nunca desanimar diante das adversidades, que perante aquilo que podem parecer derrotas definitivas continua sempre a lutar tenazmente, a trabalhar com todo o vigor”, vincou o prelado”.

A fé, continuou, também é assim. “A nossa vida da fé é este tantas vezes sermos derrotados pelo pecado e acharmos que não conseguimos levantar, mas a acabarmos por o fazer, porque a fé convida-nos sempre a não desistir, a fé convida-nos sempre a erguer precisamente porque a fé nos diz que Deus não desiste de nós e não só não desiste como partilha, também Ele, o nosso sofrimento e até aceita as próprias consequências do pecado”, frisou.

Isso mesmo representa a cruz, é símbolo “deste Deus todo vergado pelo pecado humano que faz suas as nossas dificuldades e que nos diz que é importante não desistir, porque há sempre solução e caminho a seu percorrido, há sempre possibilidade de reconstrução”.

Exemplo disso esta igreja, que nos convida a nós “a nos reconstruirmos, não à imagem do homem velho, mas à imagem do homem novo que é Jesus Cristo, que é a Virgem Maria”, com quem prosseguiu “queremos ser parecidos, porque Ela é verdadeiramente a imagem de Deus connosco, a imagem daquilo que podemos e devemos ser quando nos deixamos habitar e transformar pela graça de Deus, porque Ela é o verdadeiro templo do Senhor”, constatou.

“Ao dedicarmos este templo, sintamo-nos verdadeiramente chamados a ser templos do Senhor, a deixar que Deus habite em nós e connosco, sintamo-nos verdadeiramente chamados a sempre nos erguermos do pecado, sabendo que Jesus Cristo, da Cruz, encontrou solução para tudo, até mesmo para a morte”.

Capela feita de muitas mãos

A cerimónia prosseguiu com outros ritos importantes, nomeadamente a unção do altar e das quatro cruzes colocadas, uma junto ao Santíssimo Sacramento e as restantes três nas paredes ali existentes, a incensação do altar e dessas mesmas cruzes, o iluminar do templo para além do altar, o acender das velas e a colocação das flores nos locais designados para o efeito.

Coube ao Pe. Vitor Sousa, pároco do Monte, “agradecer a todos aqueles que colaboraram para que esta capela tenha sido reconstruída é”, em primeiro lugar a Deus a quem tudo é possível, aos paroquianos e particulares que colaboraram com as suas ofertas.

A Capela da Conceição, vincou o sacerdote, “é uma capela feita por muitas mãos, porque, efetivamente foi por vontade popular que se quis reconstrui a mesma e a partir desse momento foram muitos os que se associaram”.

Agradeceu também a presença de D. Nuno Brás e demais sacerdotes, bem como às entidades regionais presentes.

No encerramento da dedicação foi lida a acta desta mesma cerimónia, que foi assinada pelo bispo diocesano, pelo pároco e pelas entidades presentes.

Recorde-se que a reconstrução da capela, da responsabilidade da paróquia de Nossa Senhora do Monte, começou em julho de 2019, contou com o apoio do Governo Regional (em cerca de 200.000 conforme o contrato-programa assinado) e com o donativo de diversas instituições e pessoas particulares.

Apesar de não constar do projeto inicial, a reconstituição do altar de talha dourada da capela foi realizada de forma integral pela paróquia de Nossa Senhora do Monte.

No adro junto da capela existe agora um monumento às vítimas do 20 de fevereiro, da autoria do escultor Gilberto Melim, que foi benzido por D. Nuno Brás, não sem antes Graça Alves ter feito uma pequena alusão aos acontecimentos daquele fatídico dia de 2010.