D. Nuno Brás presidiu este sábado, dia 25 de dezembro, à Missa de Natal, na Sé do Funchal. Uma celebração em que o prelado lembrou que o Verbo fez-se carne e é, frisou “a chave e a lógica de tudo quanto existe”.
A manifestação do Verbo em carne humana, continuou D. Nuno na sua homilia, “para além de um acontecimento histórico” é um acontecimento que nada tem de “mítico ou mágico” e não acontece “fora do tempo, acima do suceder dos dias e dos anos”. Bem pelo contrário, frisou D. Nuno.”Esse acontecimento “tem coordenadas históricas bem precisas. É um acontecimento em tudo semelhante aos nossos acontecimentos humanos. Nessa sua dimensão, é um acontecimento do passado”.
Contudo, “mesmo que fosse apenas um acontecimento do passado, devemos reconhecer que Ele mudou e continua a mudar radicalmente a história do mundo, o nosso presente. Basta pensar em todos os acontecimentos históricos que Ele desencadeou ao longo destes dois mil anos”.
De resto, “porque é acontecimento de Deus na história, o Natal torna-se presente a cada tempo e a cada homem”, lembrou o prelado, para logo acrescentar que “sendo o acontecimento de Deus que se faz homem, que se limita a si mesmo para que O possamos contemplar, ver, escutar, sentir, tocar (cf. 1Jo 1,1) e desse modo possamos definitivamente retomar o caminho para o Pai — sendo Deus que se faz homem, Deus que se faz nosso companheiro de jornada, “caminho, verdade e vida”, meta do nosso caminhar, aquele acontecimento ultrapassa todos os limites do espaço e do tempo, para se fazer presente a cada um de nós”.
É por isso, que “hoje celebramos não apenas um acontecimento do passado, mas um acontecimento do presente”, frisou o bispo diocesano, de acordo com quem “este Jesus nascido no Presépio de Belém, o Verbo a quem a Virgem Maria deu carne, se quer fazer encontrado de todo e qualquer ser humano, de todo e qualquer tempo, de toda e qualquer cultura”.
Com razão, acrescentou depois o prelado, “o místico alemão Ângelo Silésio (1624-1677) afirmava: “Ainda que Cristo nasça mil vezes em Belém, se não nascer dentro de ti, permaneces perdido para a eternidade” (Il viandante cherubico, Milano, 1942, 18)”.
“Ao contrário, se O acolhes, se O deixas nascer em ti, toda a tua vida (cada momento do teu existir) adquire um outro sentido, um novo horizonte”, garantiu.
Na verdade, “o teu pensamento deixa a simples lógica humana para adquirir as razões da fé; o teu agir espalha à tua volta sinais da presença de Deus; o teu olhar passa a dizer a misericórdia divina; os teus ouvidos tornam-se acolhedores do próximo, espelho do acolhimento que recebeste do Senhor; o teu coração passa a bater com o coração de Deus; as tuas mãos passam a ser construtoras dum mundo novo. Tudo em ti passa a ser presença, expressão do Deus feito carne”, constatou.
Hoje, disse D. Nuno Brás a concluir a sua reflexão, “Deus quer ficar para sempre unido à tua, à nossa humanidade”. Por outras palavras, “quer que a carne pecadora e frágil do ser humano, o barro em que fomos moldados, seja o lugar onde Ele se mostra, para tudo salvar: cada homem, cada cultura e civilização, o inteiro universo”. Essa. frisou, “é a maravilha e o mistério do Natal. Saibamo-lo viver e anunciar neste dia Santo de Natal”.
A terminar a Eucaristia o prelado dirigiu-se à assembleia presente na Sé, mas “de uma forma particular àqueles que, estando doentes, nos acompanharam através do Posto Emissor do Funchal e do Facebook da Sé a quem pediu que “deixemo-nos invadir por esta alegria do Natal porque ela é a alegria do Deus connosco que veio para nos salvar.
A concluir, de referir que esta Eucaristia voltou a ser solenizada pelo coro Solidéu, desta vez numa versão mais reduzida do que na Missa do Galo e que os dois diáconos ordenados este ano por D. Nuno Brás também ocuparam os seus lugares nesta celebração, que contou ainda com a presença dos seminaristas da diocese.
