«Morreram e ninguém lhes disse»

Opinião

A propósito das recentes críticas sobre algumas afirmações do Papa Francisco que foram assinadas por cerca de 60 “doutores da lei” fora os que pensam da mesma forma mas não tiveram ocasião de manifestar-se, chegou às nossas mãos, enviado pela “Fraternitas Portuguesa”, um artigo que tem por autor o Pe. António Teixeira, com o título em epígrafe: “Morreram e ninguém lhes disse”.

Estou entre as pessoas que admiram a coragem do Papa Francisco, a sua forma de dizer as verdades, o impulso que tem dado à renovação da mesma Cúria Romana, nomeando novos responsáveis, insistindo continuamente na missão autêntica de anunciar a Cristo, nas “periferias”, estar sempre “em saída”, e os conselhos dados pessoal e diretamente aos Cardeais, aos Bispos e sacerdotes, insistindo na sua missão de pastores e nunca de “Príncipes”. É bastante notória a preocupação do Papa pelos pobres, refugiados, desempregados, vítimas do tráfico humano, e da ação pastoral que deve a Igreja exercer nestas ocasiões, inclusive junto dos divorciados, dos recasados, dos que, muitas vezes por causas alheias, se vêm privados da vivência do amor.

Constata o Pe. António Teixeira, no seu artigo, que “São recorrentes as críticas ao Papa Francisco. Sobremaneira do seio da Igreja, que se sente “ameaçada” pelas palavras, desafios e gestos com “sabor” a Evangelho!”

E acrescenta o sacerdote: “Para muitos, o Papa, era intocável, inquestionável, inviolável! Mas pelos vistos desde que os Pontífices dissessem e fizessem aquilo que gostavam de ver e de ouvir!”. Agora tudo questionam! De tudo apelidam Francisco! Tudo discutem e colocam em questão! Eminências “pardas” colocam dúvidas! “Doutos” teólogos, pastores, leigos, fazem manifestos e buscam assinaturas e seguidores para “provarem” as heresias do Papa!”

O articulista menciona as diversas vidas para que “morreram já e ninguém lhes disse!”.

“Morreram para a “verdadeira liberdade” ao dogmatizarem opiniões e verdades pessoais, em detrimento da comunhão e da unidade da Igreja. Ficaram presos a “esquemas” teológicos, moralistas, jurídicos, que apenas agrilhoam consciências, corações, vidas…”

“Morreram para a humildade! Quando se arvoram em senhores, sábios, doutores, de tudo e acima de todos – inclusive e sobretudo do Papa – esquecem a mais nobre das virtudes e coabitam na órbita dos seus umbigos religiosos, espiritualistas, sobranceiros e presunçosos!”

“Morreram para a caridade! Debruçados que estão sobre as normas e as regras, as suas conveniências espiritualizantes e os seus “saberes” únicos e definitivos, facilmente caiem na ofensa, na maledicência, na calúnia e na difamação. Em nome da caridade não o será certamente!”

“Morreram para a ternura e a misericórdia! De olhos fixos e imutáveis sobre “doutrinas” e “tradições” que demasiadas vezes esquecem o coração e a vida concreta, decidem quem está na posse da verdade, quem pode – ou não – receber a Eucaristia, quem professa o verdadeiro credo ou é apóstata ou herege! Vale tudo para essas “inteligências” iluminadas e esses “cristãos” envernizados!”

“Morreram para o serviço e a simplicidade! Obcecados que estão nas suas “verdades”, afincos que vivem nos seus “estudos teológico-espiritualistas”, já não conseguem entender que Evangelho e Reino de Deus são sinónimo de serviço, de lava-pés, de mandamento novo, de caridade fraterna!”

E acrescenta o padre Teixeira: “Sim, prefiro uma “Igreja acidentada”, “suja”, com “cheiro a ovelhas”, que grupetas de pseudointelectuais com odor a naftalina! Uma Igreja que caminha ao lado dos homens – de todos os homens – sem medo nem vergonha de dar a mão e o coração a quem caiu nas estradas da vida, sussurrando-lhes que Deus é amor, perdão, abraço, misericórdia.

Uma Igreja que vive, ferida, “hospital de campanha”, mais imensamente, mais que um conjunto de gente que já morreu e ninguém lhes disse!

Prefiro ser mais uma Igreja que se debruça diante dos irmãos caídos que ficar especado e “estupefacto” porque o Papa não responde a “dúvidas”, a “provocações”, a “mundanidades” pintadas de religioso e de sagrado.”

A terminar os seus comentários, o Pe. Teixeira verifica que o “Santo Padre, com cada gesto, com cada palavra, com cada atitude, com cada abraço, já respondeu a estes novos farisaísmos que grassam no coração da Igreja que guia, ensina e encaminha para o Céu.”