Sínodo Amazónia: defender a «terra» é defender a «vida» 

D.R.

Cuidar da Casa comum é obrigação de todos

Referindo-se aos trabalhos sinodais, o cardeal Carlos Aguiar Retes, arcebispo da Cidade do México, destacou que o Sínodo tem duas dimensões. A primeira diz respeito à Amazónia e seu imenso património natural e cultural. A segunda é global e refere-se a todo o planeta. A Amazónia – disse o purpurado – deve conscientizar-nos de que estamos pondo em risco o equilíbrio da Casa comum. 

No encerramento da 7ª Congregação, alguns auditores apresentaram temas como a delimitação e a proteção dos territórios indígenas, para que não sejam expropriados e depredados em nome das atividades extrativistas minerárias ou por centrais hidroelétricas. A defesa da terra equivale à defesa da vida: os governos locais devem acabar com as injustiças contra os povos nativos, muitas vezes discriminados ou não considerados com uma cultura viva, com costumes, línguas e tradições próprias. Também a comunidade internacional deve intervir concretamente para acabar com os delitos perpetrados contra os nativos da Amazónia, porque esta região não pode ser tratada como mercadoria. O cuidado da casa comum não deve ser objeto de propaganda ou de lucro, mas verdadeira proteção da Criação, distante do “colonialismo” económico, social e cultural que quer modernizar o território impondo modelos de desenvolvimento estranhos às culturas locais. 

Cidadania ecológica

No dia 12 de outubro, a Igreja celebra Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil. Depois de confiar os trabalhos à Mãe, foi aberto espaço aos pronunciamentos de vários padres sinodais e alguns auditores. Entre os temas examinados: a educação integral, instrumento de integração e de promoção dos povos amazónicos, num desenvolvimento sustentável. O serviço dos educadores deve ser orientado na perspetiva da evangelização. É urgente que a educação seja feita de modo a promover o “bem viver”, “o bem conviver” e o “bem agir”.

A Amazónia é uma região rica de diversidade não somente biológica, mas também cultural: hoje, as comunidades que a habitam se veem ameaçadas pela expansão do mundo “civilizado” que se preocupa somente com a exploração dos recursos naturais para capitalizar riqueza. É necessária uma educação integral que restabeleça a conexão entre o homem e o meio ambiente, formando indivíduos capazes de cuidar da casa comum, em nome da solidariedade, da consciência comunitária e da “cidadania ecológica”. 

A ‘Laudato si’ é clara: “enquanto o homem aposta numa homologação forçada, Deus quer uma harmonia de diferenças. A Amazónia representa a unidade na diversidade do seu sistema ecológico e dos povos que a habitam. Razão e apelo para que não prevaleçam injustiças e violências.

A questão das vocações e o papel das mulheres

Refletiu-se sobre o motivo por que falta vocações e a incapacidade da Igreja de despertá-las. Um pronunciamento sugeriu a promoção de experiências locais de ministérios temporários para homens casados, desde que reconhecidos e aprovados pelo ordinário local e pela comunidade eclesial. Outro sugeriu a instituição de uma Comissão pan-amazónica ou regional para a formação de futuros sacerdotes, de modo a ir ao encontro das dificuldades económicas das dioceses e da falta de educadores. 

Voltou a falar-se do papel das mulheres, muito ativas nas comunidades amazónicas e prontas a compartilhar as responsabilidades pastorais com os sacerdotes. Foi pedido que as mulheres sejam equiparadas à mesma dignidade dos homens no âmbito dos ministérios não ordenados, já que muitas religiosas foram e são verdadeiras heroínas da Amazónia pelo nascimento de comunidades. Alguns falaram da experiência da vida consagrada na Amazónia e sobre seu empenho na promoção de vocações indígenas. Em especial, foi reiterado o empenho das consagradas nas regiões de periferia e a versatilidade de sua atuação. Portanto, requer-se um maior reconhecimento e uma maior valorização das mulheres consagradas, para que não caminhem mais “para trás”, mas “ao lado”, na ótica de uma sinodalidade eclesial distante do clericalismo.

O trabalho e o drama do tráfico

Enfrentou-se o tema da interação entre ecologia e trabalho, dois âmbitos que têm em comum, muitas vezes, dinâmicas de exploração. Recordou-se que é necessário promover uma teologia da Criação, de modo a reconstruir uma relação não predatória com a natureza. 

Foi mencionado o desemprego juvenil: a primeira e mais grave forma de exclusão e marginalização da juventude, com situações alarmantes de escravidão no campo ou na cidade. Também é trágico o drama do trabalho infantil. Houve uma reflexão sobre a necessidade de promover os direitos dos trabalhadores, relançando a economia solidária, as bioeconomias locais e a energia renovável, priorizando o bem comum e não o lucro. 

Outro tema abordado foi o tráfico de seres humanos, em todas as suas dramáticas facetas: prostituição, trabalho forçado e tráfico de órgãos. Trata-se de crimes de lesa humanidade, e por isso se impõe um novo imperativo moral, junto a um esforço legislativo internacional para libertar a sociedade desses delitos.