Veio-me ao pensamento um amigo que já não se encontra entre nós e que costumava referir que tinha juventude acumulada nos seus oitenta e muitos anos. Na verdade, multiplicava-se em iniciativas, que fosse no apoio a diferentes instituições sociais, quer no apoio à família, em particular aos netos. Tenho tido a minha neta comigo em aulas online neste confinamento. Desdobro-me em atividades para a entreter nas pausas. Passagens de modelos com os meus fatos antigos, diferentes jogos, leitura, piquenique no chão da sala, entre outros. Há dias consegui vencer a sua resistência em permanecer em casa e levá-la ao Parque. Fazia-lhe falta um pouco de sol e de movimento. Ficou feliz ao chegar. Corria, saltava, observava o lago com tartarugas. A certa altura, pediu-me para jogarmos às escondidas. Fez-me pena ver o seu isolamento, sem crianças para brincar. Foi aí que recordei o meu amigo sempre disponível para ajudar. Anuí, pensando que os avós hoje em dia têm de se multiplicar numa série de atividades. E percorremos o parque escondendo-nos… Como estava feliz! Posteriormente, fomos à igreja, que se encontrava aberta, para acender uma vela, e de joelhos fez um pedido especial. No jardim da igreja, mostrou-me, muito saudosa, os diferentes lugares onde na qualidade de escuteira costumava desenvolver algumas atividades. Acompanhei-a com o maior interesse. Regressámos a casa bem cansadas mas com um enorme sorriso nos lábios, estávamos a construir a vida juntas. Compartilhávamos momentos, estava perto dela, colocava o meu coração no seu coração. O nosso papel é aquele que vamos descobrindo através das circunstâncias que se nos deparam.
E precisamente ontem assisti a mais um webinar preparatório da 11ª reunião do Open-Ended Group of Ageing que vai ter lugar nas Nações-Unidas no final do mês, em que muito se falou da necessidade de promover cada vez mais as relações intergeracionais; de fortalecer os direitos humanos e a proteção legal; de criar políticas de crescimento inclusivas; de criar uma proteção social mais forte; das desigualdades extremas e da multidimensional pobreza causada pela doença Covid-19; entre muitos outros, em que os idosos sofreram e não foram ouvidos. Que tempos difíceis que atravessamos.
Vamos acreditar com esperança e confiança que todos os esforços a desenvolver pelos diferentes países alcancem os efeitos propostos para se alcançar o bem da humanidade. A desesperança, a impotência, a solidão podem afetar a saúde. O amor cura, a falta de amor afeta a saúde. Para o mundo podemos ser só mais uma pessoa. Contudo, num momento determinado, para alguém específico, podemos ser efetivamente todo o seu mundo. E nós, tal como a pedra no charco que vai alargando constituindo toda uma série de círculos, queremos ser esse mundo dando o nosso contributo para a sociedade através da nossa atitude e dos mecanismos de que dispomos, desenvolvendo a capacidade de amar mais o próximo acreditando que um pequeno circulo, unido a muitos outros círculos, obterá uma grande potencialidade e o mundo progredirá no caminho do bem, combatendo a indiferença, amando o mundo com um sentido elevado. Procuremos ser sal da terra e uma pequena luz discreta no mundo.
Entretanto pude acompanhar a chegada do Papa Francisco na sua viagem ao Iraque. Não podia ficar indiferente ao seu apelo às autoridades: Calem-se as armas! Os iraquianos querem viver e rezar em paz…”Tudo isto trouxe morte, destruição, ruínas ainda visíveis. Os danos são ainda mais profundos, quando se pensa nas feridas dos corações de tantas pessoas e comunidades que precisarão de anos para se curar”. “…Chega de violências, extremismos, fações, intolerâncias”, disse ainda Francisco, pedindo que se dê espaço e voz aos artífices da paz, ao povo simples que quer viver, trabalhar, rezar em paz… O nome de Deus não pode ser usado para justificar atos de homicídio, de exílio, de terrorismo, de opressão.
Concluo este artigo denominado “Juventude Acumulada versus Novas Realidades”, de que o Santo Padre é um exemplo inestimável em prol do bem comum, na defesa da paz e de quem mais precisa, pedindo esperança, unidade e zelo pastoral, com um Tweet da Viagem Apostólica ao Iraque: “Somente se conseguirmos olhar uns para os outros, com as nossas diferenças, como membros da mesma família humana poderemos iniciar um eficaz processo de reconstrução e deixar às futuras gerações um mundo melhor, mais justo e humano”.