Por Cardeal Juan José Omella
Arcebispo de Barcelona
26.08.2017
Dizem que um alpinista, desesperado para conquistar o Aconcagua (maior montanha fora da Ásia), começou sua jornada depois de anos de preparação. Mas queria a glória só para si, então subiu sem companheiros.
Começou a sua escalada e, embora estivesse a ficar tarde e sem acampamento, decidiu seguir o seu caminho decidido a chegar ao topo. Escureceu. A noite caiu com peso. Tudo era negro, sem visibilidade; não havia lua e as estrelas estavam cobertas por nuvens.
Escalando num penhasco, a apenas 100 metros do topo, escorregou e caiu pelo ar. Caiu a uma velocidade vertiginosa. Apenas via rápidas manchas escuras que passavam na mesma escuridão. Tinha a terrível sensação de ser sugado pela força da gravidade.
Continuou a cair. Nestes momentos de angustia, passaram pela sua mente todas as suas boas e menos boas memórias. De repente, sentiu um puxão tão forte que quase o dividiu em dois … Sim! Como todo alpinista experiente, havia cravado estacas de segurança com fechaduras a uma longa corda que o segurava pela cintura. Nesses momentos de quietude, suspenso no ar, não lhe restava senão gritar: “Ajuda-me, meu Deus”!
De repente, uma voz grave e profunda respondeu:
“Que queres que eu faça, meu filho?”
“Salva-me, meu Deus.”
“Realmente acreditas que eu te posso salvar?”
“Claro, Senhor.”
“Então corta a corda que te segura…”
Houve um momento de silêncio e quietude. O homem pensou e agarrou-se mais à corda.
Dias mais tarde, contam que a equipa de resgate encontrou pendurado um alpinista congelado, morto, agarrado com força, com as duas mãos a uma corda … Apenas a dois metros do chão.
Que história tão impressionante. Impressionante e reveladora. Confiar em Deus é abandonar-se totalmente nas suas mãos. Mas, ainda que o saibamos, quando chega a hora queremos ter alguma garantia de que tudo vai ficar bem. Jesus abandonou-se nas mãos do Pai antes de morrer na cruz, mas ressuscitou três dias depois e é o Senhor da Vida.
Quando parece que tudo fica escuro ou vem contra nós, quando parece que começamos a perder a paz, convido-vos a rezar com a bela oração do Padre Carlos de Foucauld, que começa dizendo: “Meu Pai, eu me abandono a Ti, faz de mim o que quiseres, seja o que for … eu dou-te graças”. Espero que façamos nossa esta invocação e, pouco a pouco, o Senhor nos invada com a sua paz e confiança.