Quem não vive para servir, não serve para viver (Mahatma Gandhi)

D.R.

No 1º de maio, ainda próximo, comemorou-se o dia da trabalhadora e do trabalhador. Este ano de 2021, convida-nos a refletir sobre várias realidades e perspetivas, que a crise do coronavírus 19 tem vindo a revelar: que, apesar de tanta angústia e sofrimento, existem muitas pessoas generosas no mundo; que a evolução socioeconómica deverá acompanhar uma gestão da natureza que seja simultaneamente respeitadora das leis naturais; que dependemos estritamente uns dos outros; que somos seres vulneráveis e que uma sociedade, para ser humana e justa, precisa de ser solidária.

No tratamento de milhões de infetados, sobressaem as profissões relativas ao cuidado das pessoas. Vocábulos relacionados com “cuidar” fazem manchetes: acompanhar, chorar, proteger, escutar… Esta situação faz-nos pensar no objetivo e no limite de qualquer trabalho. De alguma forma, compreendemos melhor que o serviço dedicado e generoso é a alma da sociedade, aquilo que dá um sentido genuíno ao trabalho e que lhe devolve o seu valor intrínseco no desenvolvimento ético e espiritual de quem o executa com esmero, para servir.

A Sagrada Escritura, que narra as origens da humanidade, mostra que Deus criou a mulher e o homem “para que trabalhassem” e para que cuidassem do mundo (Génesis 2, 15). O trabalho não é assim um castigo, mas antes e bem ao contrário, é a condição natural do ser humano que recria o universo, o cuida e protege, participando no desenvolvimento de cada ser humano e na promoção justa da sociedade. Ao trabalhar, estabelecemos um elo privilegiado com Deus e com os outros, veiculando uma crescente melhoria interpessoal entre todos.

O testemunho exemplar de tantos profissionais, crentes ou não, à pandemia demonstrou esta dimensão de serviço e ajuda-nos a pensar que o destinatário final de qualquer tarefa ou profissão é alguém com um nome e um apelido, alguém, que é ser humano, com uma dignidade inalienável.

 É totalmente desejável integrar no trabalho, mesmo que seja monótono, a perspetiva da pessoa, que é a do serviço, que vai para além do que é devido pela retribuição recebida.

Penso que precisamos todos de esperança, para transformar os obstáculos em caminhos e os caminhos em novas oportunidades. Precisamos da esperança para estarmos mais unidos e apostados na construção de sociedades eticamente edificadas, sociedades que promovam e concretizem, na prática, a justiça social e a fraternidade entre todos os homens. É evidente que isto depende do envolvimento responsável de cada um no seu compromisso social na comunidade em que se insere e no empenhamento que procure colocar, na dinamização de uma nova cultura de cidadania, tão necessária, promotora da igualdade de direitos de cada pessoa, no cuidado do outro e do bem comum.

 Maria Luísa Dias Pereira