Celebração ecuménica na Sé encerrou viagem da ‘Mala da Partilha’ 

Foto: Duarte Gomes

O bispo do Funchal, D. Nuno Brás, presidiu no passado domingo a uma celebração ecuménica, na Sé do Funchal, que encerrou a viagem pela Diocese do Funchal da ‘Mala da Partilha’, iniciativa que pretendeu chamar a atenção para o fenómeno das migrações.

Na oportunidade o prelado lembrou que nós cristãos, somos “um povo de migrantes”, porque “migrante foi o próprio Senhor Jesus” e porque “a fé faz-nos migrantes, peregrinos de Deus”. É por isso que “cada um de nós se sente estrangeiro nesta terra, porque a nossa pátria não está aqui”. 

A fé, disse ainda D. Nuno, “relativiza todas as fronteiras que os homens constroem porque nos diz, a todos, que somos estrangeiros”. É por isso que não podemos, defendeu, deixar de “perceber e de acolher o estrangeiro que bate à nossa porta, qualquer que ele seja, à procura de uma vida melhor, de melhores condições, de refúgio para si ou para a sua família”.

“Abramos, pois, as portas do nosso coração, as portas do nosso pensamento e as portas da nossa casa àqueles que a elas batem, procurando uma vida melhor”, frisou o prelado que disse ser preciso reconhecer a “riqueza”, pessoal e cultural, daquele que nos bate à porta.

Antes do bispo diocesano falou Eugénia Quaresma, da Obra Católica Portuguesa das Migrações, que recordou o percurso feito pela ‘Mala da Partilha’, que se iniciou na Diocese de Setúbal, passando por Lisboa, Braga, Vila Real, Bragança, Porto, Aveiro, Beja e Funchal, onde “simbolicamente se encerra esta jornada”. O objectivo, lembrou, “foi recolher histórias de vida e cumprir o desígnio do Papa Francisco de promover o encontro”. Ele que nos tem “desafiado a acolher, proteger, promover e integrar migrantes e refugiados”. O encontro entre “instituições da Igreja, entre diferentes confissões religiosas, o encontro entre associações, entre turistas e autóctones”, cumprindo como cristãos, “um mandato maior de estarmos atentos e deixarmo-nos moldar”, vendo no migrante e refugiado “o próprio Cristo que nos fala ao coração” e nos ajuda a realizar o seu sonho de “sermos uma só família humana”, construindo uma sociedade “mais inclusiva e mais fraterna”.

De seguida falou Jorge Gameiro, pastor da Igreja Presbiteriana da Madeira, que se referiu ao Evangelho para sublinhar que o exílio da família e os ditadores de que nele se falava, fazem lembrar tantas situações atuais que “nos assaltam” e que nos fazem perguntar “como tudo nasce”, mas que nos levam a procurar alguma “beleza” nas coisas, mesmo que “não sirva de muito”. Línguas, fronteiras, tons de pele, foram surgindo e acabando com a liberdade dos homens, obrigando-os a pagar o preço de uma “suposta democracia”. Não se é, disse, “estrangeiros apenas na terra dos outros”. Às vezes, “somos obrigados a ser estrangeiros na nossa própria terra”. Perante esta realidade temos, defendeu, de perceber a universalidade do Cristianismo e pensar, de facto no outro como nosso irmão.

Por seu lado Ilse Berardo, da Igreja Luterana, defendeu que temos de usar o amor que existe dentro da nossa alma como contrapeso, transformando o “incómodo” em “dedicação” e “empatia” pelos que chegam, independentemente da sua nacionalidade, cultura ou cor da pele.

“Todos nós somos desejados por Deus e unidos em Deus”, disse a pastora, para logo sublinhar que a premissa da dignidade humana é “intocável” e devia ser “conceito de vida construtivo”, servindo para eliminar o “preconceito, que cresce do medo pelo desconhecido” e que “não deixa ver o ser humano na sua plenitude”, servindo “as forças populistas internacionais”, reduzindo “o estrangeiro e o refugiado a um elemento destrutivo da sociedade”. 

“Chegou a hora da Igreja cristã unir as forças ecuménicas em favor da verdade e em favor da vida”, frisou Ilse Berardo, que pediu depois orações pelas mães que defendem, todos os dias, a vida dos filhos em várias partes do mundo.

Seguiram-se três intervenções de representantes de três comunidades distintas, a angolana, a russa e a venezuelana que deixaram os seus próprios testemunhos. Um momento emotivo, que não deixou ninguém indiferente, desde os fiéis às autoridades que participaram nesta celebração e por fim os normais agradecimentos do presidente da Cáritas Diocesana do Funchal, Duarte Pacheco, a todos quantos colaboraram nesta iniciativa e tornaram possível a viagem da mala pela ilha.

Recorde-se que a ‘Mala da Partilha’ esteve duas semanas entre nós percorrendo várias paróquias, naquela que foi a derradeira etapa da sua viagem em território nacional. Ao longo destes dias foi agregando diversos testemunhos de migrantes que se juntaram aos que já vinham de dioceses do continente. Assim, a mala recebeu mais 10 novos testemunhos, de membros das mais diversas comunidades, que se juntaram aos 58 que já vinham das outras dioceses do país.