Deus e os pobres
Na Bíblia, Deus faz sobressair a sua grandeza, quando Se encontra diante dum pobre. A sua força criadora supera toda a expetativa humana e concretiza-se na «recordação» que Ele tem daquela pessoa concreta (Sl 9, 13). É precisamente esta confiança ‘relacional’, esta certeza de não ser abandonado, que convida o pobre à esperança. O pobre é o homem da confiança. Motivo desta confiança: ele «conhece o seu Senhor» (9, 11) e, na linguagem bíblica, «conhecer» indica uma relação pessoal de afeto e de amor (Mensagem III Domingo Mundial dos Pobres, 3). Este ano é celebrado no domingo, dia 17 de novembro, portanto, amanhã.
Constitui um refrão permanente: Deus é Aquele que «escuta», «intervém», «protege», «defende», «resgata», «salva»… Um pobre nunca encontrará um Deus indiferente ou silencioso perante sua oração.
Podem-se construir muitos muros e obstruir as entradas. Mas o «dia do Senhor», descrito pelos profetas (Am 5, 18; Is 2 – 5) destruirá as barreiras criadas entre países e substituirá a arrogância de poucos com a solidariedade de muitos.
O seu clamor aumenta e abraça a terra inteira. Como escrevia o Padre Primo Mazzolari: «O pobre é um contínuo protesto contra as nossas injustiças; o pobre é um paiol. Se lhe ateias o fogo, o mundo vai pelo ar».
Quem são os pobres
A Palavra de Deus indica que os pobres são todos aqueles que, não tendo o necessário para viver, dependem dos outros. São o oprimido, o humilde, o desprezado, o sem-abrigo, o ‘descartado’ da família e da sociedade.
Jesus não teve medo de Se identificar com cada um deles: «Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25, 40).
O Deus que Jesus revelou é este: um Pai generoso, misericordioso, inexaurível na sua bondade e graça, que dá esperança sobretudo a quantos estão desiludidos e privados de futuro. As bem-aventuranças, com que Jesus inaugurou a pregação do Reino de Deus, começam por esta: «Felizes vós, os pobres» (Lc 6, 20).
Passam os séculos, e aquela bem-aventurança evangélica apresenta-se cada vez mais paradoxal: os pobres são sempre mais pobres. Jesus, colocando no centro os pobres ao inaugurar o seu Reino, Jesus confiou aos seus discípulos, a tarefa de lhe dar seguimento, com a responsabilidade de dar esperança aos pobres. No período que vivemos, é preciso reanimar e restabelecer nos cristãos a confiança. É um programa que a comunidade cristã não pode subestimar. Disso depende a credibilidade do nosso anúncio e do testemunho.
Igreja e os pobres
Ao aproximar-se dos pobres, a Igreja descobre que é um povo, espalhado entre muitas nações, que tem a vocação de fazer com que ninguém se sinta estrangeiro nem excluído, porque a todos envolve num caminho comum de salvação.
A promoção, mesmo social, dos pobres não é um compromisso extrínseco ao anúncio do Evangelho, mas manifesta o realismo da fé cristã e a sua validade histórica. O amor que dá vida à fé em Jesus não permite que os seus discípulos se fechem num individualismo asfixiador, sem qualquer influxo na vida social (Evangelii gaudium, 183).
Tantos missionários gastaram a vida no anúncio do Evangelho e na promoção e defesa dos direitos humanos. Deram amor e devolveram o sorriso a tantas pessoas vulneráveis e frágeis, oferecendo-lhes uma verdadeira «arca» de salvação contra a marginalização e a solidão. Seu testemunho mudou a vida de muitas pessoas e ajudou-as a olhar o mundo e a vida com olhos diferentes, – crianças, idosos e doentes -, nos hospitais, e a juventude nas escolas, desde o Jardim de infância à Universidade. A Igreja ouviu o clamor dos pobres e gerou uma esperança inabalável, com o Papa Francisco que lhes chama “o tesouro da Igreja”.
Os pobres precisam de amor
«A opção pelos últimos, é uma escolha prioritária que os discípulos de Cristo são chamados a abraçar para não trair a credibilidade da Igreja. É nos indefesos que a caridade cristã encontra a sua prova real, porque quem partilha os seus sofrimentos com o amor de Cristo recebe força e dá vigor ao anúncio do Evangelho (7).
Aos muitos voluntários, o Papa exorta-os a procurar, em cada pobre, aquilo de que ele tem verdadeiramente necessidade. Um olhar de amor e uma mão estendida, valem mais do que muitas palavras (EG, 200).
“Por vezes, basta parar, sorrir, escutar. Os pobres não são números. São pessoas a quem devemos encontrar e que esperam uma palavra amiga. No povo de Deus em caminho, palpita a força salvífica que a todos envolve numa verdadeira peregrinação de conversão para reconhecer os pobres e amá-los (DMP, 9).
E Francisco pede aos discípulos de Jesus de Nazaré e a todas as comunidades cristãs que se empenhem para que este III Dia Mundial dos Pobres possa reforçar em muitos a vontade de colaborar concretamente para que ninguém se sinta privado da proximidade e da solidariedade (DMP, 10).
Os pobres precisam do amor de Deus tornado visível por pessoas santas que vivem ao lado deles e que, na simplicidade da sua vida, exprimam a força do amor cristão. Precisam das nossas mãos para se reerguer, dos nossos corações para sentir o calor do afeto, da nossa presença para superar a solidão. Precisam simplesmente de amor… (DMP, 8).