Não há rosas sem espinhos…

D.R.

Por Maria Susana Mexia

A Itália prometia ser “um íman” para os visitantes chineses em 2020, de acordo com a previsão do Conselho Nacional de Turismo (ENIT), a entidade pública que promove o país como destino cultural e turístico. No ano passado os visitantes chineses gastaram mais de 650 milhões de euros (718 milhões de dólares americanos) na Itália, um aumento de 40,8 por cento em relação ao ano anterior. 

Os seus destinos preferidos foram a região norte da Lombardia, cuja capital é Milão, e a região central do Lácio, com capital em Roma. Seguiram-se a Toscana, cuja capital é Florença e a região de Veneto, onde Veneza é a capital.

O Conselho Nacional de Turismo planeava abrir dois novos escritórios no continente chinês: um em Shanghai e outro em Guangzhou, a fim de reforçar o crescente interesse na Itália. Actualmente, possui escritórios em Beijing, Seul, Bangcoc, Mumbai e Tel Aviv, além de Europa e América do Norte e do Sul.

Feiras de Turismo na China, incluindo a Feira Internacional de Viagens de Guangzhou (FIVG) e o Fórum Global de Economia do Turismo (FGET), com a participação de líderes políticos, ministros do turismo, diretores-executivos e especialistas do sector, estavam também previstas nesta linha de intercâmbio cultural e económico.

Há décadas que milhares de trabalhadores chineses têm imigrado para Itália, nomeadamente, para a cidade de Prato, com uma longa tradição na confecção de roupas e têxteis.

Empresas chinesas foram surgindo e expandindo-se, contribuindo para que milhares de italianos perdessem os seus empregos e tivessem sido fechadas cerca de metade das empresas desse sector, desde 2001. 

Importando materiais e tecidos feitos na China a um preço irrisório e considerando que um operário têxtil chinês trabalha sete dias por semana, 18 horas diárias, e ganha aproximadamente 40 euros por dia, este negócio tornou-se demasiado rentável. Em franca ascensão, começaram a fabricar roupas para marcas como Guess e American Eagle Outfitters, Gucci, Prada e outras casas de moda de luxo. 

 Em 2008, algumas fábricas foram inspecionadas e fechadas pelas autoridades, por violação das leis de segurança e do trabalho, mas logo reabriram noutras instalações e com nomes diferentes. 

Em 2013, devido à deflagração de um incêndio, numa dessas fábricas, que fez cinco mortos, as autoridades intensificaram as inspeções e, constataram a grande dificuldade em controlar esta situação, devido à numerosa comunidade chinesa que ali vivia.

Cerca de 50.000 chineses (entre legais e ilegais) vivem e trabalham na região de Prado, na indústria da confeção, produzindo roupas e acessórios, que se diferenciam das feitas na China, exportando-as para muitos países do mundo, ostentado o cobiçado rótulo “Made in Italy”.

A cidade de Prato, tem a segunda maior população de imigrantes chineses, depois de Milão, e a maior concentração da indústria chinesa na Europa.

Pequim não reconhece a dupla cidadania, pelo que o imigrante ao legalizar-se italiano, compromete-se a ficar na Itália. Os empresários chineses, não só importam material e mão-de-obra barata do seu país, como nele investem os seus lucros, não contribuindo como uma mais-valia para a Itália.

 Em Novembro de 2015, o papa Francisco visitou a cidade de Prato, hoje conhecida como “pequena China italiana” e apelou para a situação de exploração e desumanidade com que milhares de operários chineses ali vivem e trabalham. 

“Esta economia mata” e vai matando, uma realidade para a qual já tínhamos sido alertados pelo papa Francisco, não obstante as muitas reacções que surgiram, sempre minimizando ou especulando sobre esta advertência. Mata e destrói a dignidade humana de todos os que são reduzidos a escravos, trabalhando horas a fio, todos os dias, explorados e mal tratados, para enriquecer quem retém os lucros; mata o corpo e a alma, de todos os povos, de todas as nações de forma implacável. 

A obsessão pelo dinheiro, pelo poder, pelo luxo e pelo prazer leva o homem ao endeusamento do material, à idolatria do querer ter mais e mais, numa vertigem de derrotismo por onde passa. 

“Adorar o bezerro de ouro”, esquecendo-se que “tem pés de barro”. É a triste cadência da história que se vai repetindo séculos após séculos, deixando um rasto de morte e sofrimento por toda a humanidade. 

Paradoxalmente, este tempo de quaresma, uma quarentena sob os auspícios mortais duma pandemia universal, poderá ser um período favorável para retornar ao “princípio dos princípios”, pensar na origem do bem e do mal, recordar que o homem é uma criatura e como tal não lhe assiste a liberdade de maltratar, explorar e tornar-se o lobo do seu semelhante.

Por muito mal que aconteça, sabemos que o Bem tem sempre a última palavra, não percamos a Esperança nem a Fé e peçamos a Deus misericórdia para este mundo em contradição, tão carente de valores humanos e espirituais.