Eleições:  participação de todos nos atos eleitorais

D.R.

Papa: “revitalizar as nossas democracias»

No início da publicação, intitulada “A afirmação dos Movimentos Populares: a ‘Rerum Novarum do nosso tempo’, o Papa Francisco realça que os movimentos populares que integram e representam os mais carenciados são como “o fermento de uma profunda transformação social”. A obra dedicada aos Movimentos Populares, congrega 5 anos de acompanhamento do trabalho que foi realizado por milhares de associações sociais e cívicas em todo o mundo, após 2014. O Vaticano acolheu em outubro de 2014 um encontro mundial de Movimentos Populares – Justiça e Paz.

No prefácio do referido livro, Francisco salienta que “os Movimentos Populares representam  “um grito” que ressoa das “entranhas” da sociedade; são “uma fonte de energia moral para revitalizar as nossas democracias”, pois “o antídoto para o populismo e para o chauvinismo político está nos esforços da iniciativa cívica organizada”, na primazia do “nós” sobre o “culto do eu”.

“Os Movimentos Populares demonstram que é possível seguir um rumo contra corrente à cultura atual… através da criação de novas formas de trabalho centradas na solidariedade e na comunidade”, afirma o Papa. E no respeito para com o trabalho transformado em “nova escravatura do século XXI”. Ao resistirem à “tirania do dinheiro”, afirmam-se também como importantes “sentinelas” na salvaguarda de um futuro melhor, acrescenta Francisco, que apela a um “novo humanismo” capaz de contrariar a atual falta de compaixão e de cuidado com o bem-comum.

Combater a desigualdade e a corrupção

Falando aos bispos, na Catedral de Andohalo, na sua visita a Madagáscar, o  Papa Francisco disse que a Igreja Católica tem de levantar a sua voz contra “todas as formas de pobreza”, defendendo a intervenção pública da hierarquia. “Ninguém pode exigir-nos que releguemos a religião para a intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocuparmos com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciarmos sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos”, acentuou.

E deixou um apelo: “Temos de combater a desigualdade e a corrupção”. “Sei que carregais no coração a responsabilidade de velar pela dignidade dos vossos irmãos, para construir uma nação cada vez mais solidária e próspera, dotada de instituições sólidas e estáveis”.

Todos os cidadãos na vida democrática 

D. Nuno Brás, bispo do Funchal, apelou à participação dos madeirenses nas próximas eleições, apontando o dever de participação “na escolha” dos que vão governar e indicando que a “vida democrática” reconhece a “mesma dignidade” a todos os cidadãos.

“É a vida democrática, conquista preciosa da nossa civilização, que faz corresponder a cada adulto um voto, o mesmo é dizer: que reconhece a mesma dignidade a todos os cidadãos adultos de um país, quaisquer que eles sejam: que não os diferencia pelo dinheiro que possuem, pelas capacidades que têm ou pela sua notoriedade, mas que a todos iguala pelo facto de serem seres humanos, cidadãos na posse plena das suas capacidades”, afirmou D. Nuno Brás na Festa da padroeira Nossa Senhora do Monte

Com a “aproximação do período eleitoral”, que o responsável afirma ser “sempre decisivo para a vida como sociedade”, disse ser necessária a participação de todos para a escolha dos que “hão-de fazer as leis”, dos que irão “administrar o dinheiro comum proveniente dos impostos” pagos, daqueles que irão “escolher os caminhos a percorrer nestes próximos anos”.

“Havemos de o fazer tendo em conta a dignidade de todo o ser humano e os valores cristãos que, desde sempre, dão forma ao nosso viver madeirense e português”, sublinhou.

Governantes para servir o ‘homem integral’

“Nós, cristãos, temos o direito de lutar por uma sociedade sempre mais plenamente humana; por relações entre pessoas em que todos possam ser respeitados na sua dignidade; por modos de existência que não caiam em soluções fáceis mas que nos tornem profundamente desumanos, a nós e a toda a sociedade: é mais fácil abortar uma criança que cuidar dela; é mais fácil matar, eutanasiar, um doente ou um idoso que cuidar dele, que proporcionar-lhe os cuidados que estão ao nosso alcance para o ajudar e acompanhar nos seus últimos mas preciosos momentos da vida”, esclareceu D. Nuno Brás.

Todas as dimensões da vida são objeto da formação e das preocupações do cristão. Alguém  disse que D. Nuno não tinha “autoridade moral” para falar de política! Confesso que julgava haver mais respeito pelos direitos humanos em Portugal, no que toca à liberdade religiosa! Bispos, padres ou leigos são cidadãos e devem ser responsáveis na organização da “pólis”.