Celebra-se hoje – 30 novembro 2019 – o centésimo aniversário da carta apostólica “Maximum Illud” de Bento XV sobre a propagação da fé em todo o mundo (1919-2019).
Na introdução lembra a maior e mais santa das Missões que Jesus confiou aos seus discípulos na hora de voltar para o Pai: “Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura” (Mc 16, 15).
Nunca mais a Igreja deixou de enviar mensageiros da fé cristã a todo o mundo apesar das muitas e “encarniçadas” perseguições que suportaram.
É necessário que o Superior dos missionários seja um homem diligente, prudente e caritativo para com todos. Que seja próximo e amigo de todos os membros do seu Instituto. Animá-los na Missão é sua tarefa. Aos missionários, Bento XV lembra a “excelência e grandeza” da sua vocação. E afirma que “a peste” mais temível para o apostolado seria dedicarem-se aos poderios mundanos como a ganância do lucro, mais do que aos interesses da comunidade. Como diz Paulo a Timóteo: “eu ganhava o que comia com o trabalho das minhas mãos”.
Por isso, antes de começar o seu apostolado, o missionário deve preparar-se com “grande cuidado” (MI, 35). Quanto mais culto se mostrar tanto maior será seu prestígio e sua aceitação. É indispensável antes de mais nada a santidade de vida. O missionário deve ser exemplo de humildade, de obediência, de castidade e de piedade. São Paulo exortava: “Vós, como escolhidos de Deus, santos e amados, revesti-vos de entranhas de misericórdia, de benignidade, de humildade, de modéstia, de paciência” (Col 3, 12).
E não queremos deixar de mencionar as mulheres que desde a primeira hora do cristianismo, sempre colaboraram de maneira excelente e eficaz na difusão do Evangelho” (MI, 45)
Deus “impôs a cada um deveres para com o seu próximo” (Ecl 17, 12). E cita três maneiras de ajudar as Missões: a oração, suprir a escassez de missionários e fomentar cuidadosamente no clero e nos alunos do Seminário, as vocações missionárias.
Para sustentar as Missões requerem-se meios, especialmente perante as “dificuldades que aumentaram depois da guerra, com a destruição de asilos, escolas, hospitais, dispensários e outras instituições de caridade”.
Bento XV apelou à generosidade dos católicos através das Obras Missionárias Pontifícias: Propagação da Fé, Santa Infância e São Pedro Apóstolo, esta para a formação do clero indígena.
E é nosso desejo que se institua em todas as dioceses do mundo a União Missionária do Clero.
Com conclusão faz um apelo a todos os católicos – os missionários na linha da frente e os fiéis na sua pátria – para as muitas feridas provocadas pela guerra. A Igreja fortificada pelo Espírito Santo fará surgir novos missionários.
A Carta apostólica ‘Maximum Illud’ é um catecismo missionário, talvez com muita espiritualidade e sacralidade ou devocionismo. Mas é evangélico.
Se compararmos a dimensão da Missão hoje em Institutos e Congregações específicamente missionários, constatamos uma acentuada decadência pela falta de vocações, como consequência da baixa demográfica, do declínio da religião cristã na Europa, onde é perseguida por muitos. Mas também das comunidades missionárias sem amor fraterno, sem paixão pela Missão, de missionários ‘itinerantes’ ou “estão cá, estão lá”, de superiores incompetentes ou escolhidos sob influência do que Bento XV chamou a “peste dos lucros”. E o povo, sobretudo a juventude, quer ver e sentir a espiritualidade e a alegria do testemunho no rosto do missionário. A Igreja terá hoje muitos “funcionários” e poucos apóstolos.
A encíclica “Redemptoris Missio” do Papa João Paulo II e a dimensão duma Igreja pobre e ao serviço dos pobres e mais vulneráveis da sociedade, como apela insistentemente o papa Francisco entrosam mais profundamente no ser e fazer de Jesus de Nazaré.
De qualquer maneira, Bento XV na ‘Maximum Illud’ deu-nos orientações que são sempre atuais pois ainda não passaram de moda.