Estamos em plena campanha eleitoral. No próximo domingo, 1 de outubro, vamos às urnas, escolher os homens que devem reger os destinos das nossas Autarquias e os Poderes-Serviços locais, durante os próximos quatro anos.
A campanha está em pleno e em chama intensa. Os media esgotam os seus espaços com notícias, debates, mensagens, discursos, opiniões, programas governamentais, comunicados, reportagens e, alguns, lamentavelmente, passando da proposta dum programa ao plano pessoal da inveja, da intriga e da mentira.
Por todo o lado abundam cartazes, a dois, unipessoais ou em grupo, com os rostos sorridentes e satisfeitos, de forma a convencer que são os melhores, que têm nas mãos a solução cabal de toda a nossa problemática pessoal e comunitária.
Temos ouvido defesa acérrima de programações anteriores, até de justificações para taxas que outros dizem ilegais e inconstitucionais. Por vezes ficamos com a impressão de que estamos no país das taxas. Basta uma simples leitura das faturas da luz elétrica e da água, cujo valor das taxas é de cerca de 60% do valor do consumo real. Uns defendem com unhas e dentes, mas outros condenam absolutamente. Mas continuamos a pagar todos os meses, até uma taxa ou contribuição audiovisual, de que nada beneficiamos. Somos forçados a contratar empresas da especialidade, se quisermos que esses sons e imagens penetrem no nosso domicílio.
Ainda faltam oito dias de bombardeio intenso, que chegam aos nossos sentidos, vindos de todos os quadrantes, cada qual utilizando os meios mais díspares, para conquistar o nosso voto.
Onde fica a liberdade humana de escolher, de selecionar, ante tanta propaganda? Será que no próximo domingo, estamos todos livremente aptos para exercer o sagrado direito de votar? Votar em quem? Naqueles que fazem mais barulho? Naqueles que mais gritam? Naqueles que mais folhetos e cartazes espalham por toda a parte? Naqueles que mais mentiras propagam? Naqueles que aparecem ou falam nos adros das igrejas, entram pelas caixas privadas do nosso correio e que nunca vimos em parte alguma do mundo? Naqueles cujo fim é ganhar, ou naqueles cujo objectivo é servir a comunidade? Onde está o melhor candidato para prestar o melhor serviço público que todos nós esperamos? Podemos acreditar na propaganda eleitoral?
Os cristãos e os católicos não podem ficar indiferentes, nem muito menos cair na tentação de ficar em casa. Não basta ser amigo ou simpatizar com fulano ou beltrano. O objectivo primário em vista, a finalidade última da votação, não é levar à governação pessoas simpáticas, pessoas experimentadas na arte da dramática, na arte da eloquência ou da gritaria, ou da negação dos seus próprios princípios. O fim último é eleger pessoas capazes de gerir o bem público, de garantir a presença dos valores evangélicos nas leis e nas estruturas dos Poderes, de proporcionar o máximo desenvolvimento possível, para que a pessoa humana possa viver cabalmente a sua dignidade. E quanto maior for a qualidade de vida, maior será a possibilidade de vivenciar a dignidade humana.
Lembram os bispos portugueses, que essa presença evangélica «depende, em grande parte, do empenhamento político dos cristãos» E recorda-nos a clareza do Concílio Vaticano II a este respeito: «Todos os cristãos devem ter consciência do papel próprio que lhes cabe na comunidade política. Devem dar o exemplo, desenvolvendo o sentido de responsabilidade, de dedicação ao bem comum. Mostrarão assim, pelos factos, como se pode harmonizar a autoridade com a liberdade, a iniciativa pessoal com a solidariedade e as exigências de todo o corpo social, as vantagens da unidade com as diversidades profundas».
De forma que, no próximo domingo, vamos todos eleger aqueles que, na nossa consciência, pesados todos os argumentos a favor e em contra, nos dão melhores garantias de trabalharem no sentido humano, cristão e católico da vida.