Leia na íntegra a homilia do bispo diocesano:
SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR
Missa do Dia
Catedral do Funchal, 25 dezembro 2021
1. “O Verbo fez-se carne”: a Palavra pronunciada pelo Pai desde toda a eternidade; o dizer-Se de Deus; a manifestação que Deus faz de Si para que O encontremos; o mostrar-Se em todo o Seu ser — Palavra presente na criação do universo; Palavra presente de um modo especial em todo o ser humano; Palavra presente na história, nos seus acontecimentos e no sentido que eles revelam; a chave e a lógica de tudo quanto existe — a Palavra, o Verbo de Deus, fez-Se carne e habitou no meio de nós. “Semelhante aos homens e reconhecido no seu aspecto como um homem”, diz o hino da Carta aos Filipenses (2,7b). Um Homem entre os homens. Frágil e mortal como todos os seres humanos.
Essa manifestação do Verbo em carne humana foi, portanto, um acontecimento histórico. S. Lucas afirma-o de um modo claro: tudo sucedeu quando “saiu um decreto de César Augusto para ser recenseado todo o mundo habitado. Este primeiro recenseamento realizou-se quando Quirino era governador da Síria” (Lc 2,1-2). O nascimento de Jesus, o Natal, não é um acontecimento mítico ou mágico, fora do tempo, acima do suceder dos dias e dos anos. Bem pelo contrário: tem coordenadas históricas bem precisas. É um acontecimento em tudo semelhante aos nossos acontecimentos humanos. Nessa sua dimensão, é um acontecimento do passado.
2. Contudo, mesmo que fosse apenas um acontecimento do passado, devemos reconhecer que ele mudou e continua a mudar radicalmente a história do mundo, o nosso presente. Basta pensar em todos os acontecimentos históricos que ele desencadeou ao longo destes dois mil anos.
Contudo, porque é acontecimento de Deus na história, o Natal torna-se presente a cada tempo e a cada homem. Sendo o acontecimento de Deus que se faz homem, que se limita a si mesmo para que O possamos contemplar, ver, escutar, sentir, tocar (cf. 1Jo 1,1) e desse modo possamos definitivamente retomar o caminho para o Pai — sendo Deus que se faz homem, Deus que se faz nosso companheiro de jornada, “caminho, verdade e vida”, meta do nosso caminhar, aquele acontecimento ultrapassa todos os limites do espaço e do tempo, para se fazer presente a cada um de nós.
Por isso, hoje celebramos não apenas um acontecimento do passado mas um acontecimento do presente. Porque este Jesus nascido no Presépio de Belém, o Verbo a quem a Virgem Maria deu carne, se quer fazer encontrado de todo e qualquer ser humano, de todo e qualquer tempo, de toda e qualquer cultura.
Quer encontrar-te a ti que participas desta Eucaristia solene de Natal, porque quer ser o teu Salvador — Ele que dá à vida de cada homem um novo sentido; que, a quem O acolhe, abre um novo horizonte; que oferece a vida sem fim e sumamente feliz, a vida eterna, àquele que se deixa transformar, converter pela sua presença. Com razão o místico alemão Ângelo Silésio (1624-1677) afirmava: “Ainda que Cristo nasça mil vezes em Belém, se não nascer dentro de ti, permaneces perdido para a eternidade” (Il viandante cherubico, Milano, 1942, 18).
Ao contrário, se O acolhes, se O deixas nascer em ti, toda a tua vida (cada momento do teu existir) adquire um outro sentido, um novo horizonte. O teu pensamento deixa a simples lógica humana para adquirir as razões da fé; o teu agir espalha à tua volta sinais da presença de Deus; o teu olhar passa a dizer a misericórdia divina; os teus ouvidos tornam-se acolhedores do próximo, espelho do acolhimento que recebeste do Senhor; o teu coração passa a bater com o coração de Deus; as tuas mãos passam a ser construtoras dum mundo novo. Tudo em ti passa a ser presença, expressão do Deus feito carne.
Hoje, Deus quer ficar para sempre unido à tua, à nossa humanidade. Quer que a carne pecadora e frágil do ser humano, o barro em que fomos moldados, seja o lugar onde Ele se mostra, para tudo salvar: cada homem, cada cultura e civilização, o inteiro universo. Essa é a maravilha e o mistério do Natal. Saibamo-lo viver e anunciar neste dia Santo de Natal.