Procurar dados que ajudem a tomar decisões resume grande parte da vida humana. Decide-se com ciência quando tudo é evidente, decide-se por sabedoria com incertezas, recorre-se às luzes intuitivas do coração. A evidência quase força a decisão inadiável, sem alternativa é menos livre. Na incerteza de alternativas a decisão é mais livre e responsável. Mas muitas decisões são mistas, científico-heurísticas, de esperança, coração e paixão.
Se na encruzilhada há dois caminhos conhecidos, o caminhante decide um ou outro, à sua responsabilidade. Com ambos desconhecidos, espera acertar num deles, livre e responsavelmente. Pode confiar no parecer de um amigo que os conhece bem e partilhar a responsabilidade. Não se caminha na vida sem decisões motivadas por dados de ciência e experiências de causas e efeitos, pesados e medidos. É assim na higiene, vestuário, alimentação, abrigo, uso de transportes e comunicações. São científicas se tomadas com provas acertadas e verificadas, mas nem sempre é possível pesar e medir todos os dados e alguns podem ser fraudulentos. A maioria das decisões são mistas, sem certezas absolutas. Que curso fazer, para que profissão? Que namoro? Entrar no seminário, convento, casar, ser sacerdote, consagrado(a)? São decisões de procura e discernimento, mais livres e responsáveis. O recurso a pessoas experientes, de confiança e aos dados científicos que fornecem aumenta as probabilidades de acertar, mas isso exige confiança (fé) nelas e responsabilidade.
Valores, gostos, emoções, ilusões, interesses, confiança e desconfiança nas pessoas, fé religiosa e descrença – de tudo dependem as decisões. A responsabilidade pessoal pesará naquele que SE decide, a menos que seja um incapaz. A procura de factos, razões, recurso dos meios e pessoas que ajudem a discernir e tomar as decisões cruciais da vida obriga a usar com reta intenção a inteligência. Ao nível de decisões que abrangem as dimensões de transcendência e fé em Deus há tempos sensíveis de procura social e religiosa, cristã e católica que podem facilitar decisões responsáveis mais esperançosas.
Os tempos litúrgicos da quaresma e da Páscoa contam-se entre os mais densos de motivações para decisões fundamentais acertadas. A pessoa sábia pode recorrer à catequese, oração, catecumenato de adultos, encontro vital com Cristo e as suas propostas. Constituem bases de sabedoria responsável que facilitam o discernimento e decisões abertas e acertadas para a felicidade. Quando se considera toda a abrangência da pessoa: transcendência, vida para além da morte, fé no Deus Pessoal, fé cristã, pedido do batismo e crisma, os conhecimentos históricos e suas várias leituras não levam a decisões científicas mas levam a decisões de sabedoria e fé.
No Evangelho há exemplos e episódios de procura e decisões de fé. O próprio cristianismo católico admite, segundo Jean Guiton e Vittorio Messori, entre muitos outros pensadores, três leituras alternativas das quais só uma pode ser a acertada. A crítica diz que não se sabe o suficiente para decidir; a mítica, que foi tudo inventado; e a da fé diz que os dados históricos são suficientes: Cristo é pessoa histórica e pode-se acreditar e confiar nele como Filho de Deus porque ressuscitou e muitos o viram vivo e muitos mais vivem d’Ele. Para uns Jesus «é realmente o Profeta»; para outros «o Messias». Outros procuram: «poderá o Messias vir da Galileia?». Não «será da linhagem de David e virá de Belém, a cidade de David?». «Nunca ninguém falou como esse homem» (Jo7,40-53). É o Filho de Deus.
Discernir e optar por Cristo, sozinho, por entre centenas de caminhos apresentados nas redes sociais, com mistura de armadilhas «enganadoras do espírito do mundo ou do espírito maligno» (Francisco, Christus Vivit 279), sem ajuda de amigos de confiança é arriscado. Bom é ser ajudado pelo Amigo número Um, o próprio Jesus que nos amou até à morte. Na Semana Santa e na Páscoa a Igreja convida a encontrá-l’O e a perguntar-Lhe qual a decisão da vida a tomar. Será uma decisão acertada se O convidam a continuar juntos como os dois discípulos de Emaús (cf. Lc 24, 13-35 in Francisco, o.c. 292).