Apostar na cultura da solidariedade e na esperança

Foto: CCEE

Conselho das Conferências Episcopais da Europa

Os bispos europeus reuniram-se em Poznań, na Polónia, de 13 a 16 de setembro, no âmbito da Assembleia plenária anual do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE). O Papa Francisco apelou para a necessidade de “darem impulso à missão da Igreja, especialmente em favor dos jovens, e de encontrarem “novos caminhos” de solidariedade, “identificando percursos de fraterna colaboração pastoral, no sulco dos valores espirituais, que forjaram o pensamento, a arte e a cultura da Europa.” Sem a fé cristã não haverá unidade no continente europeu.

O encontro, com a participação dos presidentes de todas as Conferências episcopais europeias – de 45 países do continente –, teve como tema central “o espírito de solidariedade na Europa.” Refletiram sobre a solidariedade na formação das consciências e da sociedade, e aprofundaram o estado da solidariedade na Europa e a missão da Igreja, examinando as relações entre as Conferências episcopais e os Estados.

Voluntariado da Igreja Católica

Os bispos examinaram as relações entre as Conferências Episcopais  e os Estados.

Uma das manifestações da vitalidade da Igreja católica na UE, é a média de voluntários na população com mais de 15 anos. Portugal é dos países que mais aposta no voluntariado. O ‘Pew Research Center’ promoveu uma sondagem em 15 países, entre abril e agosto de 2015, em que mostra que Portugal é a nação onde mais pessoas participam em atividades de organizações religiosas.

O CCEE afirma que “não existe nenhuma outra instituição na Europa que contribua de forma tão ampla para o voluntariado e promova formas de voluntariado tão diversificadas como a Igreja Católica”. “As organizações religiosas representam o terceiro setor mais importante do voluntariado na Europa, depois do desporto e da educação. As crenças religiosas são essenciais para motivar o voluntariado”, assinalam os bispos católicos.

O CCEE elogia a importância do voluntariado para o diálogo entre pessoas de várias convicções religiosas.

Os abusos sexuais

O Papa Francisco defendeu, no encontro em Dublin, na Irlanda, com um grupo de jesuítas a necessidade de “denunciar” eventuais casos de abusos sexuais na Igreja Católica, conforme divulgou a revista ‘Civiltà Cattolica’: “Temos de denunciar os casos de que temos conhecimento. O abuso sexual é consequência do abuso de poder e de consciência”, declarou o pontífice. E advertiu: “é necessário “procurar remédio, reparação, tudo o que é necessário para curar as feridas e voltar a dar vida às pessoas”. “Percebi uma coisa com grande clareza: este drama dos abusos sexuais, especialmente quando tem grandes proporções e provoca grande escândalo – como nos casos do Chile, da Irlanda ou dos Estados Unidos – tem por trás situações de Igreja marcadas por elitismo e clericalismo”.

 O vice-presidente do CCEE, cardeal Vincent Nichols, dedicou a homilia às vítimas dos abusos sexuais, pedindo que estas vozes “sejam ouvidas”. “Abramos os nossos corações não só à voz alegre dos fiéis mas também à raiva sofrida dos que querem que os ouçamos”.

Mensagem de solidariedade ao Papa Francisco

No início do encontro, o presidente do CCEE, cardeal Angelo Bagnasco, anunciou que a assembleia iria enviar ao Papa uma mensagem de solidariedade, mediante os ataques que tem sofrido. O prefeito da Congregação para os Bispos (Santa Sé), cardeal Ouellet, apelou à união de toda a Igreja para superar a crise provocada pelos casos de abusos sexuais e deixou críticas aos “ataques” contra o Papa, considerando-os “uma ofensa muito séria” e “injusta”. 

O Papa convocou os presidentes de todas as CEs do mundo para um encontro no Vaticano, de 21 a 24 de fevereiro de 2019, dedicado ao tema da proteção dos menores.

O cardeal-patriarca de Lisboa. D. Manuel Clemente, disse à ECCLESIA, que os episcopados católicos da Europa estão “completamente” do lado do Papa Francisco para combater o problema dos abusos sexuais na Igreja católica.

D. George Pontier, presidente da CEF, comentou a convocatória do Pontífice. “Estamos profundamente tocados pelo drama das vítimas”. 

D. Charles Scicluna, Arcebispo de Malta, afirmou que a iniciativa de Francisco “é um sinal muito forte de compromisso na defesa da dignidade e da tutela dos menores na Igreja.” 

Apostar na cultura da solidariedade e na esperança

O presidente do CCEE, cardeal Angelo Bagnasco, defendeu uma nova cultura de solidariedade no continente, capaz de superar o individualismo e os nacionalismos. O cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos (Santa Sé), afirmou que “a solidariedade é um valor cristão fundamental”, sublinhando a importância do “testemunho de fraternidade” através do voluntariado, que ajuda a criar uma “cultura global de ajuda recíproca, de acolhimento”. O padre Duarte da Cunha, sacerdote português que deixa o cargo de secretário-geral do CCEE, após 10 anos de serviço, deu seu testemunho: “Neste tempo vi uma sociedade muito secularizada, onde se vive como se Deus não existisse. Isso em toda a Europa ”.

Vi também “uma grande tensão entre o leste e o oeste”, com uma certa “aversão” ao ateísmo por parte de quem viveu sob regimes comunistas, no último século.

E disse: “a coisa que mais levo para casa, ao voltar para Portugal, é verificar que há uma vida eclesial forte, espalhada por toda a Europa, mesmo que hoje já não seja maioria – na maior parte dos países,  mas é viva, forte e dá esperança”, referiu.