Pe. Eleutério

D.R.

No dia 12 de maio, os sinos da igreja de São Sebastião em Câmara de Lobos marcavam com badaladas lentas o sinal fúnebre. A igreja estava completamente lotada. Foram muitos os que quiserem participar na missa das exéquias do padre Eleutério Ornelas. 

Para além de um grande número de sacerdotes, marcaram presença muitos paroquianos de São Sebastião e do Carmo, onde o Pe. Eleutério era atualmente vigário paroquial. Também estava presente um grande grupo de pessoas da paróquia do Jardim da Serra que o teve como pároco durante 22 anos. 

Foi um momento solene e triste pela partida inesperada de um sacerdote que se dedicou ao povo de Deus e à cultura. 

Frequentou a Universidade Clássica de Lisboa e fez uma especialização em Sagrada Escritura na Universidade Gregoriana em Roma. Foi professor de português em diversas escolas e por 17 anos lecionou na Universidade da Madeira, latim, grego e cultura clássica.

No final da Eucaristia, enquanto o caixão estava a ser transportado para a carrinha funerária, surgiu espontaneamente um aplauso que se estendeu por vários minutos. Foi um gesto de gratidão, amizade e reconhecimento. Ao meu lado estava um sacerdote que partilhava comigo: “nunca vi nada assim”.

Conheci o Pe. Eleutério na paróquia do Jardim da Serra, onde realizei dois anos de pastoral enquanto estudava filosofia na Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, no edifício junto à igreja do Colégio, no Funchal. Aí também o Pe. Eleutério, com muita paciência, nos deu aulas de hebraico. 

Todos os fins de semana lá fazia a viagem da Rua do Jasmineiro até à (antiga) igreja de São Tiago. Na pastoral, lembro-me de trabalhar com os jovens da catequese e na animação litúrgica. 

Nos primeiros encontros que tive com o Pe. Eleutério fiquei surpreendido com a sua vasta cultura. Gostava especialmente de o ouvir falar dos textos bíblicos. Como era preciso voltar às fontes, às palavras e aos gestos de Jesus!

Na época, o Pe. Eleutério partilhou que o livro que tinha na mesa de cabeceira, e que lia diariamente, era o Novo Testamento no original grego. Era realmente um homem dedicado à Palavra e à escuta. Homem livre.