O dia mais negro
O dia 4 de junho 1989, ficou na nossa memória como o dia mais negro da história da China pós-Mao. O massacre na Praça Tiannamen em Pequim, permanece como símbolo da repressão sistemática e brutal que tem sido uma marca do Partido Comunista Chinês (PCC). Naquela grande Praça retangular, com a figura de Mao no topo, senti-me horrorizado, passeando lentamente a meditar no massacre perpetrado ali e ruas convergentes, com cerca de 5 a mil mortos. O sangue da liberdade jorrando. Parecia-me que isso estava a acontecer debaixo dos meus pés, ali ao lado…
A insistência da comunidade católica de Hong Kong em comemorar o acontecimento fala muito sobre o significado da data para a comunidade e para católicos chineses, cristãos e outros crentes.
Apesar da proibição da tradicional vigília noturna, realizada no Victoria Park no centro de Hong Kong nos últimos 30 anos, milhares de pessoas enfrentaram a ameaça de retaliação policial para romper barreiras metálicas e acender velas no parque.
Como todos os partidos comunistas, o PCC é ateu. O Vaticano interrompeu as relações com Pequim em 1951. Em 2018, o Papa Francisco assinou um acordo provisório sobre a nomeação de bispos. Mas este acordo não interrompeu a campanha do líder chinês Xi Jinping de reprimir e sinicizar o cristianismo e outras religiões.
O massacre de 1989 assustou o povo de Hong Kong. Um milhão de pessoas marcharam na cidade e deram apoio físico e financeiro aos manifestantes de Pequim.
O cardeal Zen disse à emissora italiana Tg2 que não há chance de dialogar com Pequim. “O governo chinês só quer esmagar protestos e eliminar todas as formas de democracia em Hong Kong.
Ficará na história que o mundo, incluindo as periferias da China em Hong Kong e Taiwan, manterão viva a chama da liberdade, nunca esquecerão o hediondo massacre.
Perseguição aumenta
O secretariado português da AIS informou que a “situação da Igreja perseguida veio a piorar ao longo destes 20 meses de Acordo Provisório” assinado entre a Santa Sé e o Governo chinês.
“O Governo aproveitou este acordo para enganar os membros do clero, tanto bispos como presbíteros, para que acreditem que não faz sentido estar fora da igreja patriótica, isto é, fazer parte dela é a única solução”, escreveu alguém da Igreja Clandestina.
Os membros do Clero que “não querem fazer parte da igreja estatal são mais perseguidos”. A situação atual é difícil e não será fácil melhorar.
“Lamentavelmente, bastantes membros do clero, por diversos motivos, estão a passar para a igreja estatal. Esta é uma realidade triste e dolorosa.
No seu último relatório sobre a perseguição aos cristãos no mundo, publicado em 2019 a AIS deu conta que “o clero cristão continua sujeito a detenções arbitrárias e os regulamentos de construção são cada vez mais usados como pretexto para a demolição de igrejas”.
Direitos humanos
As autoridades cortaram água e luz da residência do bispo D. Guo, obrigando-o a sair de casa, e encerraram 5 paróquias. A Asia News, que relata o caso, diz tratar-se de “um gesto de pressão e raiva” contra o prelado e os padres que se têm negado a aderir à igreja Patriótica. D. Guo é “vítima” do acordo para a nomeação dos bispos.
Entretanto, a Human Right Watch denunciou a existência de “um sofisticado sistema de censura na Internet” na China que é alarmante nas suas implicações no que diz respeito aos direitos humanos. No início de Janeiro, esta organização acusou o regime de Pequim de “construir um estado de vigilância tecnológica Orwelliano” e um “sofisticado sistema de censura na Internet”, destinado a “silenciar críticos”.
Calcula-se que estão detidos nos chamados campos de reeducação, cerca de 1 milhão de membros da minoria étnica de muçulmanos uigures, na província de Xianjiang. Pequim tem justificado estas medidas extremas de opressão étnica e religiosa com a necessidade de combater o terrorismo.
A repressão das autoridades chinesas tem merecido uma ampla condenação a nível internacional. O Parlamento Europeu denunciou estas situações, mas não teve grandes consequências.
Nossa solidariedade
A perseguição religiosa tem sido forte nos últimos tempos. Tem aumentado, em particular ao cristianismo. Novas e duras leis que entraram em vigor em 2018 impedem crianças e jovens de participarem de encontros de igrejas. O governo comunista chinês tem impulsionado a sua política de remover símbolos cristãos e fechar e/ou destruir igrejas, o que obriga os cristãos, cada vez mais, a viverem a fé na clandestinidade. “O governo quer reduzir o cristianismo a uma atividade menor e sem importância de pessoas idosas”, declarou um parceiro da organização dos Direitos Humanos. Além dos cristãos, também os muçulmanos e outras religiões são perseguidas. Muitos conhecem ameaças, torturas em prisões, em campos de reeducação, e quantos enfrentaram a morte pela fé.
A Igreja perseguida na China precisa de todos nós.