O Menino incomoda

D.R.

Os “deuses” regressaram. Tal como “o divino” e “a magia”. São palavras usadas por uma sociedade que deixou de ser cristã, para falar de qualquer coisa que nos atrai e provoca bem-estar. Não significam propriamente uma atitude de “fé”… Pelo menos para a grande maioria. 

É por isso que se fala da noite de Natal como “a noite mais mágica do ano”: quem o diz, quer referir-se às luzes, aos presentes, ao entusiasmo infantil, à felicidade de uma família reunida, àquela sensação de harmonia e bem-estar que parece afugentar, por momentos, a tristeza e as dificuldades.

Mas quando S. João anuncia, logo a abrir o seu evangelho, que “o Verbo se fez carne” — quer dizer: que Deus se fez homem — está a afirmar que a realidade frágil, mortal, pobre, material e mesmo pecadora do ser humano  foi como que “requisitada” por Deus para se transformar no modo de Ele se tornar presente ao mundo e à história. Está a dizer, afinal, que, desde esse acontecimento, Deus tem a ver com todos os momentos da nossa vida. 

E um Deus assim presente, incomoda e transforma. Só um Deus assim presente — tão presente que nada lhe escapa, e que tudo contagia com a sua vida e o seu amor (e, por isso, tudo transforma e eleva) — um Deus assim, incomoda. Mas também oferece um novo rumo.

O Menino do Presépio veio para incomodar. Foi assim no seu nascimento; foi assim na sua morte e ressurreição e ao longo da história do cristianismo. É assim ainda hoje.