Ecumenismo: cristãos unidos no martírio

D.R.

Migrantes e refugiados

1. O ecumenismo é o conjunto de iniciativas e atividades tendentes a favorecer o regresso à unidade dos cristãos. De 18 a 25 de janeiro, celebra-se a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que une milhões de pessoas de várias Igrejas cristãs. O ‘oitavário pela unidade da Igreja’ começou a ser celebrado em 1908, por iniciativa do norte-americano Paul Wattson, presbítero anglicano que mais tarde se converteu ao catolicismo.

A reflexão proposta para as igrejas cristãs de todo o mundo foi preparada pelas comunidades do arquipélago de Malta, a partir do relato bíblico do naufrágio de São Paulo (século I), que o levou até Malta, onde, segundo o livro dos Atos dos Apóstolos, foi tratado com “invulgar humanidade” (At 27,18-28,10). Tema da reflexão: “Demonstraram-nos uma benevolência fora do comum”.

“Hoje, nesses mesmos mares, muitos migrantes estão a fazer jornadas perigosas por terra e por mar para escapar de desastres naturais, guerra e pobreza”.

“Suas vidas também estão expostas a forças “políticas, económicas e humanas” e à indiferença dos que vendem lugares em barcos inadequados para pessoas desesperadas; à indiferença que leva à decisão de não enviar barcos de socorro; a indiferença que faz mandar embora barcos de imigrantes”.

Os cristãos são convidados à “hospitalidade”, testemunhando em conjunto a “amorosa providência de Deus para todas as pessoas”.

O ecumenismo dos mártires 

2. Recordando a Encíclica «Ut unum sint» do Papa João Paulo II, o presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, cardeal Kurt Koch, escreveu o artigo “O ecumenismo dos mártires”, publicado no L’Osservatore Romano. Dele nos servimos porque desenvolve temas interessantes.

João Paulo II publicou sua Encíclica sobre o compromisso ecuménico. O então cardeal Ratzinger, expressando seu apreço, observou que o Papa havia conseguido “com toda a força de sua paixão ecuménica” despertar a urgência da busca pela unidade dos batizados “na consciência da Igreja” (Joseph Ratzinger – Benedetto XVI, La fede rifugio dell’umanità).

Com “Ut unum sint”, o Papa pretendia encorajar os fiéis a acolherem o apelo à unidade dos cristãos lançado com grande força pelo Vaticano II. Trinta anos após a conclusão do Concílio, João Paulo II dirigiu sua particular atenção ao “testemunho corajoso de tantos mártires do nosso século”, incluindo membros de outras Igrejas e Comunidades eclesiais que não estão em plena comunhão com a Igreja Católica. 

O sofrimento cria unidade

3. O Papa recorda o doloroso fato que, no final do segundo milénio e no início do terceiro, a cristandade voltou a ser uma Igreja de mártires, numa medida sem precedentes. Os mártires de hoje são mais numerosos do que aqueles que sofreram as perseguições dos primeiros séculos. 

O martírio faz parte da natureza e da missão da Igreja desde o seu início. Todas as Igrejas e comunidades eclesiais têm seus mártires. Hoje os cristãos são perseguidos por serem cristãos, quer sejam ortodoxos ou católicos, luteranos ou anglicanos. O martírio é ecuménico.

O Papa João Paulo II reconheceu uma unidade fundamental entre nós cristãos e nutre a esperança de que os mártires na glória celeste já vivem numa plena e completa comunhão.  Podemos estar certos de que o sofrimento de tantos cristãos cria uma unidade mais forte do que as diferenças que ainda dividem as Igrejas cristãs e que, no sangue dos mártires, já nos tornamos ‘um’.

A dimensão ecuménica do martírio

4. No passado, e mesmo nos primeiros tempos do cristianismo, somente as testemunhas da fé da Igreja Católica eram reconhecidas como verdadeiros mártires. 

Para os cristãos de várias Igrejas a designação de mártires era reconhecida somente dentro da própria comunidade. Esta visão limitada foi superada pelo Concílio Vaticano II, graças a um renovado olhar para as Igrejas e comunidades eclesiais cristãs que não estão ainda em plena comunhão com a Igreja Católica, mas com as quais “a Igreja se vê unida”. Uma verdadeira união no Espírito Santo”, que deu a alguns a força para chegar até mesmo ao derramamento de sangue “(Lumen gentium, n. 15).

O reconhecimento dos mártires pertencentes a outras Igrejas e comunidades cristãs, foi mais tarde um objetivo particularmente querido ao Papa João Paulo II, na celebração comum realizada no Coliseu no Jubileu do Ano 2000.

Na perseguição comum – especialmente nos campos de concentração nazistas e nos gulags comunistas – os cristãos e as comunidades eclesiais cresceram juntos, descobriram sua comunhão na fé e estreitaram uma amizade ecuménica.

O Papa Bento XVI sublinhou sobretudo a dimensão cristológica do martírio: “a força para enfrentar o martírio” nasce da “profunda e íntima união com Cristo”.

O Papa Francisco tem insistido diversas vezes na importância do ecumenismo dos mártires ou “ecumenismo do sangue”. Ele tem bem claro que os cristãos hoje são perseguidos porque são cristãos”.