Bispo do Funchal exorta cristãos a vencer a indiferença

“Damos graças a Deus por tudo o que é bem que se faz e ao mesmo tempo pedimos que nos ajude a abrir mais os nossos corações em caminhos de generosidade”, disse ontem D. António Carrilho na Solenidade de Cristo Rei.

No dia litúrgico próprio, o Conselho Central do Funchal da Sociedade de São Vicente de Paulo voltou a organizar, em colaboração com a Conferência Vicentina de Santo Antão e com a Paróquia do Caniço, a peregrinação ao monumento a Cristo Rei, situado no Garajau.

Este ano a caminhada e a própria celebração eucarística, presidida pelo bispo do Funchal, e concelebrada por vários sacerdotes, coincidiu com as comemorações do 90º aniversário da inauguração daquele monumento.

No início da Eucaristia, D. António saudou os inúmeros peregrinos, vindos das mais diversas paróquias da Diocese, “com muita alegria, muita fé e muita esperança”. Sob um céu que ameaçava “desabar” qualquer instante – estava prevista chuva para a tarde de ontem – a verdade é que a missa foi celebrada sem que caísse uma única gota de água, minimizando o “espírito de sacrifício” dos que ali se encontravam, com o intuito, como disse o prelado, de “avivar a fé” e de “abrir os caminhos da esperança e da felicidade”.

Na homilia, o bispo do Funchal começou por agradecer a todos quantos estiveram, uma vez mais, envolvidos na preparação desta celebração e no acolhimento dado a todos quantos a ela se associaram. Depois de referir que esta era uma oportunidade de “trazer para o
altar o nosso trabalho quotidiano junto daqueles a quem procuramos dar apoio e assistência”, o prelado lembrou que existiam duas formas de o fazer: “em louvor, em ação de graças por aquilo que vamos conseguindo realizar, apesar das dificuldades, junto dos que estão mais próximos de nós ou de quem os aproximamos, mas também em súplica e compromisso”.

Depois de fazer referência ao facto de já se terem realizado mais de 20 peregrinações e de se assinalarem os 90 anos da inauguração do monumento ao Sagrado Coração de Jesus, que por ter sido inaugurado em dia de Cristo Rei ficou assim conhecido, D. António disse que nas leituras proclamadas falava-se de um Rei, que “nada tem a ver com os reis da terra”. Esse Rei era antes, “um bom pastor”. Aquele que trata “do seu rebanho”, que “procura a ovelha perdida”, alguém que “trata o que precisa de ser tratado”, “alguém que dá atenção a qualquer carência, porque olha, vê e ama” e “porque ama cuida” e é capaz de “dar a vida por quem precisa”.

Aludindo ao coração saliente do Monumento do Cristo Rei, referiu que esse coração “significa que o bom pastor, o Cristo Rei, governa através do amor, do dar a vida, do servir aqueles que mais precisam de ajuda”. Além disso, “este monumento apresenta-nos o Cristo de braços abertos, num abraço universal”, que é “refúgio” para os que estão “cansados e sobrecarregados”.

No Evangelho, “Cristo amigo de todos” convida-nos, através de uma parábola, “a olhar cada um para o seu lado, para o seu irmão”, para as “suas necessidades básicas”, mas “sem esquecer também aquilo que é a proposta fundamental e espiritual para a nossa felicidade”. E quem consegue identificar as necessidades e ajudar, está a fazê-lo a Jesus Cristo: “O que fizeres ao mais pequeno dos meus irmãos é a mim que o fazeis”. E aqui reside, sublinhou, o alerta desta tarde: “Damos graças a Deus por tudo o que é bem que se faz e, ao mesmo tempo, pedimos que nos ajude a abrir mais os nossos corações em caminhos de generosidade” e a realizar, “em cada tempo e cada lugar”, estes projetos de bem e de amor, na sociedade e no mundo.

A propósito, e citando o Papa Francisco, D. António Carrilho disse que “o pior disto tudo é a indiferença”. É “quando se olha não se vê, não se dá conta”. Muita gente, “anda distraída do muito que recebe e do muito que pode dar, sem serviço fraterno”, e não apenas do ponto de vista material.

É por isso importante recordar este apelo para “superar, vencer a indiferença”, para que o Reino de Deus venha e “nós tenhamos uma parte viva e ativa na implantação deste reino, através do amor caridade, através do serviço fraterno, através do sentido não só da solidariedade humana, mas do espírito profundo da nossa fraternidade”. Sejamos, pois, “testemunho de fé e do Amor caridade, para que muitos daqueles que não acreditam possam acreditar”, apelou.
No final da Eucaristia, todos os que nela participaram foram convidados a cantar os parabéns ao Cristo Rei, pelos seus 90 anos.