
Vocação mais alargada e tardia
No Sínodo dos Bispos foi dito, pelo grupo português, que hoje o termo vocação tem um sentido mais alargado. Antigamente quando se falava de vocação a referência era à vocação sacerdotal ou à vida religiosa. Hoje tudo evoluiu no sentido de nos referirmos a qualquer tipo de vocação o chamamento a uma tarefa definida.
A sociologia nos ensina que o prazo ou tendência para enveredar por uma vocação é protelada para uma idade mais tardia, o que representa uma sobrecarga para os pais, para a família que tem de aguentar com as despesas dos filhos enquanto não se decidem. Deste modo a opção do “jovem” para entrar no Seminário vai sendo adiada até um momento que será decisivo. Para isso é necessário discernimento o que implica ter havido alguém que pelas suas palavras, suas atitudes ou seu comportamento o levou a decidir.
O messianismo da passagem ao século XXI
Antigamente ia-se para o Seminário para seguir as pisadas dum familiar padre ou seduzidos pela “beleza” do sacerdócio ou sua posição na sociedade. E tomava-se, depois de um tempo fechado – um internato rigoroso – uma decisão irrefletida que viria a fracassar perante a realidade. Nas últimas décadas, passámos e estamos passando por tempos diferentes, por uma estagnação da imagem do padre na sociedade. A mística da passagem do milénio trouxe-nos um “progressismo” oposto ou indiferente às religiões. Viveu-se erradamente duma espécie de “messianismo”, que bem depressa se desvaneceu. E muitos valores cederam a pseudovalores que deixaram os jovens “vazios”, indiferentes e arrogantes perante o mais velho.
O pensar de novos e velhos
“Mas, de facto, a juventude, enquanto dura, olha a vida na perspetiva das dezenas de anos que tem para viver, o futuro; o velho olha-a em função do escasso tempo que lhe resta. O minuto do velho é uma fração ínfima do seu tempo vivido; no jovem, o instante presente é pequeníssima parte do tempo por-vir. O viver humano é a consciência do tempo. O velho e o jovem vêem-se como estranhos e os diversos tamanhos dos seus tempos tornam-nos espécies estranhas. (Konrad Lorenz)
Também na Igreja apareceu uma geração incrédula e imbuída desta teoria. Era e é preciso renascer.
O voluntariado em Portugal
O voluntariado missionário ou outra qualquer espécie de voluntariado veio despertar e dar nova vida à juventude. Na descoberta do outro quer idoso, quer doente num hospital, quer sofrendo na sua casa, quer vivendo em países do terceiro mundo ajudando na educação, na saúde, na agricultura, na construção. Portugal foi reconhecido, este ano, na assembleia do Conselho dos Bispos Europeus como um dos países mais virados para o voluntariado. E é frequente encontrar abundância de voluntários para as mais variadas tarefas. O nosso povo é bom e no fundo tem sentimentos alimentados pela seiva cristã.
Uma experiência renovadora
O seminário interdiocesano de São José, em Braga, tem atualmente 18 jovens – sete de Bragança-Miranda, dois da Guarda, quatro de Lamego e cinco de Viseu – que são acompanhados por uma psicóloga, num espaço onde os futuros padres têm formação em áreas como a culinária e boas maneiras.
Ana Rita Fernandes, psicóloga que integra a equipa educativa do seminário, defende que a presença da psicologia na formação dos jovens é uma mais valia para eles.
“O meu trabalho assenta no que a Nova Ratio defende, o seminarista deve conhecer-se a si próprio e aos outros, e o psicólogo trabalha na base científica, desenvolvo o trabalho em grupo para conhecer a personalidade e depois o heteroconhecimento, esclarece a psicóloga de 26 anos.
O padre António Magalhães olha para este seminário como “uma comunhão entre igrejas locais”, o que se torna um “verdadeiro desafio”. “As vocações nascem na comunidade e têm sempre como meta a comunidade, neste sentido o estudar fora, noutra cidade, é um processo natural para os nossos tempos”, refere o reitor.
Conviver com todas as idades
Consideramos necessário que os jovens saibam conviver com todas as idades e com o género feminino e também masculino, é importante saber estar junto de uma jovem senhora ou uma anciã… tem de haver esse equilíbrio”, destaca o reitor. Com crianças, adolescentes, jovens e idosos.
“Os futuros padres têm de desenvolver um relacionamento salutar com todas as classes sociais e têm de saber estar com todos, mesmo com os mais pobres”, conclui.
A equipa formadora consta, além do reitor, consta de um padre de cada diocese, vários leigos. A jovem psicóloga aponta ainda que a sua formação cristã é “preponderante” para o exercício da sua profissão e acredita que daquele seminário irão sair “melhores homens e, com certeza, melhores padres”.
A experiência no seminário interdiocesano de São José está com uma avaliação positiva. Não faltarão outras experiências.