Uma das passagens mais revolucionárias dos evangelhos é aquela em que apresentam a Jesus uma adúltera, apanhada em flagrante (Jo 8).
Interrogado sobre o que fazer, Jesus ficou em silêncio — um silêncio que deve ter perturbado (e bem) os que já tinham tudo decidido: “Na Lei, Moisés manda apedrejar”. E Jesus continuou em silêncio. Deveria ter sido insuportável: os segundos deveriam ter parecido horas. Depois de muita insistência, Jesus disse: “O que estiver sem pecado, atire a primeira pedra”. E calou de novo. Tudo começou, finalmente, a fazer sentido no coração dos presentes. Diz o evangelista que foram saindo, a começar pelos mais velhos. Reconheciam—se culpados, não daquele mas de outros pecados. Então Jesus diz à pecadora: “Ninguém te condenou? Também eu não te condeno. Vai e não voltes a pecar”.
Esta passagem é revolucionária porque faz uma distinção essencial e que marcou progressivamente a nossa civilização: a distinção entre pecado e pecador. Jesus condena o pecado, mas salva o pecador! Ao contrário, no nosso mundo contemporâneo, parece que já não existe pecado: “tudo é relativo”, “o que hoje é mal, amanhã já não é”; “cada um sabe de si”… Mas o pecador, esse há que condenar! E dificilmente alguém se consegue reerguer. Condenado por todos, apedrejado nas redes sociais, olhado de lado pelos que passam, que lhe resta?
Nós, cristãos, precisamos de voltar a ensinar o Evangelho a este nosso mundo: o pecado existe e é algo de condenável. Ao contrário, como gosta de dizer o Papa Francisco, “não há santo sem passado, nem pecador sem futuro”!