Há alguns dias a minha neta veio-me mostrar um bebé em formato mínimo que tinha encontrado no chão, referindo, que era tão bonito que o tinha guardado. Olhámos enternecidas para o pequeno bebé tão meigo e desprotegido parecendo querer pedir colo e proteção. Pela minha mente surgiu a importância do valor da vida, bem como toda a sua beleza. Na verdade a vida não é fácil já que a natureza do homem tem muito sofrimento. Como manter a esperança? Alguém referiu a oração como um contributo essencial, enquanto escola de esperança, já que quando mais ninguém nos ouve, Deus está presente enquanto Pai atento e preocupado. Ouve-nos sempre, aconteça o que acontecer. Só seremos completamente felizes quando um dia, terminado o nosso percurso terreno O virmos face a face.
Por nos encontrarmos presentemente na época de verão, recordei uma conferência em que participei há pouco tempo, cujo orador referiu, dando ênfase à importância da oração: “Torna-se necessário bronzear igualmente a alma, através da oração”. Jesus fica sempre connosco. “Tu, divino peregrino, conhecedor dos nossos caminhos e do nosso coração não nos deixes presos nas sombras da noite”. (Carta Apostólica de João Paulo II). Vale sempre a pena viver pese embora todos os constrangimentos vivenciados. A vida tem um valor enorme. Seremos santos tentando superar todas as dificuldades. Por vezes com sucesso, mas isso nem sempre acontece. Temos de aceitar e seguir em frente. Num mundo extremamente turbulento, materialista, com poucos valores, reveste-se de grande importância incentivar para uma educação que contemple a misericórdia, o serviço aos outros, a boa vontade, o voluntariado, a importância do afeto, com uma particular atenção, àqueles que não nos podem devolver o apoio que lhes concedemos, dando cor à vida, tornando-a menos cinzenta e triste.
Hoje em dia, há tantos exemplos que nos comovem, pessoas extremamente bondosas, com um coração enorme e que ajudam dentro das suas possibilidades e muitas vezes para além do possível, em silêncio, com muito sacrifício da sua parte. Também através da oração muitas pessoas ajudam a tornar a vida mais fácil aos outros. Quantas vezes teremos ouvido. “Rezo por si!” Recordei S. Josemaria Escrivá, em Caminho, que referiu a propósito da oração: “Escreveste-me. «Orar é falar com Deus – De quê? D´Ele e de ti: alegrias, tristezas, êxitos, fracassos, ambições nobres, preocupações diárias…, fraquezas! E ações de graça e pedidos, e Amor e desagravo. Em duas palavras, conhecê-lo e conhecer-te, ganhar intimidade!» Quantos apoios desinteressados teremos recebido ao longo da nossa vida. Como é gratificante tornar a vida dos que se encontram ao nosso lado mais amável e menos dura. Apagar o mal com abundância de bem, já que há mais alegria em dar do que em receber, independentemente de todas as dificuldades que possamos vivenciar, sabendo enfrentar as nossas cruzes em paz e com alegria. “Quem semeia carinho, recolhe carinho”. Faço igualmente jus à frase: “Amamos quando nos damos”.
Fiquei a meditar sobre o valor da oração. Pela minha mente surgiu uma mensagem recebida de uma amiga que referia um artigo publicado na Acidigital, sobre um médico que praticou inúmeros abortos, denominado Bernard Nathanson, que se viria a converter ao catolicismo e a tornar-se um forte defensor da vida. Segundo ele, a sua conversão resultaria inconcebível sem a oração que muitas pessoas elevaram a Deus pedindo por ele. São suas as palavras que pronunciou, emocionado, no dia em que o falecido Cardeal O´Connor o batizou: “Estou totalmente convencido que as suas preces foram escutadas por Ele”. Percebi que a vitória está em Cristo, olhando para a Cruz. No final da cerimónia referiu: “Não posso dizer como estou agradecido, nem a dívida inestimável que tenho para com todos aqueles que rezaram por mim durante todos os anos em que me proclamava ateu. Rezaram teimosa e amorosamente por mim… Conseguiram que brotassem lágrimas nos meus olhos”. Realmente este testemunho é deveras impressionante! Somos peregrinos, pecadores, mas nunca é tarde para regressarmos à casa do Pai, que nos perdoa e nos acolhe sempre, carinhosamente, de braços abertos, disposto a perdoar-nos.
Temos os pés de barro, precisamos do Seu Amor e compreensão. Também que nos conceda o gosto pela vida, na sua plenitude. Que nos ajude a caminhar na terra sempre confiantes, alegres, cheios de esperança, com os olhos colocados no Céu, independentemente das dificuldades que sempre iremos atravessar ao longo da nossa vida. A conversão deste médico que era a favor do aborto, revestiu-se de grande importância, recriando a esperança num mundo que defenda a vida desde a sua conceção através, entre outros, da oração. A Declaração Universal dos Direitos Humanos no Artigo 3º refere: “Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”.
A Pontifícia Academia para a Vida declarou: “A proteção e a defesa da vida humana não é um bem que possa ficar circunscrito ao exercício dos direitos individuais, mas é sim um assunto de ampla transcendência social”. Em 15 de Março de 1995, São João Paulo II, na Carta Encíclica “Evangelium Vitae”, defende o valor e a inviolabilidade da vida humana. O Papa Francisco 25 anos depois, em 25 de Março de 2020, em sede de Audiência Geral, enfatizou: “A mensagem da Encíclica Evangelium Vitae é mais atual do que nunca. Toda a vida humana tem um valor inestimável. Além das emergências, como as que estamos a enfrentar, é uma necessidade atuar ao nível cultural e educacional para transmitir às gerações futuras uma atitude de solidariedade, cuidado, hospitalidade, sabendo muito bem, que a cultura da vida, não é um património exclusivo dos cristãos, mas pertence a todos aqueles que, lutando pela construção de relacionamentos fraternos, reconhecem o valor de cada pessoa, mesmo quando é frágil e sofrida… Os ataques à dignidade e à vida das pessoas continuam na nossa era, que é a dos direitos humanos universais.
Olhei novamente para o meigo bebé que me levou a tecer estas considerações. Pensei no valor da vida e na sua beleza, ainda que a par de tantas situações nefastas, de flagelos, de atentados contra a humanidade, que muito nos entristecem, mas com os olhos colocados no Céu ansiando por um futuro mais justo, humano, solidário, onde a dignidade e o valor da vida humana possam imperar.