Sínodo Amazónia: Uma Igreja de «presença e escuta» com «rosto indígena»

Foto: Vatican Media

Direitos humanos e migrações 

A defesa dos direitos humanos e o drama da criminalização dos líderes das comunidades e dos movimentos sociais foram temas examinados na manhã de 8 outubro, na 3ª Congregação Geral do Sínodo (CGS). Na Amazónia, o número de mártires neste âmbito é assustador: entre 2003 e 2017 morreram 1.119 indígenas por defenderem seus próprios territórios. 

A Igreja deve defender os que lutam para tutelar suas próprias terras com iniciativas de solidariedade e de promoção da justiça social. Deve levantar a voz contra os projetos que destroem o ambiente. 

A Igreja é chamada a denunciar as distorções de modelos de extrativismo predatório, ilegais e violentos, porque o grito de dor da terra depredada é o mesmo dos povos que a habitam. A defesa das populações nativas foi recordada no “martírio de muitos missionários que deram sua vida defendendo os indígenas”.

O Sínodo refletiu também sobre o tema das migrações, tanto das populações indígenas para as grandes cidades, quanto das populações que atravessam a Amazónia para chegar a outros países. Os fluxos migratórios são uma realidade recente a exigir uma nova frente missionária no sentido inter-eclesial. 

O drama das migrações atinge também a juventude da Amazónia, obrigada a deixar suas cidades de origem por causa de desemprego, violências, tráfico de seres humanos, narcotráfico, prostituição e exploração. 

É necessário que a Igreja reconheça, valorize, sustente e reforce a participação da juventude da Amazônia nos espaços eclesiais, sociais e políticos, porque os jovens são “profetas de esperança”.

A urgência da formação

Perante os numerosos desafios da atualidade – secularismo, indiferença religiosa, proliferação incontrolável de igrejas pentecostais – a Igreja deve consultar e escutar a voz dos leigos. 

É necessário passar de uma “pastoral de visita” a uma “pastoral de presença”, olhando também aos novos carismas que se manifestam nos movimentos de leigos, cujo potencial deve ser reconhecido e aprofundado. Por isso, reiterando que o celibato é um grande dom do Espírito para a Igreja, alguns Padres Sinodais solicitaram que se pensasse na consagração sacerdotal de alguns homens casados, os chamados “viri probati”. Para outros, esta proposta poderia levar o sacerdote a ser um simples funcionário da Missa e não um pastor da comunidade, um mestre de vida cristã, uma presença concreta da proximidade de Cristo.

Diante da urgência de pastores para a evangelização da Amazónia, é necessária maior valorização da vida consagrada, investindo numa forte promoção das vocações autóctones. Para a formação nos ministérios ordenados, foram apontados três níveis: uma formação básica nas paróquias; uma formação intensiva a tempo integral, destinada a animadores e animadoras das comunidades, e uma formação teológica sistemática para os candidatos aos ministérios ordenados e para os homens e as mulheres que desejam comprometer-se nos ministérios leigos. 

O importante – foi destacado – é que a formação dos seminaristas seja reconsiderada e se torne mais próxima da vida das comunidades. Entre as propostas feitas, por fim, também se pensou na possibilidade de uma ordenação diaconal para as mulheres, para valorizar sua vocação eclesial.

Cultura da vida contra a morte

Foi feito um forte apelo para que a Igreja tutele sempre a vida, denunciando as muitas estruturas de morte que a ameaçam. Uma conversão ecológica centralizada na responsabilidade e numa ecologia integral deve colocar no centro a dignidade humana. Conversão esta. que faça perceber a gravidade do pecado contra o meio ambiente como um pecado contra Deus, contra o próximo e as futuras gerações. 

A situação inaceitável da degradação ambiental, na região pan-amazônica, deve ser enfrentada muito a sério por toda a comunidade internacional, indiferente diante do derramamento de sangue inocente. As populações nativas devem ser consideradas como aliadas na luta contra as mudanças climáticas numa ótica sinodal, isto é, caminhando “juntos”, em amizade, que é diálogo: “respeita, protege e cuida”. O futuro da Amazônia está nas nossas mãos. 

A insuficiência numérica dos presbíteros  é um problema não somente amazônico, mas comum a todo o mundo católico. Eis então o apelo a um sério exame de consciência sobre como hoje se vive a vocação sacerdotal. A falta de santidade é um obstáculo ao testemunho evangélico: nem sempre os pastores levam consigo o perfume de Cristo e acabam por afastar as ovelhas que são chamados a guiar.

Foi evidenciado ainda o exemplo luminoso dos mártires da Amazónia. Conversão ecológica é de fato, in primis, conversão à santidade. Esta tem um enorme poder de atração sobre os jovens, para os quais se pede uma pastoral mais dinâmica e mais atenta. É conveniente apresentar testemunhos de bons sacerdotes e não somente os escândalos existentes que, infelizmente, ocupam muitas páginas dos jornais.

Saúde integral da Amazónia

A saúde integral da Amazônia, foi uma das preocupações expostas pelos Padres Sinodais na manhã de 9 de outubro. 

O modelo de desenvolvimento que devora a natureza, com os incêndios, a desflorestação e as plantações ilegais ameaçam tanto a saúde das pessoas quanto a do território e de todo o planeta. As populações indígenas que vivem em isolamento, são mais vulneráveis ao genocídio.

É urgente o diálogo ecumênico e inter-religioso: respeitoso e fecundo, fundamental para a Igreja em saída na região pan-amazônica, caracterizada por um contexto multicultural. A interculturalidade é mais do que um desafio. Desde o Concílio Vaticano II foram pedidos maiores reforços a favor de uma verdadeira inculturação.Também foi apresentado o pedido de muitos seminaristas para uma formação afetiva centralizada na cura das feridas consequentes da revolução sexual. 

Pede-se para passar, de uma pastoral da visita a uma pastoral de presença e de escuta, proclamando a ternura de Deus e promovendo o cuidado da Casa Comum. Os valores cristãos da fraternidade universal, da ecologia integral e dos estilos de vida inspirados no “bom viver” são  resposta às muitas propostas egoístas dos nossos tempos.

E – ficou ressoando –  o apelo do Papa para se formar uma Igreja com rosto indígena.